quinta-feira, 30 de junho de 2011

Entrevista: Dave McKean

Sinal e Ruído foi lançado pela primeira vez como graphic novel em 92, há quase 20 anos. Ainda assim, tanto história quanto arte não parecem ter envelhecido. Era um trabalho a frente de seu tempo?
Não sei. Foi com certeza parte de um grupo de trabalhos feitos por pessoas, especialmente na Inglaterra, tentando distanciar os quadrinhos da temática exclusiva de super-heróis e histórias de aventuras. Tentávamos construir um corpo de trabalho que não remetesse à juventude nostálgica do leitor, mas que fosse um pouco mais madura. E só nos últimos anos uma nova onda de autores, jovens roteiristas e desenhistas sem interesse nenhum pelos super-heróis da Marvel e da DC e coisas do tipo apareceu e começou a criar este tipo de quadrinho. Então, mesmo com seus 20 anos, Sinal e Ruído se encaixa bem nessa nova onda de obras que agora se tornaram meio que a vanguarda da arte sequencial.

Então você acha que essa tendências dos anos 90 está voltando? Os quadrinhos pintados...
Não é tanto por uma questão da pintura, é a ideia de fazer quadrinhos que se encaixem e tenham ligação com uma ficção mais geral, com romances publicados no momento, com filmes mainstream - não filmes de gênero. De tentar fazer quadrinhos que sejam mesmo para um público adulto. Não para crianças e não exclusivamente voltada para a ficção científica e fantasia.

Na história, o personagem principal diz: "Faço desenhos e pinturas de vez em quando, mas o cinema é uma obsessão". Você considera alguma de atividades artísticas uma obsessão?
Os quadrinhos foram meu primeiro amor, por isso acho que nunca vou parar de fazê-los. Experimento uma porção de outras mídias e ainda gosto de pular de lá pra cá, fazer outras coisas, mas acho que sempre vou acabar voltando. Há algo de muito, muito poderoso no fato de que posso fazê-los sozinho. Não preciso de uma equipe enorme, de um monte de pessoas do meu lado, não preciso de um orçamento muito grande. Só preciso de uma ideia, papel e lápis. E a mídia em si, por ser tão privada, fala com o leitor em particular e faz com que ele ouça as vozes dos personagens em sua cabeça. Há algo realmente poderoso nisso.

No prefácio você diz que a melhor versão de Sinal e Ruído é a radiofônica, gravada pela BBC.
Ao menos por enquanto! É uma história para a qual estamos sempre voltando - ao menos eu volto. Assim, a cada versão ela parece ficar melhor. Acho que eu e Neil [Gaiman] éramos ainda muito jovens quando fizemos Sinal e Ruído, quando a história foi publicada em capítulos na revista The Face. E não sei se entendíamos exatamente sobre o que estávamos escrevendo. Por isso acho que a versão em áudio é melhor. Além disso, ela lida com o aspecto do ruído na vida, porque pudemos usar sons e barulhos propriamente ditos. Se um dia houver uma versão definitiva, será em filme. Já escrevi dez tratamentos do roteiro tentando realizá-lo. Creio que assim conseguiríamos realmente lidar com as ideias contidas na história do melhor modo possível. E ainda posso acabar voltando e fazendo uma outra versão em quadrinhos. Mas há vinte anos certamente não acredito que éramos maduros o bastante para lidar com o tema. Agora temos uma chance muito melhor de acertar.

Então, é uma obra que vai estar sempre em construção.
Acho que sim. É uma ideia para uma história. A questão básica e central do álbum é: "O que você vai fazer no tempo que resta de sua vida?". Todos um dia precisam pensar nisso. E a maioria das pessoas não pensa em um prazo final em particular e talvez por isso não pense nisso como uma questão urgente. Mas se você descobre que lhe resta apenas um certo tempo de vida, ou conforme vai ficando mais velho, você certamente começa a sentir este fim se aproximando. E aí a questão de o que você faz todos os dias, o que é importante e o que é irrelevante, o que você deveria estar fazendo e o que você vem fazendo por razões estúpidas ou sem importância, se torna realmente importante. Assim, acho que vamos sempre voltar para esta questão. Mesmo que eu não continue a explorá-la dentro da ideia de Sinal e Ruído, que é o diretor de filmes escrevendo sua última história, acho que seu ponto central vai acabar se infiltrando de alguma forma em outros de meus trabalhos.

Desde o início, seu estilo sempre foi muito particular. Quais artistas o influenciaram na época e quais são suas influências hoje?
Muitos pintores, mas não só pintores. Sir Francis Bacon, por exemplo. Há alguns poucos desenhistas de quadrinhos que eu gostava muito. Quando eu estava estudando artes, Bill Sienkwicz era um deles. Gostava de tudo o que ele fazia na época, mas o interessante é ele sofria influências de pessoas que eu realmente gostava. Ilustradores como Ralph Steadman e pintores como Gustav Klimt, você sabe, alguns dos artistas da pop art. Mas hoje sou influenciado por tudo e todos, mesmo. Não acho que exista uma pessoa em particular que eu possa apontar como uma influência principal. Espero que todas as coisas que eu vi e pessoas cujo trabalho apreciei tenham se mesclado na minha corrente sanguínea ao ponto de não ser mais possível isolar uma única fonte. Virou simplesmente meu estilo. A pessoa mais significativa para mim nos últimos anos foi o quadrinhista italiano Lorenzo Mattotti. Sua obra me ensinou muitas coisas sobre composição, cor e a ligação muito, muito maravilhosa entre a narrativa expressiva, os quadrinhos e as marcas que ele deixa na página. Para mim é o melhor atualmente.

Alguns especialistas dividem os quadrinhos em três ramificações de estilo: o europeu, os comics norte-americanos e o mangá. Mas os autores britânicos não parecem se enquadrar em nada disso. Por quê?
Bem, não temos uma indústria de quadrinhos forte, uma identidade. Os Estados Unidos já tinham, começando com as histórias de animais falantes e então super-heróis, ambos tipicamente americanos. O mangá é obviamente japonês em seu estilo. Na França, toda a energia que a Inglaterra empregou na música pop nos anos 60 foi usada nos quadrinhos. Por isso a música pop francesa é horrível e os quadrinhos deles são incríveis. Na verdade, os roteiros e desenhos franceses são bem comuns, mas os tipos de histórias que eles são capazes de desenvolver são ilimitados, então as pessoas interessadas em fazer quadrinhos na Inglaterra tiveram que procurar suas influências em outros lugares. E aí pegamos o que havia de interessante no que era produzido nos Estados Unidos, onde com frequência os gêneros de HQ mainstream são limitados e, portanto, você é obrigado a pensar de maneira inovadora. Por isso tivemos Alan Moore escrevendo aquelas histórias. Uma vez que era obrigado a conviver com a limitação de fazer quadrinhos de super-heróis, Alan teve que procurar meios cada vez mais interessantes e barrocos de alterá-los. No fim, temos o melhor de cada um na Inglaterra. Podemos extrair elementos do quadrinho europeu, dos Estados Unidos, do mangá e de outros lugares do mundo.

Você conhece algum quadrinho ou artista brasileiro?
Creio que não. Acho que conheço alguns artistas sul-americanos. Não tenho certeza de onde eles são. A maioria deve ser da Argentina, como Carlos Nine e artistas que foram publicados nas revistas Creep e Eerie. Creio que havia uma série de ilustradores sul-americanos que fizeram trabalhos para eles. Mas não sei a respeito de quadrinhistas brasileiros. O mercado é grande no Brasil?

Na verdade, não muito. A maioria trabalha para os Estados Unidos.
É, tive essa impressão.

Vi o vídeo de uma palestra sua em que você diz sobre Asilo Arkham, graphic novel que fez com Grant Morrison: "Nunca entendi o Batman, com suas orelhas pontudas. Por isso o transformei em um monstro". Nitidamente você não é fã de super-heróis. Por quê?
Por quê? Porque não acho que eles sejam muito interessantes. Personagens arquetípicos mais antigos, como Drácula e Frankenstein, são incríveis, porque parecem incorporar coisas realmente primitivas. A ideia do homem brincando de Deus ou de uma sociedade secreta agindo como predadora são temas amplos. Você pode falar sobre a crise bancária usando vampiros. Pode abordar a epidemia de Aids usando vampiros. Mas super-heróis são tão específicos! Eles têm que usar aqueles uniformes ridículos, identidades secretas e capas. Você é obrigado a fazer histórias estúpidas, estreitas e pobres. No fim, me parecem uma espécie de fantasia a respeito de pessoas com poderes sobre outras pessoas, ou sobre países com poderes sobre outros países. E acho isso realmente horrível. Se o gênero ocupasse cinco por cento de todos os quadrinhos publicados, eu nem ligaria. Mas pelo fato de constituírem noventa por cento do que é lançado, ao menos nos Estados Unidos, os odeio ainda mais, porque dominam esmagadoramente esta mídia que eu amo, distorcendo-a, transformando-a nesta versão deplorável de si mesma. E agora que os super-heróis tomaram conta do cinema e meio que estragaram essa indústria também, tenho mais razão para odiá-los! Hoje, desprezo todos eles.

Mas as coisas melhoraram, não? Há mais espaço para se publicar quadrinhos independentes nos Estados Unidos hoje em dia.
Este é definitivamente o fato a que me apego. Acho que os quadrinhos estão passando por um tipo de Era de Ouro, e acho mesmo que isso não tem nada a ver com Marvel, DC, Superman, Batman ou Homem-Aranha. Tem a ver com toda uma nova geração de pessoas que vêem as HQs como uma linda mídia para contar suas próprias histórias, que vêm do mundo todo. Há uma série de roteiros documentais, da vida real. Há muitos desenhos que não têm relação nenhuma com o que foi produzido no passado. E há escritores e artistas já estabelecidos de olho nesta nova safra e pensando: "Bem, talvez eu possa fazer isso também". Isso é fantástico. Há uma porção de trabalhos extraordinários e espero que isso continue. Espero que as lojas especializadas e as editoras continuem a apoiá-los. Os leitores estão aí.

Na época das capas de Sandman, lembro de ter lido que você ainda relutava em fazer todo o trabalho digitalmente. Como é seu processo hoje?
Na verdade, fiz uma grande quantidade de trabalhos digitais na época. Ainda amo o Photoshop e passava tudo pelo programa. O que foi ótimo, porque aprendi o que pude sobre ele e consegui aproximar o resultado final do que havia imaginado em minha cabeça. Hoje, por haver tantas imagens digitais por aí, tantas capas de livros e de CDs que não chegam nem a ser produzidas por ilustradores (os diretores de arte simplesmente jogam umas coisas no Photoshop e chamam de capa), voltei a pintar, porque há algo no ato físico de marcar a página. Ainda jogo as imagens no Photoshop eventualmente para limpar, adicionar camadas ou fazer alguns ajustes, mas a maior parte é desenho ou pintura produzido manualmente mesmo.

Sandman obviamente explorava imagens oníricas e surreais, mas é fácil notar que este é um tema recorrente em todas as suas obras. Já houve algum sonho ou pesadelo que o inspirou diretamente?
Não. Boa parte do meu trabalho tem essa aparência de sonho porque é assim que vejo o mundo. Gosto de muitos filmes e livros que são realistas e lidam com o dia a dia, mas eu, pessoalmente, não consigo contar minhas histórias com facilidade deste jeito. Gosto de olhar para os acontecimentos e coisas da vida real através de uma lente que leva em conta o que as pessoas estão pensando, ou como interpretam o mundo à sua volta, e isso leva a imagens oníricas. Creio que é para isso que a arte existe. Vejo a arte, principalmente o cinema, como um sonho, uma versão alternativa do mundo real, mas totalmente fabricada, criada por mentes humanas. E neste mundo tudo pode acontecer, e tudo pode tocar e se relacionar com todo o resto. Só que dentro disso há a matéria prima, que é a realidade, nossos medos, esperanças, amores e vidas reais.

É rara uma parceria tão duradoura quanto a sua com Neil Gaiman. Que fatores foram determinantes para que isso acontecesse?
Bem, gostamos um do outro e isso ajuda bastante. Gostamos dos trabalhos um do outro, temos uma confiança mútua e adoramos nos desafiar. Atingimos um ponto de nossas carreiras em que não nos sentimos obrigados a fazer todos os nossos projetos juntos. Podemos passar alguns anos sem retomar a parceria, embora sempre saibamos que um dia voltaremos a nos reunir. Ambos temos carreiras separadas saudáveis, trabalhando com outras pessoas ou em projetos solo. Somos pessoas bem diferentes. Vidas, prioridades e gostos diferentes, mas há uma intersecção nesse meio. E aí quando voltamos a nos reunir trazemos tudo o que andamos experimentando e observando, e isso acrescenta um tempero novo à nossa parceria. Não somos do tipo que fica reciclando as mesmas ideias o tempo todo. Tentamos sempre encarar novos desafios.

Já houve algum projeto que vocês idealizaram, mas que não pôde ser executado?
Houve várias coisas que falamos em fazer ou planejamos pela metade ou tentamos tocar, mas não aconteceram. Filmes são sempre muito mais difíceis que qualquer outra coisa, por causa da quantidade de dinheiro envolvida. Nós dois adoraríamos fazer algo no teatro ou algo que fosse ao vivo - algum evento circense ou musical - e botar em prática algo assim é bem mais complicado que elaborar um livro. Mas acho que quando formos trabalhar juntos da próxima vez pode ser que seja em algo deste tipo.

Gaiman está entrando no mundo da música com a esposa dele, a cantora Amanda Palmer. Vocês pretendem estender a parceria para este campo também?
Há chances sim! Tenho escrito músicas usando textos de Neil há alguns anos e, como eu disse, sempre quisemos montar um evento ao vivo com música e performance. Então, sim, claro.

Há alguma conexão entre música e som e seu estilo de pintura e desenho? Porque seus trabalhos me parecem ter um elemento de improviso, algo quase jazzístico.
A música é muito importante para mim. Ouço o tempo todo enquanto trabalho, e toco também o tempo todo. E isso tem um efeito na arte que produzo. Em quase tudo o que faço, mesmo o roteiro de um quadrinho, e definitivamente o roteiro de um filme, se consigo ouvir, imaginar as músicas que tocariam em sua trilha sonora, consigo cristalizar o clima, as cores que vou usar. Encontrar músicas que realmente se encaixam no trabalho me ajuda a visualizar as imagens que se encaixam na atmosfera da história.

Na produção de HQs há o roteiro como base. E no caso das capas de CDs? A inspiração vem das próprias faixas?
Quase sempre. Muito raramente a banda ainda não tem as músicas prontas e fico sem ter o que ouvir, mas normalmente consigo alguma coisa, nem que seja uma ou duas. A inspiração vem daí. Não tenho interesse em ser muito literal nas capas que faço. Prefiro a reação crua que parece capturar a música. E mesmo que seja o tipo de gênero que normalmente não ouço, não importa muito, porque há um canal de resposta emocional direto. Por isso fico até feliz em passar o dia ouvindo coisas a que não estou acostumado, reagindo a isso e criando trabalhos que normalmente não faria.

Há alguma regra na hora de escolher qual capa fazer? Você tem preferência por bandas das quais gosta ou é só mais um trabalho?
Na verdade não tenho regras. Felizmente tenho feito capas para bandas que realmente adoro. Acho que só teria problemas em fazer algo para algum grupo realmente pop, como uma boy band ou algo assim. Nem saberia o que fazer, porque a minha reação nesse caso é nula. Mas amo jazz, folk, eletrônica, esotérica, músicas do resto do mundo. Adoro fazer capas para todas essas coisas.

Você é dono de uma gravadora, a Feral, e também toca piano. De onde vem esta afinidade com a música?
Foi a grande escolha que precisei fazer na vida. Quando eu era adolescente, tocava em bandas de jazz e rock o tempo todo, fazendo shows pelo sul da Inglaterra. E então tive que escolher se seguiria a carreira de músico ou me encaminharia para as artes. Uma vez que eu não sabia ler partituras - toco jazz e só de ouvido, jamais seria um pianista clássico - achei que seria melhor entrar na escola de artes e continuar tocando com as bandas ocasionalmente. Tentei isso por um tempo, mas os desenhos e ilustrações passaram a me tomar tanto tempo que não tinha mais como continuar. Por isso a música acabou se tornando algo como um passatempo pessoal. Minha ocupação na vida é a de ilustrador.

Frequentemente você descreve a produção de Máscara da Ilusão (2005), seu filme com Gaiman, como um verdadeiro pesadelo. O que houve?
[Risos] Foi muito difícil, porque tínhamos pouquíssimo dinheiro e muitas sequências de animação 3D para fazer. E eu não tinha experiência, era meu primeiro filme. Achávamos que a pós-produção levaria oito meses, mas levou quase dezoito. Fazer apenas isso, compor as imagens e trabalhar nas cenas quadro a quadro por todo este período, seis dias por semana, das dez da manhã até cerca de quatro da madrugada foi mesmo um pesadelo. Tornou-se uma tarefa ridiculamente interminável. Havia sequências que eu realmente adorava. A atriz Stephanie Leonidas foi maravilhosa e todos nós nos dedicamos muito, mas eu basicamente perdi minha fé no filme. Não achava que o roteiro era sólido o suficiente. Não achava que a história tinha força e me dei conta que não havia como encobrir estas falhas com uma porção de imagens lindas. Por conta de tudo isso, Máscara da Ilusão permanece sendo um grande desapontamento na minha carreira. Nunca mais vi o filme. E certamente não quero vê-lo de novo. Na época, houve pequenos momentos maravilhosos em que as coisas funcionavam e as animações tomavam vida, mas eles tendem a se dissipar e tudo o que me lembro de verdade é o longo e exaustivo pesadelo de tentar terminar o filme e os vários equívocos e problemas do resultado final, sobre os quais não posso fazer mais nada a respeito.

Mas você não vê isso como a consequência de uma primeira tentativa?
Há uma porção de probleminhas nele com os quais eu meio que conseguiria conviver, porque é normal cometer erros, e o tempo é sempre uma fator de pressão, não há como voltar e filmar as coisas de novo quando o orçamento é baixo. Mas o principal defeito é o roteiro. E para se fazer um roteiro, o certo é levar o tempo que for necessário para que fique bom. Não era caro, era só eu e Neil em uma sala. O problema é que houve um tempo limite, uma janela para apresentarmos o roteiro à Sony Pcitures para conseguirmos a verba que estava disponível como parte de um contrato de dois filmes feito pelo estúdio com a Jim Henson Company. Por isso tivemos que correr. Então entregamos a primeira versão, e o que eles deviam ter dito era: "Muito bom, Neil. Tem ideias muito legais aqui, mas vá embora, trabalhe nelas mais um pouco e volte com uma segunda ou uma terceira versão revisada". Mas não foi o que aconteceu. A Sony disse: "Legal. Aqui está o dinheiro, vão fazer o filme!". Na época achamos fantástico, mas devíamos mesmo ter trabalhado mais na história e tornado-a mais sólida. Não há desculpa para isso.

Você está com um filme novo, Luna, certo?
Tenho dois filmes, na verdade. Luna tem sido um pesadelo também, mas por um motivo diferente. Estou muito contente com o roteiro que foi filmado e com a edição, mas a parte financeira tem sido um pesadelo. A companhia que deveria ter bancado não conseguiu cumprir o acordo e por isso tivemos que fazer várias pausas na produção enquanto tentávamos arrumar mais dinheiro para avançar mais um pouco. No momento está tudo filmado e editado. Há algumas poucas sequências animadas, nada muito complexo, mas elas precisam ser feitas e estamos tentando viabilizar. Por conta disso, vem levando um longo tempo e provavelmente ainda vai levar mais um ano até que fique totalmente pronto. Mas cada vez que trabalho em Luna acho que fica ainda melhor, e estou muito contente com isso. Tenho muito mais confiança neste filme do que tive ou tenho em Máscara da Ilusão. Há um outro filme, meu terceiro, que acabamos de rodar. Tem financiamento, temos um prazo até o fim do ano, e provavelmente vai ficar pronto primeiro. Se chama The Gospel of Us, e é como uma estranha e contemporânea Paixão de Cristo, em que Michael Sheen interpreta um personagem meio como Jesus, no País de Gales. Com sorte teremos tudo pronto no fim do ano para o lançamento na próxima Páscoa.

Quais cineastas o inspiram?
[Risos] Minha maior inspiração é passar por tudo isso e tentar sair vivo! Existem vários cineastas que eu adoro, mas ainda me sinto um principiante e acho que seria muita presunção dizer que este ou aquele diretor me influencia. Mas há montes de cineastas que adoro. E filmes diferentes foram influenciados por pessoas diferentes. Sou um grande fã de Woody Allen, e embora Luna não seja uma comédia, acho que todo o amor que tenho por sua obra foi parar lá. The Gospel of Us vai ser um filme muito mais experimental e expressionista, então puxa para o lado de caras como Andrei Sakharov e Michel Gondry. Mas não acho que The Gospel of Us vá se parecer com qualquer outro filme, porque foi filmado em três dias, como um evento teatral ao vivo. Por isso, em parte ele documenta esse estranho espetáculo teatral acontecendo em uma cidade, com seis mil pessoas assistindo. É parte filme e parte algo completamente diferente. Acho que vai ser um filme bem estranho.

A esta altura de sua carreira, acredito que você possa escolher com quem quer trabalhar. Há algum escritor que você admire e com quem gostaria de fazer um livro ou álbum em quadrinhos?
Claro, vários! Tive muita sorte de já ter trabalhado com alguns. Fiz um livro com um chef de cozinha incrível chamado Heston Blumenthal, um dos grandes chefs de vanguarda do mundo. Também terminei recentemente um livro com o biólogo Richard Dawkins, de quem sou um grande fã. Além disso, tem sido incrível trabalhar com Michael Sheen. Nos encontramos para fazer um livro juntos, e ainda vamos fazê-lo, mas The Gospel of Us surgiu e adiamos. Ainda há muitas pessoas, muitos novelistas com quem gostaria de trabalhar. Adoraria fazer algo com Paul Auster, que sempre foi um dos meus favoritos. Seria ótimo fazer uma história com ele.

Você diz que não se considera um artista. Como você vê a si mesmo e sua obra?
Bem, eu tento evitar o termo, de verdade. O problema com a palavra "artista" é que não sei mais o que ela significa. A única definição que parece atingir algum consenso é, "se seu trabalho é vendido por muito dinheiro em uma galeria, você é um artista". Mas há um monte de coisas horríveis por aí que eu não chamaria de arte de maneira nenhuma. É um tipo estranho de comércio, mas que não chega a ser arte, até onde me diz respeito. Por isso não tenho convicção nessa definição. E há uma outra que diz que qualquer coisa que alguém faz sem relação direta com se alimentar, procurar abrigo ou reprodução sexual é arte. Mas esta parece relativizar todo o significado do termo, por isso também não concordo com ela. Assim, o que faço e faz sentido para mim, é reservar o termo "artista" para aqueles que trabalharam em áreas criativas e foram absolutamente inovadores, criando a própria linguagem da arte, como Picasso e Miles Davis. Não é o que eu faço. Uso linguagens já estabelecidas para criar meus próprios livros e filmes. Por isso já fico feliz de ser chamado de ilustrador, pintor, fotógrafo, o que seja. Mas "artista" soa presunçoso demais. E desconfio de qualquer um que chegue se apresentando dizendo "Olá, sou um artista". É como se alguém dissesse "Oi, sou um gênio, prazer!".

Fonte: Rolling Stone Brasil

por J.M. Trevisan

Natalie Portman

 

A Vida particular de Natalie Portman

Quando nos encontramos pela primeira vez, Natalie Portman está se sentindo mal. Passou a maior parte do dia na cama, mas foi para sua palestra às 9h e para uma reunião do comitê do qual participa para discutir quais bandas virão a Harvard, onde a atriz, de 20 anos, está se formando em psicologia.

Na faculdade, Natalie percebe que até consegue passar despercebida; as pessoas "meio que não ficam impressionadas" que ela seja a escolhida de George Lucas para ser a rainha Padmé Amidala, futura esposa de Anakin Skywalker, em uma trilogia de prólogos para Star Wars, a série de filmes mais bem-sucedida de todos os tempos. Natalie Portman também meio que não ficou impressionada quando Lucas a considerou para o papel. "Pensei: 'Star o quê?'", diz esta filha de um casal que emigrou dos Estados Unidos para Jerusalém quando ela era criança (Portman não é seu sobrenome real - ela o pegou emprestado da avó para proteger o pai, especialista em fertilida- de, que tem um sobrenome peculiar). Sua primeira experiência em Star Wars - Episódio I: A Ameaça Fantasma, de 1999, a fez atuar com efeitos especiais e se sentir perdida. Gosta mais do recém-estreado Ataque dos Clones, no qual a história de amor entre Padmé e Anakin, papel de Hayden Christensen, permitiu que ela se tornasse, como diz, a Garota das Roupas Reveladoras. "Há muita barriga e ombros de fora desta vez."

À noite, a caminho de participar de uma leitura com os escritores Salman Rushdie e Jamaica Kincaid e o poeta John Ashbery, Natalie conversa sobre sua vida de estudante no campus. "Meus colegas aqui já conseguiram muita coisa", diz. "É um tipo de conquista diferente das que eu tive e que eles não necessariamente veem como maior do que a deles. Mas também há muita gente ambiciosa que quer ter um relacionamento social - você tem de estar ciente disso."

Durante as leituras, Natalie escuta atentamente e, quando há algo engraçado, ela reage com a risada mais alta do ambiente. O cabelo está dividido igualmente em duas tranças, um tributo silencioso. "Meu ícone de estilo agora é Willie Nelson", afirma. "Você deu sorte de eu não estar de bandana também."

Natalie Portman nasceu em 9 de junho, dia do aniversário da mãe, Shelley. O mais estranho - um fato que o pai, Avner, descobriu recentemente - é que a provável data de sua concepção foi o aniversário do pai. "Essa", a filha informou aos dois, "é a informação mais nojenta que já tive" (embora, como brincou com eles, ela diga que sabe o que o pai ganhou de aniversário).

A memória é um grande interesse da aluna Portman. O experimento que planejou para sua tese no ano que vem diz respeito à teoria de que "sua identidade é como você constrói suas memórias em sua história de vida". Ela credita o início tardio da própria memória, a partir dos 4 ou 5 anos, ao fato de ser educada em dois idiomas. Morou em Israel até os 4 anos, quando a família se mudou para Maryland, a primeira de várias paradas para acomodar a carreira médica do pai. Suas lembranças mais intensas de Maryland são o tapete rosa e suas bonecas. Ela tinha muitas bonecas. "Lembro que elas eram muito sexuais", conta. "Não me lembro de não fazer minhas bonecas fazerem sexo umas com as outras."

Então o que você fazia elas fazerem?
"É muito estranho, porque não me lembro de conversar com meus pais sobre sexo... mas sempre soube sobre isso. E todas as minhas bonecas transavam. Até as Barbies transavam com outras Barbies, e os bonecos faziam sexo uns com os outros."

Então, pelo que entendo, havia uma orgia polissexual em seu quarto de brinquedos?
"Sim. E meus brinquedos de banho também faziam sexo."

Ela diz que não sabia como sexo acontecia, então as bonecas eram esfregadas umas nas outras, mas rejeita minha sugestão de que tenha absorvido isso do trabalho do pai. "Mal via meu pai quando era pequena", conta, "porque ele estava fazendo residência" (pergunto o que ele exatamente faz como especialista em fertilidade: "Insemina e faz cirurgias, e é endocrinologista reprodutivo", conta a filha muito diretamente). "Para mim, o cheiro de um hospital é como o cheiro do meu pai."

Involuntariamente faço uma careta. "Você está pensando: 'A Natalie é tão esquisita'", declara, acusando e rindo.

Ela é filha única. "Só queria ter tido um irmão mais velho", diz, "para que ele pudesse me apresentar para garotos bonitos. Nunca teria sido atriz se não fosse filha única, porque meus pais nunca teriam me deixado ser a estrela da família à custa de outra criança." Isso a fez sentir que os pais eram seus amigos. "Durante minha infância, ia às festas deles. Sei como fazer alguém acreditar que sou adulta."

Quando Natalie tinha 8 anos, parou de comer carne "por respeito à vida". Comento que o PETA a mencionou em sua pesquisa de internet de vegetarianos mais sexy (que ela posteriormente ganhou).

"Nem pensar", diz. "Não sei o que é ser sexy e ser... bom, quem é minha concorrência?"

Jude Law... David Duchovny... Angela Bassett...

"Eles são muito sexy", afirma com um sorriso. "Não sei quais são minhas chances contra eles."

Você namora com não vegetarianos?
"Sim", ela responde. "É meio incomum encontrar caras vegetarianos. Isso faz com que eu ache o Jude Law ainda mais sexy."

Só que ele é bem casado, comento. "Eu sei", ela afirma. "Devia calar a boca, isso não é legal, mas acho que alguém ainda pode ser sexy mesmo depois de casado. Quer dizer, eu nunca iria atrás dele..."

A história de como Natalie foi descoberta e se tornou atriz envolve o fato de ela ter sido abordada em uma pizzaria em Long Island por uma pessoa que queria contratar alguém para uma campanha da Revlon. Ela não queria ser modelo, mas usou a oportunidade para conseguir um agente de atuação. Seu primeiro filme, O Profissional, não estreou imediatamente - seu debute foi como uma substituta no musical off -Broadway Ruthless. A peça contava com outra jovem aspirante: Britney Spears.

As duas artistas se reuniram para trocar lembranças recentemente. Natalie foi convidada para uma festa de Britney, um convite que encaminhou para os amigos como uma piada. "Eles me disseram que me matariam se eu não levasse todos, então fui com seis rapazes", conta. "Foi basicamente a maior emoção da vida deles."

Cerca de seis meses depois da peça, ela fez um teste para O Profissional, sobre um assassino solitário (Jean Reno) e uma garota de 12 anos. Quando o filme foi lançado, seus pais receberam algumas críticas duras, e incorretas, por "me deixar fazer um filme de Lolita", conta Natalie. Como resultado, eles se tornaram muito protetores. "Eles não queriam que eu andasse na rua pensando se as pessoas podiam me imaginar nua."

Mas houve problemas. Alguns anos atrás, Natalie estava em St. Barts, no Caribe. Havia pulado de um barco com uma amiga e nadado até uma ilha deserta, onde brincaram em águas rasas, de topless. Em seguida, fotos apareceram na imprensa. "O nojento era que tinha alguém ali, alguém nos seguindo", afirma. "Fiquei com tanta raiva - isso te faz se sentir suja... ok, todo mundo já viu seios, mas não gosto de ser transformada em objeto. Não fico mostrando o peito para todo mundo. Estava em uma praia deserta."

Embora Natalie tenha crescido intocada pela magia de Star Wars, tem seu equivalente: sua obsessão cinematográfica quando era criança. Dirty Dancing. "Quer dizer, Patrick Swayze era sexo para mim", afirma. "Ele ainda é meu número um. O queixo dele é tudo."

Também houve outras fixações, como New Kids on the Block. Ela gostava mais de Joey McIntyre. "Aquele que decidi idolatrar", declara. No ano passado, recebeu uma ligação dizendo que McIntyre queria sair com ela. "Dei para trás. Não queria que ele pensasse que eu fosse namorá-lo. Isso é meio incerto quando celebridades simplesmente te ligam chamando para sair."

Natalie Portman gostaria de deixar claro que essa política clara e sensata pode ser imediatamente abolida sob determinadas circunstâncias.

"Ei, quer dizer, honestamente, se fosse Brad Pitt - o que obviamente é impossível, pois ele está muito bem casado com uma mulher incrível - se ele ligasse, eu diria 'Ok'. Ignoraria meu boicote."

Então, se eles forem suficientemente lindos, o princípio voa pela janela?
"Claro! Todas as morais não voam pela janela quando eles são suficientemente lindos?"

Os primeiros papéis de Natalie, como a fixação ilegal de Timothy Hutton em seu segundo grande papel, em Brincando de Seduzir, de Ted Demme, a mostravam representando crianças prematuramente maduras, o que não era diferente dela própria. "Crianças são os tolos shakespearianos nos filmes de Hollywood", ela afirma. "Elas têm a chave da sabedoria em sua inocência ou são tão esquisitamente adultas que nos fazem refletir sobre o quão esquisitos os adultos são."

Você estava ciente disso na época?
[Franze o rosto]. "Eu achava que era muito inteligente. Até mais ou menos os 13 anos, e então as provocações na adolescência meio que silenciam isso, e é quando você aprende a ter humildade."

Ela passou por alguns maus momentos. "Provavelmente mereci", afirma, "mas não foi agradável mesmo se merecesse. Crianças podem ser bastante cruéis. Coisas como: eu me lembro de ter um namorado, dei um beijo nele no primeiro encontro e os outros me chamavam de 'vadia'."

Quando Natalie tinha 13 anos, por não agüentar mais, foi transferida para uma escola pública: "De repente, há 500 adolescentes, e mesmo os que são zoados têm amigos".

Depois dos dois primeiros filmes, sua carreira sossegou um pouco (quando perguntada de quais dos seus filmes tem mais orgulho, escolhe esses dois, e o único que fez desde então - o drama entre mãe e filha Em Qualquer Outro Lugar, com Susan Sarandon - embora diga que tem mais orgulho de sua performance no palco em A Gaivota, em meados do ano passado, em Nova York). Natalie só trabalha nas férias de verão (exceto quando fez o papel de Anne Frank na Broadway, quando ia para a escola normalmente durante o dia). Tendia a ter papéis menores em filmes razoavelmente prestigiosos: Fogo contra Fogo, de Michael Mann, Todos Dizem Eu Te Amo, de Woody Allen, Marte Ataca! , de Tim Burton. "Não digo que meu melhor momento cinematográfico foi como Taffy em Marte Ataca!" , conta. "Mas pude conviver com Tim Burton e Jack Nicholson tentou me ensinar a assobiar" (ele não conseguiu).

O compromisso de Natalie com os três prólogos de Star Wars permite que ela mantenha sua ambivalência sobre a atuação enquanto garante que tenha uma carreira sólida após a faculdade, se quiser. "Foi meu jeito de tentar não cair na armadilha", afirma. "Sempre achei atores típicos muito esquisitos." Ela ri e me encara: "Você sabe exatamente do que estou falando. As pessoas que ficam dizendo: 'Sim! É minha vida!' Elas parecem muito falsas".

Você acha que cresceu rápido demais?
"Não. O problema com a maioria dos atores infantis é que eles acham que são adultos, mas não são, e quando realmente crescem não são tão adultos quanto seus colegas, porque só pensavam que eram."

Vamos para o pequeno apartamento de Natalie, perto do campus. "Desculpe pelo tapete", diz, explicando que o comprou no Marrocos no último verão - sua primeira viagem sozinha. Diferentemente de todos os tapetes que viu, com sua simetria impressionante, esse tem manchas aleatórias coloridas que a intrigaram. Como não há espaço para pendurar o tapete na parede, como queria, ele está virado do avesso no chão, para que o verso de sua criação fique à mostra na sala; é assim que ela prefere.

Nos primeiros dois anos da faculdade, a atriz e estudante morou no campus, dividindo um quarto. "É muito difícil", conta. "Sentia muita falta de poder simplesmente ficar acordada até tarde lendo e tocando o tipo de música que quero."

Seu apartamento atual é bastante modesto. Não há sinais de que seja o lar de uma atriz de sucesso, exceto, talvez, pelo passe para os bastidores do show de Björk deselegantemente grudado no computador. Há fotos pregadas nas paredes, incluindo uma de George W. Bush com um peru. "Só achei que era uma foto engraçada - quando estava perdoando o peru, o bicho parecia dando, tipo, uma chupada nele", diz, rindo.

Pergunto quais sonhos recorrentes tem. Menciona um, mas não tem interesse nenhum em dar significado a ele. Freud e seus seguidores, em sua opinião, são uma fraude. "O pensamento agora", afirma, "é que sonhos são basicamente como os peidos da mente."

Logo, Natalie Portman deve encontrar sua primeira casa como adulta. Quer comprar algo em Nova York, mas parece mais empolgada em achar uma em Jerusalém. "Amo os Estados Unidos", afirma, "mas meu coração está em Jerusalém. É onde me sinto em casa."

A mãe de Natalie cresceu em Cincinnati (os avós eram da Rússia e da Áustria) e conheceu o pai dela na Ohio State University. Ele voltou para Israel e trocaram cartas. Dois anos depois, ela acompanhou um primo em sua viagem de bar mitzvah e eles decidiram se casar.

Os pais de Avner se mudaram para Israel no final dos anos 30. Seu avô polonês havia liderado o movimento da juventude judia na Polônia. A avó era romena. "Ela espionava para os britânicos, viajando pela Europa", conta Natalie. "Era loira, então podia totalmente se passar por não judia. Os homens sempre tentavam conquistá-la porque ela era uma jovem linda... vou te mostrar."

Natalie pega a carteira e tira de dentro uma foto antiga de duas mulheres. "Esta é uma foto tirada na Romênia dela com a melhor amiga. Alguns anos mais nova do que eu..."

O avô de Natalie foi para Israel esperando reencontrar a família depois. Não houve depois - a história eliminou o "depois". Os pais dele foram levados para Auschwitz.

"Sempre que algo acontece com alguém em Israel, é como se um membro tivesse sido arrancado", Natalie diz. Acrescenta, talvez preocupada com o fato de toda a sua postura política ser presumida disso: "Protejo muito Israel, mas me sinto mais protetora da humanidade do que de meus próprios desejos pessoais".

Ela diz sobre sua religião: "Sou muito mais um produto de um médico do que judia". Fica desconfortável com o conceito de vida após a morte. "Não acredito nisso. Acredito que acabou aqui, e que esta é a melhor maneira de viver."

Em Nova York, na semana seguinte, Natalie está sem as tranças de Willie Nelson e se sente muito melhor. Faço algumas perguntas:

Quando você se sente mais calma?
"Quando estou apaixonada", responde rindo.

Você já se questionou se era gay?
"Claro. Nunca namorei uma mulher nem nada do tipo, mas acho que é muito mais a pessoa por quem você se apaixona - e por que você se fecharia para 50% da população? ... [Voltando ao assunto mais tarde] Acho que minha personalidade é mais compatível com a dos homens do que com a das mulheres. Mulheres em ambientes como minha escola e meu trabalho são meio que treinadas para serem competitivas. Quer dizer, tenho algumas amigas que amo. É que... na escola é muito mais fácil ser amiga dos rapazes."

Ela fala um pouco mais sobre Star Wars.
"As crianças são as que ficam mais impressionadas", conta. "Basicamente são as únicas pessoas que quero impressionar. É uma graça, e é uma admiração incalculável."

Mas consegue-se isso de crianças com doces.
"Exatamente", ela concorda, "e a equivalência dos dois é ótima. Você tem a mesma reação por ser a rainha Amidala ou por dar uma barra de chocolate."

Natalie Portman conversa assim: perspectivas confiantes e teorias jorrando como acontece quando se tem 20 anos, simplesmente pela alegria de fazer isso. No entanto, em um momento - talvez seja apenas a desculpa necessária para continuar após uma pausa - ela se interrompe.

"Basicamente, tudo o que estou dizendo está completamente errado", anuncia. "Mas pelo menos isso fará outra pessoa pensar que está certa."

Não sei se é melhor discutir ou não dizer nada.

"Faça como um psicólogo", ela sugere, "e cale a boca."

Fonte: Rolling Stone Brasil

por Chris Heath

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Os 11 Filmes mais insanos de todos os tempos

11) SALò, OU 120 DIAS DE SODOMA
                                    capa
Salò o le 120 giornate di Sodoma (Itália, 1975)
Diretor: Pier Paolo Pasolini
Duração: 116 min
Bom, Falar de "Salò, ou 120 dias de sodoma" é um tanto complicado. Nele Pier Paolo Pasolini faz uma denúncia do domínio facista na Itália usando como base o livro "Os 120 dias de sodoma", do Marquês de Sade. Mas devido a péssima qualidade cinematográfica o tiro acabou saindo pela culatra.
A história se passa numa mansão, na província de Salò, na Itália, para onde são levados à força 18 jovems; sendo 8 mulheres e 8 homens, a mando de 4 libertários fascistas, que pretenden usa-los como base para as maiores bizarrices sexuais (ou não).
Logo que chegam à mansão, são lidas as normas da jornada que está para começar. Elas basicamente dizem que os presos devem fazer tudo que for ordenado e quem sair da linha morrerá mais cedo.
O filme é dividido em 3 partes intituladas "O Círculo de Manias", "O Círculo da Merda" e "O Círculo do Sangue".
                 cena 02
No primeiro círculo todos os tipos de perversões são postas em prática, guiadas pela narração de uma cafetina/prostituta, que conta suas histórias como forma de inspiração para os cavalheiros. No segundo círculo uma outra senhora guia os acontecimentos com suas histórias ligadas a cropofogia, que culmina num banquete à base das fezes de todos os integrantes da mansão. O terceiro e último círculo é basicamente composto de 3 senhores torturando seus servos no quintal, enquanto o 4º fica olhando os acontecimentos da bancada da mansão. E assim eles revezam até que não sobre niguém vivo.
Como filme, eu achei "Salò" uma merda (desculpem o trocadilho). A idéia de usar não-atores definitivamente deu errado. As atuações ficaram tão ruins que não se sente nenhuma empatia pelas "vitimas", e as torturas acabam ficando "bobas". O expectador sente mais agonia e nojo do que necessariamente pena ou ultraje ao assistir as sequências mais pesadas do filme.
Na verdade é necessario um pouco de imaginação para sentir alguma coisa. Por exemplo, na sequência em que vemos uma jovem sendo obrigada a comer merda, a garota começa e fazer cara de nojo e chorar quando, na verdade, a reação lógica seria vomitar (todo mundo aqui ja assistiu Jackass, correto?). Pode parecer um detalhe insignificante, mas quando temos um roteiro sem profundidade, personagens rasos e atuações tão ruins, o mínimo que podemos esperar é um pouco de veracidade que dê um tom de documentário ao filme. A ausência de trilha sonora e fotografia lacram o caixão!
Em relação ao contexto politico do filme, bom... Ricos e poderosos explorando os pobre e miseráveis não é exatamente um tema que preencha um filme de 116 mins sem a ajuda de um roteiro que envolva personagems, no mínimo, carismáticos não acham?
             cena 01
Se ele pretendia chocar com a crueldade nazi-facista, seria bom ter focado um pouco mais na miséria dos humilhados, e ressaltado mais as motivações lascivas de seus algozes. Se ele queria fazer um filme visualmente chocante e pervertido como Sade fez em sua obra literária, seria importante que as cenas de tortura fossem mais críveis, e a fotografia ajudasse mais no clima.
Agora as curiosidades sobre o filme:
- As fezes usadas no filme são uma mistura de chocolate e marmelada.
- A primeira versão do filme foi tirada das prateleiras, por causa de problemas com os direitos autorais. Devido a isso uma cópia original em boas condições está valendo em torno de 600 dolares.
- O DVD remasterizado, lançado no Japão, tem muitas fotos de produção que nenhuma outra versão tem, incluindo a cena de uma garota sendo eletrocutada e os corpos das vitimas alinhados no quintal com Fezes por cima. Todos as cenas fazem parte da última parte do filme (pra vocês verem como os japoneses estão mais acostumados com esse tipo de coisa).
- Salò é a primeira parte da "trilogia da morte" que ficou sem os dois últimos filmes devido ao assassinato de Pasolini, seis meses apos a conclusão de Salò. Essa trilogia seria um complemento a "trilogia da vida" composta pelos filmes "Decameron", "Os Contos de Canterbury" e "As Mil e Uma Noites".
Finalizando: Salò é um fime chocante, mas somente para quem está desacostumado com esse tipo de coisa. se você já assistiu a "Pink Flamingos" ou "Guinea Pig" não vai achar grande coisa. Sobre a visão politica, não vi grandes questões levantadas ou aprofundadas. Se você realmente quiser entender melhor sobre o assunto procure o documentário ou algo no estilo. Mas se só querem ver um filme que tenha esse tema como pano de fundo assistam "Malena" de Geoseppe Torunatori, "A Vida é Bela" de Roberto Benigne.
Avaliação:
Agonia - 4
Pertubação - 2
Repulsividade - 4
Assustadoridade - 1
Violência - 3

10) Funny Games - Violência Gratuita
                                      
Funny Games (1997)
Diretor: Michael Haneke
Duração: 108 min
Um soco na cara!
Essa e a melhor forma de definir esse filme, tanto literal com o figurativamente,isso já se comprova no começo do mesmo: uma família feliz, viajando para sua casa de campo e brincando de adivinhar a música, e do nada a trilha sonora muda para um death-metal pesadíssimo, dando ao espectador uma idéia do que esta por vir.
O interessante é que o esse filme demonstra que não só diretores conhecidamente amalucados (como todos que aqui estão) fazem filmes insanos. Michael Haneke é um conhecido autor "cabeça", considerado um dos melhores diretores europeus, mas sutilmente entrega obras como essa, que perfeitamente debatem sobre temas mais pesados como a banalização da violência. 
              
A historia é simples. Uma familia (pai, mãe e filho) que é seqüestrada por uma dupla de jovens sádicos, que irão fazer de tudo para causar o máximo de sofrimento físico e psicológico possível.
E é isso, nada além, sem grandes dramas ou reviravoltas. Mas o que faz desse filme tão bom (na minha opinião) é a forma como nós somos levados para junto dessa violência, que é mostrada de forma tão crua, estamos tão acostumados com a estilização de tudo, com cenas que mostram como é "legal" dar porrada e atirar nos outros, que perdemos a sensibilidade à dor alheia.
Não estou sendo moralista nem nada do tipo, mas é difícil não se questionar quando um maníaco torturador, olha para a câmera (o espectador) e dá uma piscadela como que dizendo "divertido né?", ou quando a vitima implora para ser morta e ele vira e pergunta"e aí? acha que já chega?". É como se nó fossémos seus cúmplices, e estivéssemos nos divertindo com o que está acontecendo.
            
Recentemente o filme ganhou um remake americano (o original foi feito na Áustria), que curiosamente foi dirigido pelo próprio Haneke e ainda por cima utilizou os mesmos ângulos de câmera e roteiro. O remake foi estrelado por Naomi Watts, Tim Roth e Michael Pitt. Como ainda não assistimos, não podemos opinar!
É esse tipo de emoção que você vai encontra em Funny Games,com utilização da meta-linguagem o diretor conseguiu fazer eu me sentir culpado por ter locado o DVD. Não é um filme pra se assistir qualquer hora, não é um filme gostoso de se ver, mas definitivamente é um filme obrigatório pra quem gosta de cinema alternativo.
Avaliação:
Agonia - 3
Pertubação - 3
Repulsividade - 2
Assustadoridade - 4
Violência - 4

9) Audition
                                    
Ôdishon (Japão, 1999)
Diretor: Takashi Miike
Duração: 115 min
Vamos falar de Audition!
Dirigido por Takashi Miike (o mesmo de Itchi the killer), Audition assusta pra caralho!
Na verdade, o mais assustador dele é a forma como a historia foi contada. Não espere cenas de suspense a cada 10 minutos, porque isso já não assusta mais. O filme está mais pra uma viagem ao inferno do que um trem fantasma. No começo ele parece mais com um filme de romance (o que assusta muito), e à medida em que o expectador vai descobrindo mais sobre a "mocinha" da história, o filme vai ficando mais tenso; até culminar em uma das cenas de tortura mais sinistras que já vi. Esqueça chute no saco, choques, marteladas ou saco da verdade. Não que para assustar, o diretor tenha se firmado somente em dor fisica, o clima de terror está em tudo no filme; desde pequenos diálogos até flashbacks pertubadores.
Os personagems secundários completam os ingredientes necessários para um filme realmente doentio.
Avaliação
Agonia - 5
Pertubação - 5
Repulsividade - 2
Assustadoridade - 4
Violência - 2


8) Rejeitados pelo Diabo
                    capa
The Devil's Rejects (EUA, 2005)
Diretor: Rob Zombie
Duração: 109 min
Pra começo de conversa, o que esperar de um filme de terror/trash/gore dirigido por um cantor de rock das antigas com a participação de sua esposa em um dos papéis principais?
Foi exatamente isso que eu pensei, mas tive uma grande surpresa ao assistir "Os Rejeitados pelo Diabo", dirigido por Rob Zombie (da banda White Zombie), e cujo o título não ajuda em nada na moral do filme. Na verdade esse filme tem mais um agravante que para mim é o principal: ele é uma continuação. Isso mesmo, e o nome do filme original é "A Casa dos 1000 Corpos", que tambem foi dirigido por Rob e conta o surgimento da família "Firefly", um bando de maníacos psicopatas bem ao estilo "O Massacre da Serra Eletrica". Eles capturam um grupo de estudantes que estão viajando pelo interior do Texas e fazem da vida deles um inferno (original, não acham?). Eu não assisti "A Casa dos 1000 Corpos" somente por falta de oportunidade, porque mesmo tendo um plot muito básico como vocês viram, eu me amarro em filme de terror,independente do contexto.
Voltando aos "Rejeitados". A história é a seguinte: no primeiro filme a familia Firefly mata uma pá de gente, entre eles está o tenente George Wydell, cujo irmão, xerife John Quincy Wydell, viria a promover uma caçada humana para vingar a morte do irmão 6 meses depois. E é basicamente esse o plot do filme, uma longa, violenta, árdua, sanguinolenta e dolorosa caçada aos remanecentes da odiosa familia Firefly.
O filme começa com um ataque do grupo de Wydell à casa dos rejeitados. Nessa incursão eles matam Rufus Firefly, capturam a Mama Firefly, mas acabam por perder os piores da familia; Otis B. Driftwood e Baby. O último integrante, Tiny, está desaparecido. Depois da fuga, Baby e Otis acabam se escondendo num hotel, onde matam e torturam 5 integrantes da banda country "Banjo and Sullivan", que estavam de passagem por ali. Vou dizer pra vocês uma coisa...tinha tempo que eu não via uma tortura tão cruel e bem feita, tem uma hora que Otis arranca a pele da cara de um sujeito e veste como uma máscara. Detalhe: o cara ainda tá vivo!
                  cena 01
Depois que ele termina, mais pra frente ainda no hotel, a dupla se encontra com o Capitão Spaulding, um integrante da familia que tinha seguido o próprio rumo depois do primeiro filme. Bom, não vou contar o filme todo porque senão vai perder a graça, mas posso dizer que o que vocês leram até aqui não é nada comparado ao filme.
Eu diria que a beleza desse filme não está na história, porque ela até que é bem rasa, a parada aqui são os personagems e a direção. Cada um dos maníacos ("mocinhos" inclusos) têm uma personalidade bem diferente, mesmo que não fique muito claro, cada personagem tem uma maneira exclusiva de ser mau! Exemplo: é o xerife que começa o filme como um justo vingador e muda para um torturador de primeira com o passar do tempo (e aumento do ódio). O cara chega a cortar ao meio uma mulher (começando pela vagina)!!! A impressão que tive é que eles não são monstros terríveis feitos de puro mau. Mas são os mais proximos que se pode chegar da natureza de um serial killer, maldade por maldade e pronto.
Em relação a direção, eu diria que não faltou nada. O diretor conseguiu fugir de todos os clichês do gênero, construindo um road-movie onde a ameaça não está esperando o seu descuido atrás de uma porta ou dentro de um armário, ela está lá fora, vindo a todo gás e ai de quem estiver na frente. Só essa estrutura de roteiro já elimina todas as características dos filmes de horror clichês. O foco não é nas vitimas, e sim nos agressores. Não existe um ambiente fechado onde se possa esconder ou ser caçado. Na verdade são os vilões que estão sendo caçados, o que automaticamente faz deles anti-heróis. Em dado momento não se sabe mais se deve se torcer por eles ou contra eles, tudo isso fica bem mais claro no fim do filme...
                 cena 02
***** ATENÇÂO SPOILERS *****
A cena deles indo em direção a barreira policial, todos detonados, atirando que nem loucos com a música Freebird aumentando no fundo é praticamente heróica!!! Só senti algo parecido com isso quando vi o final de "Assassinos Por Natureza". Só que lá o repórter não tinha nada de mocinho; ele era tão filho da puta quanto o casal. Aqui não, as coisas ficam muito bem divididas. Policiais bonzinhos para lá, assassinos maníacos para cá, e mesmo assim é impossivel não torcer para que os três saiam do outro lado com um rastro de sangue e tecido azul no chão.
***** FIM DOS SPOILERS *****
Outro aspecto legal do filme é que ele tem um leve toque de faroeste. Como eu adoro esse gênero, tudo ficou ainda mais divertido. Se pararmos para pensar, o xerife motherfucker parece bastante com os papeis de Tommy Lee Jones no filme "Três Enterros" e no recente "Onde Os Fracos Não Tem Vez". Os dois grandes faroestes modernos.
Agora algumas curiosidades sobre o filme:
- Na tv que está no hotel é possível ver uma cena de "A Noiva do Monstro" de Bella Lugosi.
- Todos os efeitos de sangue, facadas, ou qualquer coisa envolvendo contato direto com a pele foram feitos digitalmente. A
intenção de Rob Zombie era fazer o filme somente com as técnicas disponíveis nos anos 70, mas o prazo não ajudou.
- Foi planejado fazer algumas cenas com o Dr. Satan (personagem importante do primeiro filme, que eu não vi) mas foram cortadas pelas diferenças drásticas de construção dos dois filmes. cena 03
- O "Family Media Guide" constatou que a palavra "fuck" e suas derivações é dita 244 vezes no filme.
- A fala "I am the devil, and I have come to do the devil's work" que é dita no filme, foi originalmente po Charles Manson lider da familia/culto que protagonizou um dos maiores massacres que o EUA já teve.
Finalizando: Rejeitados Pelo Diabo (que nomezinho tosco) é um puta filme de terror/faroeste/road-movie que definitivamente deve ser visto por quem gosta de filmes dos mais hard-core!
Avaliação:
Agonia - 2
Pertubação - 4
Repulsividade - 3
Assustadoridade - 2
Violência - 5

7) Ichii, the Killer
                                  capa
Koroshiya 1 (Japão, 2001)
Diretor: Takashii Miike
Duração: 129 min
Sem dúvida um dos filmes mais violentos, insanos, sanguinários, violentos, psicóticos,pervertidos, e....violentos que já vi. Essa obra de de Takashi Miike (o mesmo de Audition) contém tudo aquilo que se espera de um filme japonês de terror/máfia e outros gêneros que não lembro agora.
O enredo narra a história de duas pessoas. Kakihara, o sub-chefe masoquista e afeminado da guange "do Anjo" (uma facção da Yakusa), que se vê no meio de uma grande conspiração, quando seu chefe, "O Anjo", some do nada. Na busca por seu chefe, Kakihara irá causar MUITA dor em VÁRIAS pessoas. Para ter uma idéia, uma das torturas que vemos no filmes, é de um cara sendo suspenso no ar por ganchos presos em sua pele, e depois frito com óleo fervente; perto disso, martelada no dedão do pé é fichinha!A outra pessoa é o assassino do titulo do filme "Ichii", cuja a indentidade vai ser uma surpresa para vocês, por isso não posso falar muito sobre ele sem estragar um pouco o filme, então se querem manter a surpresa pulem a próxima parte.
***** ATENÇÂO SPOILERS *****
Ichii, é o cara que aparece espiando (e se masturbando) o apartamento de uma prostituta, que está sendo espancada, logo no início do filme. Como vocês verão, ele não é um assassino frio e calculista, o que é a parte legal do personagem. Apesar de ser o mais fraco mentalmente ele tabém é o mais perigoso, pois passa a sensação de estar sob-controle, quando pode a qualquer momento te cortar ao meio (literalmente).Ele é também, na minha opnião, o personagem mais aprofundado do filme. Sabemos o seu passado e porque ele mata, enquanto sobre Kakihara só sabemos que ele é masoquista e homossexual.
***** ATENÇÂO SPOILERS *****
           ichi
Os personagem secundários são um show a parte, e o filme tem todo tipo de doido: cafetões estrupadores, uma dominatrix, gêmeos policiais pisicopatas e mais uma porrada de gente que faria inveja até Charles Manson.
Algumas curiosidades do filme:
- O toque de celular de Takashi Miike é a musica tema desse filme.
- O prédio que aparece no fim do filme é o mesmo que aparece no começo de "Dead or Alive" filme anterior do diretor (não estou falando daquele filme baseado no jogo).
- A cena de tortura com os ganchos e gordura fervente levou 12hs de maquiagem mais 12hs de gravação.
- Ichii quer dizer 1 em japones, por isso o personagem tem o número pintado na armadura.
- Takashi revelou que o semên que aparece numa das primeiras cenas do filme é real.
- A idéia inicial de Takashi era que o roteiro do filme fosse feito pelo escritor original do mangá, mas a idéia não vingou por que a agenda dos dois não batia.
- No filme, todos os membros da Yakuza tem uma arma, porém somente dois tiros foram disparados no filme, e niguem foi atingido.
Resumindo, se você tem estômago forte,e gosta do estilo meio sem pé nem cabeça dos filmes japoneses, ASSISTA!!!
Avaliação:
Agonia - 3
Pertubação - 3
Repulsividade - 3
Assustadoridade - 3
Violência - 5

6) Pink Flamingos
                                          flamingos04
Pink Flamingos (EUA,1972)
Diretor: John Waters
Duração: 108 min
Filme trash da pior melhor espécie. E com ar cult ainda por cima. Conseguiu sua fama nas famosas "sessões de meia-noite" (não confunda com Grindhouse, que explicaremos no nosso post especial sobre o filme, semana que vem. Sim! Já estamos com uma sessão praticamente marcada!!!) que ocorriam na década de 70/80, nos EUA. Logo depois, o filme, especialmente seu/sua protagonista (já já explicamos), se tornou um dos símbolos do movimento punk, estampando camisas e bottons.
E para reforçar essa aura, tem toda uma história por trás das filmagens. Conta-se que foi filmado em dois dias, com grana do próprio diretor (ao todo ele investiu 10 mil dólares no filme, inclusive no tjohn-watersrailer de 100 dólares). Também pudera, quem ia investir num filme cuja a história se resume a uma drag-queen querendo provar que é a pessoa mais podreira da região. Ponto!
O filme, como já foi comentado, narra a trajetória de Divine, uma drag-queen (de verdade, e pesando 150 quilos na época ainda por cima!!!) que quer recuperar o título de pessoa mais podreira da região em que vive. Seus
                                                                                          John Waters
competidores? Um casal de malucos que sequestra mulheres, faz um empregado engravida-las e vende seus filhos...para alimentar um mercado de vendas de drogas na porta de escolas. E os personagens esquisitos (ao extremo) não param por aí. Tem Mama Edie, a mãe de Divine, uma velha que fica num berço e tem um apetite imenso para ovos; Crackers, filho de Divine, que tem um estranho apetite sexual por galinhas; e Cotton, que gosta de ver Crackers "se satisfazendo" com as galinhas (e com uma azarenta mulher desavisada).
                  pink
E o que falar do seu diretor, John Waters? Um pervertido dos piores, sem qualquer moral, mas com alguma estética cinematográfica. À título de curiosidade ele teve uma pequena participação em Jackass 2. É só procurarem que vocês acham (tá bom, é no truque do Desaparecimento do Anão).
Mas você deve estar se perguntando: o que tem de trash ou sinistro nisso tudo? Simples, ABSOLUTAMENTE TUDO! Esse é daqueles filmes em que dá vontade de parar de assistir, graças às diversas cenas nauseantes que o filme contém (o banquete de fezes caninas, ao final, pelas palavras do diretor, eram reais). Não vou descreve-las para não estragar nenhuma "surpresa" (esse é o tipo de surpresa que vocês não vão querer ter)!
Chega, agora é por conta de vocês assistirem!!!
Avaliação:
Agonia - 2
Pertubação - 1
Repulsividade - 5
Assustadoridade - 1
Violência - 2

5) Irreversível
                                   irreversivel
Irréversible (França, 2002)
Diretor: Gaspar Noé
Duração: 97 min
Taí um filme que me surpreendeu, tanto em relação ao roteiro quanto a edição e fotografia. Pra começar: o filme foi rodado todo sem cortes, o que fez dele um exemplo de como se usar bem os efeitos digitais; a câmera roda por todo o ambiente, faz piruetas, atravessa vidros, passa na frente de espelhos e nem o cinegrafista nem a sua sombra aparecem. E além de todo esse trabalho, o filme ainda é contado de traz pra frente (algo parecido com "Amnésia"), o que é uma tremenda metáfora, pois todos os eventos, apesar de seram contados de traz para frente são "irreversiveis". O filme é basicamente um exemplo de como uma cadeia de acontecimentos violentos (independente do grau de violência) pode levar a acontecimentos ainda mais violentos. E todos esses eventos terminan entrelaçados, fazendo com que, na visão do expectador, um justifique o outro.

Mas o mérito por essa obra está mesmo nas mãos do diretor Gaspar Noé, que conseguiu com um roteiro relativamente simples criar um filme extremamente complexo, com cenas muito fortes.
Quando eu disse mairreversible_002is a cima "cenas fortes", eu estava falando sério, já no começo do filme uma briga dentro de uma boate gay(!) termina com um cafetão morto a "extintoradas" na cara e Vincent Cassel com o braço quebrado e quase currado!
No decorrer do filme você ainda vai se deparar com, prostitutas, travestis, viciados e com uma das cenas mais fortes e angustiantes cenas que eu já vi: o "estupro na passarela subterrânea", protagonizado pela Monica Bellucci. Por causa dessa cena "Irreverssivel" foi considerado "o filme mais abandonado no meio da história". Pode parecer que foram as atuações que fizerão dela uma cena tão pesada, mas isso é um egano. O uso da câmera foi exencial para dar o clima tenso, a fotografia ficou tão bem feita que foi usada no triler-teaser que consiste somente na camera correndo pela passarela num movimento nauseante.
      irreversible
Agora algumas curiosidades:
- praticamente todos os diálogos foram improvisados. O roteiro tinha somente 3 páginas!!!
- O sangue na maioria das cenas e o pênis do estuprador foram digitalmente colocados.
- O clube no começo do filme é realmente um clube gay. Apenas foi redecorado e trocaram o nome.
- A passagem onde acontece o estupro teve de ser pintada de vermelho à pedido do diretor.
- A menor cena do filme tem 3 mins a maior tem 15 mins.
- Os primeiros 30 mins do filme têm um ruido de fundo parecido com o que faz um terremoto. Por conta disso a grande
quantidade de evasão das salas de cinema, e o mais interesante é que isso foi de propósito.
- O sub-titulo "o tempo destrói tudo" é a primeira e última palavra dita no filme.
- a cena do estrupo levou duas noites para ser finalizada; foram feitos 6 takes.
- no lançamento do DVD na frança, 2,400 pessoas compareceram, 200 delas saíram no meio da projeção.
- com medo do filme ser considerado homofóbico, Gaspar Noé voltou ao clube gay após as gravações principais e filmou uma cena
dele masturbando um outro ator.
- O livro que Monica esta lendo no fim do filme se chama "An Experiment With Time" de J.W. Dunne.
Finalizando, "Irreversivel" é um filme fantástico! com uma edição e fotografia excepcionais! Mas para pessoas de mente aberta. No mínimo!
Avaliação:
Agonia - 2
Pertubação - 3
Repulsividade - 4
Assustadoridade - 2
Violência - 2

4) Guinea Pig
                                     devil experiment
Za ginipiggu: Akuma no jikken (Japão, 1985)
Diretor: Satoru Ogura
Duração: 43 min
Série japonesa de filmes de terror. Falando assim parece até um filme de terror oriental no estilo "O Chamado", "Água Negra" ou "Espíritos"; com aquele bem elaborado estilo de medo crescente baseado na ambientação e climatação, ao invés de sustos a cada cinco minutos (base do terror americano). Esqueça essa conversa fiada! O que tornou a série Guinea Pig famosa foi utilizar de violência pesada, realista, brutal e mais todos os adjetivos da pior espécie que você possa imaginar.
Reza a lenda que quando o filme chegou aos EUA, Charlie Sheen (ator da série "Top Gang) asistiu ao episódio "Flowers of Flesh and Blood" (o segundo da série) ele imediatamente denunciou o filme ao MPAA (a infame entidade que controla a censura aos filmes americanos), que por sua vez passou o filme para o FBI, que contatou autoridades japonesas, que informaram que já estavam investigando o filme. Resumo da ópera: os diretores ficaram presos até que mostraram o making of da série, que explicava os pormenores dos efeitos especiais.
                    guinea
Então Eu dei uma de Charlie Sheen e selecionei o episódio "Devil Experiment" para assistir. Conclusão? Os quarenta e três minutos de duração dessa película realmente não são dos mais fáceis, e com certeza conseguem impressionar, principalmente os...impressionáveis!!! Tudo nele é feito para parecer um filme amador, evocando a falta de profissionalismo em ângulos de câmera. Além disso não tem falas e preocupação com perfeição nos cortes. Na verdade a principal motivação para se faze esse filme foi testar novas e revolucionáriasTsutomu-Miyazaki200 técnicas de maquiagem, idelizadas por estudantes de cinema japoneses.
A história? Três japoneses sequestram uma menina para saber os limites da sanidade humana. E pode ter certeza que eles pegam pesado para realmente conhecerem esses limites. É som no mais alto volume, minhocas no corpo, torturas da pior espécie...e culmina com a famosa cena da agulha no olho!
                               
                                                                                           Tsutomu Miyazaki
O fato mais bizarro é que a polícia japonesa encontrou uma vídeos dos episódios de Guinea Pig na casa do serial killer japonês Tsutomu Miyazaki, que matou, estuprou e devorou o corpo de quatro meninas de 4 a 7 anos, e que ficou conhecido como "O Otaku Assassino", na nação nipônica.
Depois desse você nunca mais vai olhar os japoneses da mesma forma!!!
Avaliação:
Agonia - 5
Pertubação - 1
Repulsividade - 2
Assustadoridade - 2
Violência - 5

3) Cannibal Holocaust
                                                           CannibalHolocaustDelEd
Cannibal Holocaust (Itália, 1980)
Diretor: Ruggero Deodato
Duração: 95 min
Receber o título de filme mais violento de todos os tempos não é pra qualquer um. E Cannibal Holocaust merece tal título. Feito na onda dos filmes gore explotation italianos dos anos 70 e 80, ele acabou por se sobressair sobre todos eles. Por que? Porque optou pelo realismo ao invés de pender pro exagero e pro absurdo. A forma como a narrativa foi feita feita revolucionou, tanto que hoje temos filmes inspirados em sua narrativa, e com grande qualidade ainda por cima. Tratam-se de Cloverfield e A Bruxa de Blair, dois filmaços.
Três jovens (que se juntam a um guia) resolvem fazer shockumentary (um documentário com o intuito de chocar, usandcani2o cenas fortes e apelativas). O tema seria tribos canibais na Amazônia. Mas eles desaparecem e não mais voltam. O professor deles resolve seguir seus passos e após conseguir fazer amizade com os canibais, graças a um prisioneiro de uma tribo inimiga, recupera os rolos e volta para a civilização. Daí para frente começa a surgir o filme feito pelos jovens.
E não pense que ele é fácil. Para obter cenas chocantes e instigar os índios, eles barbarizaram toda a tribo; estuprando, matando, mutilando e até incendiando. Tem até a famosa cena da empalação (essa é para poucos)!!! E pior, foram os próprios jovens que mataram o guia, quando cortaram sua perna com um facão, após ele levar uma mordida de cobra. Tais fatos causam revolta na tribo, que os aprisiona e tortura. Isso mostra que os índios, quando querem fazem pior. Os jovens sofrem castrações, decapitação, e mortes a pauladas. Ou seja: os protagonistas, coitadinhos, no início do filme, passam a vilões. As cenas finais são tensas ao extremo, com câmera trêmula e muita correria.
CH26
O filme, após as primeiras exibições, foi retirado de cartaz; e seu diretor, Ruggero Deodato, foi convocado a depor às autoridades. Entre as várias acusações estavam a de que havia drogado e matado os atores durante as filmagens. O fato deles terem sumido de cena após o lançamento do filme, contribuiu com a boataria. Somente após ele apresentar os envolvidos no filme é que foi liberado.
Motivos não faltaram para as acusações. Tudo é feito com o intuito de parecer real (infelizmente, na época não existiam virais para aumentar o burbúrio). A maquiagem é muito bem feita. Até no começo do filme, um letreiro avisava que os rolos haviam sido comprados de terceiros; o que contrariava uma ordem do professor que os obteve, que, após assisti-los, mandou que fossem queimados!!!
Esse provavelmente é o mais sinistro, violento e hardcore dos filmes aqui listados (mas não mais insano), SÓ VEJA SE REALMENTE TIVER ESTÔMAGO!!! O que não tira o mérito de ser um clássico do terror e O mais brutal de todos!
Avaliação:
Agonia - 4
Pertubação - 1
Repulsividade - 2
Assustadoridade - 3
Violência - 5

2) El Topo
                      el topo capa
El Topo (México, 1970)
Diretor: Alejandro Jodowski
Duração: 125 min
Coisas que você precisa saber sobre El Topo antes de assisti-lo:
1) Apesar de ser um faroeste, esqueça aqueles lances de mocinhos e bandidos, índios, diligências, tiros que não acabam mais e outras coisas que fizeram o gênero tão famoso.
2) Seu diretor é Alejandro Jodorowski, é um místico-cult (no estilo Grant Morrison, mas fazendo filmes) e adora encher seus (poucos) filmes de referências (especialmete o Tarô, que foi o principal tem de Incal, que em breve estará por aqui!).
3) Esse é um filme difícil de descrever e até de resenhar. Ou você fica na total superficialidade, ou vai a fundo destrinchando os conceitos propostos pelo filme. Além disso sua narrativa é bastante dividida, não tendo uma linha mais geral, exigindo uma abordagem quase que como se estivesse contando a história. Mas quer saber, isso é uma das muitas qualidades do filme e ponto.
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Agora que vocês já sabem essas coisas, saiba que o filme é uma perfeita fusão dos dois conceitos citados acima. É um western (spaguett, ao estilo Sergio Leone), com longos e belos planos desérticos...e com doses maciças de psicodelia, surrealismo, messianismo e referências bíblicas.
O filme narra a jornada de El Topo (toupeira), um cavaleiro todo vestido de preto, que tem traços de Yojimbo (de Akira Kurosawa) e do Estrnho Sem Nome (ou Blondie, da Trilogia dos Dólares, de Sergio Leone), e de seu filho, Brontis, que ao longo do filme vai abandonando sua infância. Podemos perceber essa evolução por parte de Brontis logo nas cenas iniciais do filme. Primeiro ele enterra o retrato de sua mãe e um brinquedo de sua infância. Esse ritual de "abandono dos pertences" era um ritual comum de muitas culturas americanas (maias, astecas, entre outros), e orientais. Logo depois, El Topo e Brontis chegam a uma vila massacrada. Em meio aos que sobraram, surge um homem que pede a morte. El Topo passa o revolvér a Brontis, que mata o homem e logo após abraça seu pai! Esses dois momentos servem como batismo para o jovem menino e um preparo para as agruras da vida (coisa semelhante, mas menos destacada e momentânea, acontece em Lobo Solitário, com Daigoro, que vai crescendo ao longo da trama).
Daí para frente a narrativa se divide em três partes, bastante diferentes entre si. A luta de El Topo contra os bandidos, sua busca pelos Quatro Mestres da Pistola e sua missão messiânica e libertadora na caverna. Todas as três têm simbolismo próprio (é claro que tudo Eu não consegui captar!) e referências a diferentes cuturas e disciplinas exotéricas e religiosas.
A primeira parte começa a acontecer quando um bandido acaba por se interessar pelos anéis de El Topo. Após ignora-los, um duelo é proposto. El Topo consegue matar dois bandidos, com suas pistolas. Com o que sobrou El Topo, luta fisicamente. Antes de mata-lo, El Topo acaba por arrancar uma confissão, dizendo onde está seu chefe, um tal de Coronel. el topo5Chegando lá vê o tal Coronel, sua mulher, constantemente abusada e servindo de serva e quatro servos, que mais parecem cães. Após matar um bandido e desarmar os outros, El Topo propõe um duelo com o Coronel. Ele tenta escapar, mas acaba sem opção. El Topo atira no Coronel, arranca suas roupas e sua peruca (símbolos da sua autoridade). Com este indefeso, El Topo se auto-proclama Deus (mostrando que estava num nível de soberba alto) e o castra . O Coronel acaba por se suicidar.
A mulher do Coronel, vendo o poder de El Topo, pede para que vá com ele. El Topo termina por aceitar e deixa Brontis com os monges franciscanos. Enquanto os dois estão no deserto, El Topo nomeia a el_topo_alejandro_jodorowskymulher de Mara (uma referência a Moisés, quando ele acha uma fonte de águas amargas no deserto, enquanto guiava o povo judeu. Mais referências bíblicas à frente) enquanto ela se banha no deserto. Ela reclama que naquele lugar não tem comida e nem água. El Topo, apenas enfiando a mão na areia e atirando numa rocha, consegue, ovos para comer e água para beber. Mara se encanta com os poderes de Topo, porém não consegue repetir os feitos dele. El Topo a liberta, estuprando-a (uma das formas de libertação. Quem já leu Os Invisíveis, lembra da parte em que Tom Maluco espanca Dane para liberta-lo. Aguarde a HQ por aqui no mês que vem). Ela então adquire os mesmos "poderes" de El Topo, e propõs um desafio à ele: encontrar e derrotar os Quatro Mestres da Pistola. El Topo termina por aceitar, mais para se auto-afirmar do que para mostrar o que sente pela mulher, que após a libertação está em pé igualdade com ele.
Daí para frente vemos a segunda jornada de El Topo. Mas, se a primeira serviu para aumentar seu orgulho e mostrar para a mulher seus poderes, a segunda terá efeito inverso. Será uma jornada de descontrução, mostrando fraquezas, pecados e trapaças de El Topo. Ao final dessa, ele estará alquebrado e com menos confiança em si próprio (porém, fisicamente mais capaz e poderoso).
                          el topo6
Apesar dos poderes de El Topo, os Mestres que ele precisa enfrentar são bem mais poderosos que ele. Cada mestre representa uma área física e espiritual que deve ser desenvolvida por El Topo (leia a coluna Teoria da Conspiração, cujo os PDF's são publicados AQUI, para mais informações). Mas, influenciado fortemente por Mara, ele usa de trapaças. E assim, a jornada que deveria enriquece-lo espiritualmente, termina por alquebra-lo, pois ele enfrentou homens mais fortes e que não temem a morte, e ao final a derrota se abate sobre ele. Ele perde, inclusive Mara, que foge com uma mulher toda de preto (aparentemente um alter-ego complementar do herói). Outra coisa interessante com os mestres é que quanto mais forte ele é, menos artefato e posses ele tem. O último e mais forte só tinha uma rede para caçar mariposas como arma e nem mesmo dá valor a sua vida, terminando por tira-la, após proclamar a derrota de El Topo.
Antes da terceira parte, na caverna, cabe um pequeno entreato de explicação de um fato que ocorre no após a derrota dos Quatro Mestres: o duelo na ponte.
El Topo, apesar de vencedor, estava com o espirito completamente abatido. Ele então passa por cima de uma ponte (um outro símbolo esotérico, que, entre outras coisas, simboliza passagem libertatória; lembra de Indiana Jones. Só o homem com fé passará!!!). Ele então duela com a mulher de preto (seu alter-ego) e têm as mãos e os pés feridos (referência a Jesus Cristo). Mara chega e é proposto a ela que escolha entre a mulher e ele. Ela escolhe a mulher e atira na parte direita do tórax de El Topo (mais uma referência ao sacrifício de Cristo. Com os cinco ferimentos, El Topo fica com ferimentos nos mesmos locais que Jesus Cristo quando morreu na cruz). Essa é sua morte espiritual, que servirá para liberta-lo do seu Ego e do seu Eu.
                        eltopo
Inconsciente, Topo é resgatado por várias pessoas deformadas, mendigos e aleijados; que o levam para longe dali. Ele posto por seus salvadores em uma caverna e passa a ser adorado como um deus. Até mesmo seu aspecto é mudado; os cabelos ficam mais claros e suas feições se assemelham a de um mestre hindu. Após receber um besouro para chupar, ele entra em transe e beija a velha. Ele então "renasce", com os cabelos, sobrancelhas e barba raspados. Ele parte para realizar sua missão: ir até a vila acima da caverna, conseguir dinheiro e libertar os que estão vivendo no interior da caverna (nessa caverna são depositados os dejetos da vila; resumindo: todos os que nascem deformados e imperfeitos).
Mas essa missão mostra seu lado difícil, não por ser complicado conseguir dinheiro para construir o túnel; o problema é que a vila logo se prova um local muito pior que a caverna (lembram do Mito da Caverna?). Mas boa parte dos habitantes não tinham consciência do que os estava esperando na vila, por não a conhecerem, e almejavam morar nela. Entre as bizarrices da vila pode-se reconhecer o símbolo maçonico na igreja local, que entre seus rituais, pratica roleta russa e para dizer que obteve libertação. Com essa missão El Topo conhece acba por conhecer seu destino na vila. Mas aí vai uma dica: a libertação (princípio básico das principais disciplinas mágicas e doutrinas esotéricas) e a relação mestre-discípulo é a chave para a compreensão do filme, e é o que pontua brilhantemente o destino de El Topo.
Mas você deve estar pensando: o que tem de bizarro, insano, agonizante ou perturbador nisso tudo? Vamos começar com o mais óbvio. Entre os personagens bizarros, podemos destacar o ajudante do primeiro mestre, um homem duplo. Na verdade dois homens; um sem braçosjodorowsky.el.topo e um sem pernas. O sem braços carrega o sem pernas nas costas, os dois terminam por se completar mutuamente. Mas acredite: TODO O FILME É INSANO (é como ler Os Invisíveis sem entender as referências. Não vai fazer sentido algum)! Principalmente para quem não entender as referências, que dependem de um bom conhecimento prévio nos assuntos aqui abordados para que façam sentido. Mas as vantagens de compreende-las (e de assistir o filme mais de uma vez são inúmeras) e podem até mesmo levar ao espectador a uma nova visão de mundo.
Curiosidades: o próprio Jodorowski faz a trilha sonora, além de Brontis ser seu filho na vida real também.
Os coelhos mortos durante o filme (300), foram mortos pelo próprio diretor, com golpes de caratê.
Na cena em que El Topo estupra Mara, os dois atores fazem sexo de verdade.
John Lennon que conveceu a um produtor a compra dos direitos do filme, que começou a passar nas famosas "Sessões de Meia-Noite".
Obrigatório para qualquer cinéfilo!
Avaliação:
Agonia - 1
Pertubação - 5
Repulsividade - 1
Assustadoridade - 2
Violência - 3

1) Eraserhead
                                      poster eraserhead
Eraserhead (EUA, 1977)
Diretor: David Lynch
Duração: 108 min
Esse sim pode ser considerado um filme verdadeiramente "perturbador" no sentido mais amplo da palavra. Pra quem conhece o resto da obra de David Lynch isso não é novidade, mas por ser o primeiro longa do diretor e ser totalmente independente, Eraserhead consegue ser o mais surreal e psicanalítico de todos os seus filmes.
Henry Spencer é um taciturno e descabelado funcionário de grafica que está de féria.Sua namorada, Mary X, não lhe dá notícia a semanas, o que o faz achar que está tudo terminado entre eles. Um telefonema inesperado mostra que a questão é mais complicada que isso.Durante um jantar na casa dos (esquisitíssimos) sogros, Henry descobre que Mary está gravida e deu a luz a um bebê deformado, que mais parece uma mistura de tartaruga com minhoca. Depois do casamento, Mary se muda para a casa de Henry, junto com o bebê. Após algum tempo ela o abandona e volta para a casa dos pais, deixando com ele a árdua tarefa de cuidar do (realmente nojento e repulsivo) filho.
                   foto bastidores 01
Foto Bastidores

Todos esses eventos se intercalam com cenas do mais alto nível de surrealismo e psicodelia. Em algums momentos Henry se encontra em seus sonhos com a "mulher do aquecedor"; uma loira bochechuda que só faz cantar a música "In Heaven" e pisar em fetos da bebes deformados. Na minha opnião ela representa o desejo de Henry em ter uma vida "melhor", mais "pura" por assim dizer ja que o bebe representa o lado complicado e impuro pois foi concebido antes do casamento e ainda por cima nasceu deformado. Fora essa loira ainda temos o "homem na lua", que eu não faço a menor idéia do que ele representa no filme. Temos a visinha de Henry, uma prosituta que tem uma quedinha pelo descabelado, e, juntos, eles protagonizam uma das mais bizarras representações do sexo e do voyeurismo que eu ja vi.
                   baby from hell
Apesar da fotografia densa, obscura e hipnótica criada por Herbert Cardwell e Frederick Elmes, com a filmagem em preto e branco, o que realmente assusta é a trilha sonora criada pelo próprio David Lynch. Ele utilizou muitos sons mecânicos e industriais, mixados a barulhos estranhíssimos (reparem nos ruidos emitidos pelo bebê), criando uma sensação de imersão que dificilmente se conseguiria visualmente. Para se ter uma idéia, normalmente quando eu e o Pêra assistimos esse tipo de filme, nós viramos a televisão de forma aos outros integrantes do recinto não serem atingidos por cenas fortes desprevenidos (foi o caso de Pink Flamingos). Já na seção do Eraserhead tivemos que controlar bem o volume pois todos os efeitos sonoros afetavam, não somente os personagens quanto os expectadores. Por isso, se forem assistir esse filme, assistam de fone!
Algumas curiosidades sobre o filme:
- o filme foi rodado no período de tempo de 5 anos, tendo os cenários desmontados e montados trocentas vezes.
- o roteiro original do filme tem apenas 22 páginas.
- o ator principal manteve o terrível penteado por todos os 5 anos de filmagem.
- aparentemente o bebê deformado foi feito à partir do feto de uma vaca.
- David Lynch nunca fez nenhum comentário sobre o filme. A única coisa que ele disse foi: "Niguém chegou sequer perto da verdade".
- há uma cena no filme chamada "a mulher amarrada na cama", que foi cortada por ser "muito pertubadora". Não encontrei ela em canto nenhum.
                                 foto da sequencia cortada
- Eraserhead foi selecionado como um dos 25 filmes mais pertubadores da história.
- após o fim das filmagems o "bebê" foi enterrado por David Lynch num local secreto e foi feito um brinde a ele.
- a melhor publicidade do filme foi a feita por John waters, que sempre mencionava Eraserhead como seu filme favorito enquanto promovia o recente "Pink Flamingos", tambem resenhado por nós nesse post.
- diretores como: Mel Brooks, George Lucas e Stanley Kubrick ficaram tão impressionados com o filme que chegaram a oferecer parceria a David Lynch nos filmes "O Iluminado" e "Star Wars: Episódio VI"
- a música "In Heaven" foi "coverizada" por bandas como Bauhaus, Devo, Norma Loy, WC3, Haus Arafna, Miranda Sex Garden, Annie Christian, Pankow, The Pixies, Bang Gang,e Tuxedomoon, as bandas The mars volta (resenhada ateriormente pelo Pêra), Sex Gang Children, Alexisonfire, The Melvins, Morning Runner, The Dead Kennedys e Nine Inch Nails
tambem foram inspiradas pelo filme.
Bom... é isso aí! Assistam o filme e tirem suas próprias conclusões.
Avaliação:
Agonia - 3
Pertubação - 5
Repulsividade - 4
Assustadoridade - 3
Violência - 2