sexta-feira, 20 de abril de 2018

30 anos de "fanzinagem"


Ano I – No. 01 – Abril de 1988. 30 Anos, portanto. Está lá na capa da primeira edição do NAPALM. Uma produção da FUCK YOU PROMOÇÕES ARTÍSTICAS. Mas não havia “equipe”. Havia apenas minha vontade de divulgar o mundo do rock, que eu estava descobrindo lá no meu cantinho do mundo, em Itabaiana, Sergipe. Eu, apenas eu e só eu, com toda a minha verborragia “aborrescente” (tinha 17 anos) e aquele linguajar arrogante de quem não sabe de nada mas acha que já sabe tudo – "Fuck or get fucker", que porra eu queria dizer com isso?!!!! Com o tempo e o passar das edições fui cedendo e aceitando colaborações, especialmente as de um amigo que era fanático por cinema, o que diversificou o conteúdo mas desvirtuou um pouco a proposta original – o cara fez uma matéria enorme com uma biografia de Marilyn Monroe!

“Fanzine”, entre aspas, porque eu nem sabia que estava fazendo um fanzine – isso já virou até folclore, mas é verdade. Chamava de “apostilha”. Só depois, quando a noticia de que havia uma publicação independente dedicada ao rock circulando pelo interior do estado chegou à capital, mais precisamente aos olhos e ouvidos de Silvio, vocalista da Karne Krua, e de Antonio Passos, um dos proprietários da Distúrbios Sonoros – a primeira loja especializada em rock da cidade – e produtor do programa “Rock Revolution”, que ia ao ar aos sábados pela Atalaia FM, eu fui saber o nome do que estava fazendo. Uma revista de (e para) fãs. Um fanzine.

Passos me conseguiu, gratuitamente (a distribuição também era gratuita) uma tiragem de 100 exemplares para uma das edições através da repartição pública onde trabalhava, e com isso minha “obra” passou a ter um alcance maior. Silvio me mandou uma carta, na verdade um pacotão cheio de materiais impressos e xerocados, saudando minha iniciativa e me convidando a se juntar a uma verdadeira rede de comunicação que eu não fazia a mínima idéia de que existia, através de flyers – papeizinhos que divulgavam outras publicações – panfletos – quase todos dedicados aos ideais punks e anarquistas – e outros fanzines, de todo o Brasil.

Fiquei maravilhado. Tanto que dediquei uma edição inteira à divulgação daquele material. Na verdade eu já tinha algum contato com um pessoal “de fora”, mas de forma ainda bastante tímida. Não me lembro como cheguei até eles, mas muito provavelmente foi através da sessão “Headbanges Voice”, da revista Rock Brigade. Lembro apenas que eram dois correspondentes – um de Teresina, Piauí, outro de Belém do Pará. Um deles me mandou inclusive uma fitinha gravada com a Dorsal Atlântica (acho que “Antes do fim”) de um lado e uma banda local, provavelmente o Megahertz, do outro. Mas aquilo que Silvio me mostrava era algo muito além do que eu imaginava. Era uma verdadeira corrente militante, muito rica e ativa e com ideais mais ousados que a simples busca por diversão descompromissada que parecia ser mais a onda do pessoal do metal.

Não me transformei em nenhum punk, no entanto. Na verdade houve uma quebra de continuidade no meu trabalho logo no ano seguinte, 1989. Entrei para a Universidade – UFS, Federal de Sergipe – e o ambiente acadêmico, associado à descoberta do marxismo, me dominou. Parei de publicar o Napalm. Na faculdade, ajudei a criar uma outra publicação, desta vez de forma mais coletiva e colaborativa. Se chamava “Anti-Tese”, era cheio de teses pouco amadurecidas e confusas e, por isso mesmo, teve apenas duas edições. Mas chegou a chamar a atenção no campus, provavelmente por ser uma iniciativa independente, desvinculada da luta partidária que dominava o movimento estudantil – nosso grupo oscilava entre o anarquismo, o comunismo – do “partidão”, o “Brizolismo” e o “petismo”. E o Nacional Socialismo! Havia um entre nós que se autointitulava “skinhead” – ou “careca do Brasil”, apesar de ser negro (!!!) e vivia para cima e para baixo com um livro chamado “Holocausto, judeu ou alemão”, de um tal S. E. Castan, um nazista gaúcho que se dedicava a negar o holocausto e pregar que o nazismo não era racista, mas nacionalista. Por aí dá pra se ter uma idéia do nível da confusão mental em que este meu grupinho de jovens calouros militantes estava mergulhado ...

Em 1990 deixei a faculdade e fui trabalhar nas empresas de minha família. Voltei ao mundo do rock “underground” e, em 1991, lancei um novo fanzine, o “Escarro Napalm”. Com este fui mais persistente: publiquei-o por cinco anos ininterruptos, com tiragem e periodicidade variável – de 100 a 150 exemplares que saiam a cada seis meses, aproximadamente – e consegui bem mais do que esperava conquistar.

Uma grande conquista foi o convite para participar, como “palestrante”, de um grande festival de rock independente, o BHRIF, que aconteceu em Belo Horizonte em 1994. Mas a maior de todas, sem sobre de dúvidas, foi a rede de amigos que fiz por todo o Brasil – o primeiro deles foi Fellipe CDC, do Distrito Federal. Foi dele a primeira carta que recebi em resposta ao envio do numero 1 do escarro. Nunca vou esquecer.

Há uns 7, 8 anos, eu estava na casa de meu amigo Lenaldo, em Itabaiana, quando apareceu por lá um camarada de quem eu, confesso, não lembrava mais. Seu nome era Aldo e ele havia sido, veja só, o “feliz ganhador” de uma fita cassete (OH!!!) que eu havia sorteado entre os leitores de meu primeiro fanzine, o NAPALM – o nome foi inspirada na célebre casa noturna paulistana do início dos anos 80. Isso havia sido há mais de 20 anos e, para minha extrema surpresa, o cara ainda tinha a tal fita! Intacta, em perfeito estado! Nela, uma compilação com o “supra-sumo” do Heavy Metal da época – Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Megadeth e Metallica. Confesso que fiquei emocionado em ver aquela sementinha que eu havia plantado lá atrás ainda germinando e reverberando, tanto tempo depois...  

A.

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