domingo, 22 de junho de 2014

Padura por John Lee Anderson

Poucos meses atrás, a Embaixada da Espanha em Havana organizou uma festa em homenagem à literatura cubana. O evento, que teve lugar no Palácio Velasco Sarrá, um prédio neo-colonial nos limites da Cidade Velha, constituiu um verdadeiro tratado sobre a cautela. Fidel Castro havia fechado o centro cultural da embaixada espanhola em 2003, por medo de que cultivasse a subversão, e a sede começava a reativar sua programação. O embaixador descreveu a noite como parte da “atividade diplomática de que precisamos para nossa adaptação à realidade cubana”.

O momento alto da noite era uma palestra de Leonardo Padura Fuentes, um homem baixo, moreno, de compleição sólida, com a barba embranquecida e a expressão impenetrável de um experiente pároco de aldeia. Padura é uma figura incomum na Cuba de hoje: um romancista, jornalista e crítico da sociedade que sempre driblou a censura do Partido Comunista. Mais conhecido como autor de meia dúzia de romances policiais que conquistaram uma apaixonada legião de seguidores, tanto na ilha como fora dela, Padura não é um dissidente à moda de Soljenítsin, tampouco é um mero autor comercial. Para os intelectuais cubanos e a classe dos profissionais bem informados do país, mais que um romance, cada novo livro de Padura constitui um documento, um modo de entender a realidade cubana. Embora em público fale com cuidado, em particular o escritor admite: “As pessoas pensam que o que eu digo serve de baliza para o que pode ou não pode ser dito em Cuba.” Ano passado, ele recebeu o Prêmio Nacional de Literatura de Cuba, um reconhecimento tanto de sua obra literária quanto de sua destreza política.

O evento na Embaixada da Espanha atraiu 300 espectadores ansiosos e, segundo um dos diplomatas presentes, um punhado de observadores do governo. Padura falou sobretudo sobre a disciplina necessária ao ofício de escritor, e tergiversou ao abordar a questão da censura. “Não existe uma diretriz clara que define o que deve ou não ser publicado”, disse ele a seus ouvintes. “E acredito que já haja espaço para publicar praticamente qualquer coisa em Cuba.” Mas sugeriu também que havia um preço a pagar pelas décadas de controle rigoroso: “Acho que o leitor cubano perdeu contato com o que seus compatriotas estão escrevendo, com o que escritores cubanos estão publicando hoje no resto do mundo.”

Ao longo das décadas, os cubanos aprenderam a falar valendo-se de uma camuflagem verbal que os leva a sublinhar as palavras-chave por meio de sobrancelhas erguidas, olhos arregalados, lábios franzidos. O gesto mais universalmente compreendido na ilha é o que imita um homem cofiando a barba – Fidel, cujo nome de resto não é mencionado. Durante os anos de Castro, quase toda a produção escrita que criticasse o governo vinha de fora do país, obra de estrangeiros e sobretudo do fluxo constante de cubanos exilados.

Muitos dos pares de Padura fugiram do país. Um deles, Eliseo Alberto, escapou em 1990 para o México, onde publicou Informe Contra Mí Mismo, um livro de memórias no qual revela que o aparato de segurança do Estado cubano havia tentado convencê-lo a denunciar o próprio pai. Outros, como o poeta e jornalista Raúl Rivero, foram presos por suas críticas ao governo. (Rivero também fugiu de Cuba assim que foi solto.) Padura ficou, consagrando-se como o cronista talvez mais famoso da ilha. “Mantive uma relação especial com a realidade cubana”, ele disse num encontro recente. “Vivo num bairro onde conheço todos os códigos da existência, que aprendi a dominar ao longo de muitos anos.”



Na embaixada espanhola, Padura falou do mais ambicioso dos seus livros, O Homem que Amava os Cachorros,[1] um relato ficcional sobre Leon Trotsky e seu assassino, Ramón Mercader, que terminou os dias em Cuba depois de vinte anos numa prisão mexicana. Por meio século, a visão da Cuba oficial sobre Trotsky coincidiu com a dos soviéticos: um traidor que mereceu a lata de lixo da história à qual foi destinado. Mas Padura apresenta Trotsky de uma forma bastante simpática, e seu relato sobre a vida de Mercader expõe o legado horrendo do stalinismo, que por várias décadas operou como uma religião estatal na ilha. Tal visão pode ser hoje incontestável em boa parte do mundo, mas em Cuba é tida como radical. “Esses livros – que o leitor fique avisado – abrem nossos olhos a tal ponto que nunca mais conseguiremos dormir em paz”, registrou numa resenha a blogueira dissidente Yoani Sánchez. Em sua palestra, Padura reconhece que sofre de frequente ansiedade política: “Toda vez que termino um livro, eu digo: ‘É esse que eles não vão me deixar publicar.’”

Mais tarde, perguntei ao escritor qual tinha sido sua preocupação no caso de O Homem que Amava os Cachorros, e ele respondeu: “Tudo.” É o tipo de coisa que Padura diz sempre: sinal de que é um livre-pensador crítico, mas se mantém respeitoso. “Não tenho militância, nem no Partido e nem en la disidencia”, disse ele. “Eu investigo Cuba a tal ponto que posso dizer o que Cuba é, e não fui embora do país porque sou um escritor cubano, e não saberia ser outra coisa.”

Nos últimos dois anos, o presidente Raúl Castro, que oficialmente sucedeu seu irmão mais velho em 2008, deu início a significativas reformas econômicas. Muitos cubanos esperam que uma transformação cultural venha em seguida. Na Embaixada da Espanha, Padura recebeu Pedro Juan Gutiérrez, autor de Trilogia Suja de Havana, um passeio cru pelos bairros mais barras-pesadas da cidade; admirado na Europa e na América Latina como o “Bukowski cubano”, é escassamente publicado em seu país. Gutiérrez me declarou que os intelectuais cubanos encaram o prêmio concedido a Padura como prova de uma nova abertura. “Todo mundo interpretou o prêmio como o reconhecimento de um escritor interessante – que a partir do romance policial questiona certos aspectos da sociedade em que vive – e sinal de respeito a um intelectual de valor.” Outros acreditam que o regime o tolera por motivos mais cínicos: como ele tem um público internacional fiel, censurá-lo traria um alto custo político. Por outro lado, na medida em que se reconhece que ele escreve com franqueza, o regime pode usá-lo como demonstração de sua tolerância. Um interlocutor antigo de Fidel Castro me disse que “Padura é uma pessoa inteligente, que compreende os limites. A dissidência declarada em Cuba é uma atitude extrema, e ele não chega a tanto. Só vai até onde acha que pode. Num certo sentido, existe uma espécie de pacto implícito entre ele e o regime. O simples fato de definir-se patriota – um escritor cubano que vive em Cuba, com tudo o que isso significa – é uma clara mensagem ao regime, assinalando que ele não constitui uma ameaça”.



No início do romance Adeus, Hemingway, lançado por Padura em 2001, o herói, um ex-detetive alcoólatra em dificuldades (e escritor frustrado) chamado Mario Conde, visita a cidade portuária de Cojimar, perto de Havana. E rememora um dia em 1960, quando, ainda garoto, seu avô Rufino o levou para tomar sorvete depois de assistir às brigas de galo numa localidade próxima. Rufino apontou para um velho de barba, que saltava de um lindo barco de pesca de casco negro, e disse: “Aquele é Hemingway, o escritor americano. Também gosta de brigas de galo.”

Hemingway, que de certo modo lembrava Papai Noel, mas ostentava um ar de tristeza, abraça outro homem que estava no cais e depois sai andando até um Chrysler preto estacionado a sua espera. Antes de se afastar, olha na direção de Mario e do avô, e dá a impressão de saudá-los.

“Adiós, Hemingway!”, grita o menino, recebendo em troca um sorriso. Anos mais tarde, Conde descobre que, naquele dia, Hemingway tinha acabado de percorrer pela última vez um trecho de mar que adorava em especial; e entende que o escritor americano não se despedia dele, “um pequeno inseto que tinha ido parar no cais de Cojimar”, mas de “várias das coisas mais importantes da sua vida”.

Nos romances mais recentes de Padura, ele recorre a figuras da história – como Trotsky e Hemingway – para criticar o presente. Para muitos cubanos mais velhos, Hemingway é um herói: pela imagem de machão, o amor à ilha e o suposto afeto pela Revolução. E Padura se lembra: “Quando comecei a escrever, Hemingway me deixou acachapado, tanto pela maneira como escrevia como pela maneira como viveu.” Mas se desencantou com o comportamento de Hemingway na Guerra Civil Espanhola, julgando-o complacente diante dos excessos esquerdistas. “Seu cinismo me parecia indesculpável, e eu não consegui perdoá-lo.” Hemingway muda-se para Cuba em 1939 e lá fica vivendo até a guerra de guerrilhas que leva Fidel Castro ao poder, em 1959. No ano seguinte, Fidel vence o torneio anual de pesca ao marlim batizado em homenagem ao escritor americano. Uma foto tirada nesse dia mostra os dois trocando sorrisos enquanto Papa entrega a Castro uma taça de prata; a imagem é muito apreciada pela Cuba oficial. Mas na ocasião em que Fidel declara a “natureza socialista” de sua revolução, durante a Invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961, Hemingway já tinha deixado Cuba, internando-se para tratamento na Clínica Mayo, e dali a apenas dois meses se isola em sua cabana de caça no Idaho e se mata.

Os cubanos nunca souberam ao certo se Hemingway abandonou a ilha com pesar ou com alívio. No relato ficcional de Padura, ele deixa uma pista para trás. Três décadas depois de sua partida, um esqueleto humano é descoberto na arena de briga de galos existente na Finca Vigía, a residência do escritor no alto de uma montanha perto de Cojimar, e a polícia intima Conde a dar um tempo em sua aposentadoria para ajudar na investigação. Os restos são de um americano, agente do FBI, mandado a Cuba para vigiar o escritor, e a polícia suspeita que Hemingway o tenha assassinado e camuflado o crime. Conde, o escritor frustrado, não consegue ser imparcial. Idolatra Hemingway, e antes de entrar para a polícia chegara a se ajoelhar diante de uma foto do escritor, jurando solenemente usar sua experiência como material para uma obra literária. Revirando os vestígios da vida do escritor, Conde se apossa triunfalmente de um de seus troféus: uma calcinha de Ava Gardner.

Numa visita a Cojimar meses atrás, Padura sentou-se a meu lado nos degraus que levam da amurada de pedra até a água. Toda tarde, homens e meninos se alinham no antigo píer de concreto e pescam, com as pernas pendendo da borda. Do outro lado da enseada estreita, recifes de coral dão lugar a um extenso mangue e depois aos malcuidados conjuntos residenciais de Alamar, uma cidade-dormitório ao estilo soviético. Para os residentes de Cojimar, como para muitos cubanos, as reformas econômicas recentes ainda são uma abstração. Naquela tarde de calor sufocante, nenhum navio passava, nenhum pesqueiro singrava o mar, nenhum nadador cortava as ondas. Numa pracinha contígua ao cais, os homens sentados à sombra acalentavam suas cervejas. Do outro lado da rua, um pequeno monumento branco exibe um busto de Hemingway em bronze, o rosto voltado para o mar. Não fosse a vivacidade dos pescadores, Cojimar pareceria um teatro ao ar livre cujo espetáculo tivesse acabado muito antes.

Na década de 80, Fidel Castro inaugurou outro memorial, uma “Marina Hemingway”, nos limites ocidentais de Havana, para atrair turistas ricos com seus iates. O herói de Padura tem horror ao lugar, “projetado de modo a excluir os cubanos sujos e proporcionar, aos belos e ricos do mundo, acomodação para seus iates, praias, comida, putas cordatas e muito bronzeado”. As ruas de Havana são ainda piores – o inverso de um paraíso dos trabalhadores, onde os cidadãos que se acotovelam vivem “assolados por uma ansiedade que só conseguem aliviar na forma de gritos, gestos violentos e olhares ressentidos”. A certa altura, Conde avista uma dupla de garotas se prostituindo. Ali perto, alguns meninos treinam um cachorro criado para lutar, e um negro usando guias religiosas e correntes de ouro amaldiçoa enfurecido o pneu arriado de seu Oldsmobile 54. A cidade, escreve Padura, “estava à beira da erupção, e as nuvens de fumaça que emitia eram sinais de advertência”. Num momento de reflexão, Conde percebe que era “o merdinha de um detetive particular num país onde não existem detetives nem pessoas particulares; sentia-se uma metáfora ruim para uma realidade estranha”. Como a Los Angeles de Raymond Chandler, a Havana de Padura é uma geografia do fracasso humano: as ruas são imundas; os elevadores não funcionam; as pessoas com as conexões certas dispõem de bom uísque escocês e carros caros, enquanto o resto passa fome. Os detalhes são imediatamente reconhecíveis para qualquer um que viva em Cuba. O que Padura fez foi só encontrar um modo politicamente aceitável de reconhecer o óbvio.

Leitores de certa sensibilidade política podem ler em Adeus, Hemingwayum réquiem para os malogros da Revolução. Mas as cenas cruas de Havana que Padura descreve são ambíguas: tanto podem ser vistas como um libelo contra a economia revolucionária de Fidel, como uma crítica à difusão de um capitalismo nascente. E, o que é crucial, ele não lança Hemingway contra a Revolução. Padura já escreveu sobre suas pesquisas para o romance, em que teve inclusive acesso à parte liberada da ficha de Hemingway no FBI – na qual, assinala, há quinze páginas que o governo dos Estados Unidos ainda não tornou públicas, alegando motivos de “segurança nacional”. Ao final do livro, Conde conclui que o agente da CIA morreu num confronto armado com Hemingway e dois leais empregados cubanos; Hemingway foge para evitar mais problemas com os representantes da lei americana. Fica implícito que o grande escritor amava Cuba – mesmo a Cuba de Fidel – e só deixou a ilha obrigado por agentes do imperialismo.



As ruas de Havana estão inundadas de carros particulares: Buicks, Chryslers e Studebakers do tempo de Eisenhower, que os proprietários pintaram com cores alegres e usam como táxis. Hoje, os cubanos podem ser donos de pequenos negócios – oficinas de consertos, salões de cabeleireiro, cafés – e comprar e vender propriedades. Nas ruas residenciais, encontra-se certa quantidade de casas recém-pintadas, indício da prosperidade que aos poucos se difunde entre os poucos habitantes locais que conseguiram entrar no mercado imobiliário. Muita gente transformou os aposentos dianteiros de suas casas, ou os andares térreos de prédios de apartamentos, em cafés e restaurantes improvisados.

Mas algumas dessas novas empresas só oferecem pouco mais que café, conservado quente em garrafas térmicas, e muitas não têm clientela. Do lado de fora da sorveteria Coppelia, controlada pelo Estado, formam-se imensas filas que avançam lentamente. A cidade continua muito parecida com o que era da última vez que a vi, em 2008: gasta, maltratada e implorando por uma demão de tinta. Velhos com um ar apático sentam-se nas praças e nas entradas das casas, cubanos de camiseta e sandália de dedo carregam seus pertences em sacolas de plástico. Hoje os cubanos têm mais opções, mas Havana continua a ser uma cidade decadente dominada por uma escassez perene, onde os habitantes passam boa parte do tempo se virando para satisfazer as necessidades mais básicas: resolviendo, como dizem os cubanos. Quando morei aqui, entre 1993 e 1995, todo mundo que eu conhecia, inclusive os membros do Partido, estava envolvido em algum tipo de armação – desde vender charutos ou remédios roubados das fábricas estatais até comprar no mercado negro alimentos colhidos em hortas ilegais. Nesse sentido, boa parte das “reformas” de Raúl Castro limitou-se a escancarar o que a maioria dos cubanos já praticava em segredo.

Ao final de alguns dias em Havana, percebi que outra coisa também tinha mudado. Por muitas décadas, a Revolução de Fidel havia conservado na vida da ilha uma presença exagerada, exortativa. Agora, ela parecia muito atenuada. No Malecón, o passeio à beira-mar da cidade, a Seção de Interesses dos Estados Unidos, na prática a missão diplomática americana, está instalada num prédio modernista onde oficialmente funciona a Embaixada da Suíça. Em 2006, depois que o chargé d’affaires americano instalou um letreiro eletrônico que exibia boletins noticiosos isentos de censura, Fidel ergueu uma barreira de mais de 100 bandeiras pretas do lado de fora, e construiu um coreto de concreto onde se realizavam manifestações antiamericanas. Hoje os mastros estão vazios e o coreto vive deserto.

Em torno de Havana, só havia uns poucos dos antigos cartazes louvando a Revolução, e os que restaram estão rachados e descascando. O icônico outdoor que se erguia acima de um importante túnel da cidade, anunciando o lema SOCIALISMO OU MORTE, foi retirado. Um novo cartaz afirma, inacreditavelmente, AS MUDANÇAS EM CUBA SÃO POR MAIS SOCIALISMO. E outro anuncia, destemido: O PARTIDO É IMORTAL.



Num famoso discurso de junho de 1961, Fidel Castro prescreveu um caminho para os intelectuais cubanos: “Dentro da revolução, tudo; fora dela, nada.” Nas décadas transcorridas desde então, o aparato cultural do Estado tem sido controlado por meia dúzia de dirigentes leais a Castro, que afrouxam ou endurecem os controles de acordo com as circunstâncias do país, seu gosto pessoal e, acima de tudo, a maneira como interpretam os caprichos de Fidel. Desde a década de 80, a Casa de las Américas – a instituição cultural mais importante do país – vem sendo dirigida pelo poeta Roberto Fernández Retamar, que também tem assento no Conselho do Estado. O Instituto Cubano de Arte e de Indústria Cinematográficas, responsável pela supervisão das atividades na área do cinema, foi comandado por décadas por Alfredo Guevara, outro amigo de vida inteira de Fidel.

O efeito foi desolador. A escassa cena literária de Cuba se mistura a uma turma pouco numerosa de atores, artistas, músicos e arquitetos que aprenderam a se adaptar aos rigores do sistema. Alguns floresceram: cantores da Nueva Trova como Pablo Milanés, e membros de conjuntos populares como Los Van Van; atores como Jorge Perugoría e Mirtha Ibarra. Mas a abertura que eles criam tende a ser cultural e não política, e a maioria deles esvoaça, como mariposas de cabresto, em torno de vários organismos de fomento à cultura. Para os escritores, a agência central é a União Nacional dos Escritores e Artistas de Cuba, ou Uneac, que controla várias editoras, entre elas a Unión Editorial, responsável pelo lançamento da maior parte da obra de Padura.

Uma vez por ano, o Instituto Cubano do Livro realiza a Feira Internacional do Livro de Havana, quando as obras autorizadas são expostas e vendidas. As poucas livrarias da capital se dedicam ao obviamente permitido (histórias de Cuba, poemas de José Martí). Todas parecem ter uma estante voltada ao pensamento de Fidel sobre o mundo de hoje: La Crisis del Capitalismo, Obama y el Império, “Meus primeiros anos”. Cuba parou de importar a maioria dos livros do Ocidente capitalista ainda na década de 60, e assim, como comenta Pedro Juan Gutiérrez, “quase ninguém conhece John Cheever, Raymond Carver, Richard Ford, Michel Houelle-becq, Marguerite Duras e um longo et cetera de outros. O que significa que os leitores são praticamente analfabetos”.

Todos os livros de Padura foram distribuídos em Cuba, e ele é um escritor prolífico. Além dos romances sobre Trotsky e Hemingway, e de seus outros cinco livros em que o protagonista é Conde (A Neblina do Passado, Passado Perfeito,Ventos de Quaresma, Máscaras e Paisagem de Outono), ele publicou três outros romances, duas antologias de contos, cinco coletâneas de jornalismo, estudos críticos sobre Alejo Carpentier e o poeta José María Heredia, um livro sobre os grandes músicos de salsa do Caribe e outro sobre os maiores jogadores do beisebol cubano. Seu último romance, Herejes, lançado na Espanha em setembro, é uma narrativa que se estende por vários séculos e fala das viagens de uma tela pintada por Rembrandt (Conde faz algumas aparições).

Na Plaza de Armas, na antiga área colonial próxima ao porto, percorri uma feira de livros usados ao ar livre. Títulos de ou sobre Che Guevara e Fidel Castro eram abundantes, além de reproduções de cartazes do apogeu revolucionário dosanos 60, todos claramente destinados aos turistas. Não havia nenhum livro dos escritores emigrados Reinaldo Arenas ou Guillermo Cabrera Infante. Quando perguntei se dispunham de algum exemplar de Pedro Juan Gutiérrez, recebi como resposta olhares vazios da maioria dos vendedores. Finalmente, um deles me entregou alguns volumes finos que acomodou com discrição sob uma pilha de outros. Já os livros de Padura estavam em toda parte.



Padura mora em Mantilla, onde Havana deságua na área rural em meio a oficinas de lanternagem, sítios e modestas casas de beira de estrada. Não é um lugar muito agradável de se morar; o deslocamento até o Centro da cidade leva pelo menos meia hora de carro, e a rua que passa diante da casa é larga e tomada por um tráfego ruidoso. Mas Padura nasceu nessa casa, cresceu nela, e sua mãe ainda mora no andar de baixo (seu pai morreu em setembro). Depois que se casou com Lucía, que conheceu em 1978, ele começou a construir o apartamento do segundo piso, onde os dois vivem desde então.

A casa é espaçosa e cheia de luz, com uma cozinha bem equipada e varandas que dão para as casas vizinhas; a toalha da mesa da sala de jantar tem uma impressão em silk-screen da capa da edição alemã de um dos romances do escritor. A casa é de uma limpeza meticulosa – sintoma evidente da natureza metódica de Padura. Quando cheguei, ele me recomendou repetidas vezes que fosse “lavar meu rosto”, e então, quando acedi, pediu à mulher que me trouxesse uma toalha limpa.



Leonardo Padura Fuentes é corpulento, de aparência rude, com os cabelos muito curtos e os modos de alguém acostumado com a vida nos arredores menos glamorosos de sua cidade. Comporta-se como um fanfarrão cubano típico – bebe (antes era rum, hoje é vinho tinto), fuma cigarros de fumo caporal, e usa e abusa de palavrões –, mas também é atencioso. Lucía, mulher tímida com um meio sorriso perpétuo, o acompanha por toda parte, e é a ela que ele dedica todos os seus livros, “com amor e sordidez”.[2] Não têm filhos, e concentram suas energias num dachshund decrépito chamado Chorizo, estendido como um boneco velho no reluzente piso de cerâmica. Padura está sempre às voltas com ele, carregando-o até um terraço onde ele pode urinar, e depois trazendo-o para dentro nos braços. “Imagine só, ele tem 16 anos”, diz o escritor. “Bem mais de 100 anos dos nossos.”

Padura diz que não consegue imaginar viver em nenhum outro lugar. “Tudo partiu daqui, dessa casa, desse bairro”, explica ele. Seu bisavô fundou um armazém em Mantilla, e a família nunca mais foi embora dali. Seu pai e sua mãe construíram a casa em 1954, e ele nasceu no ano seguinte. “Em casa, a literatura não existia. Meus pais são de um nível cultural bem baixo.” E isso ele revela sem qualquer tom de censura, mera constatação.

Nos primeiros anos da Revolução, os artistas cubanos gozaram de uma liberdade aparentemente ilimitada. Mas ao final dos anos 60, os comunistas dogmáticos do Partido, cada vez mais alinhados com a União Soviética, começaram a perseguir os intelectuais que davam sinais de “tendências contrarrevolucionárias”. Escritores como Guillermo Cabrera Infante e Carlos Franqui perceberam os sinais e não demoraram a se exilar. Os quepartiam eram rotulados de traidores ou gusanos – “vermes”, o mesmo epíteto aplicado por Fidel Castro aos cubanos que se mudavam para os Estados Unidos – e eram impedidos de retornar. Os que ficaram eram perseguidos, sobretudo os homossexuais, vistos como “decadentes” e portanto politicamente suspeitos. Depois de uma dura sentença de prisão, o escritor gay Reinaldo Arenas transferiu-se para os Estados Unidos em 1980, por ocasião do êxodo de Mariel.[3]

O episódio mais significativo desse período sombrio ocorre em torno do poeta Heberto Padilla. Em 1968, Padilla publicou um volume de poemas chamado Fuera del Juego, que lhe valeu um prêmio patrocinado pelo Estado. Quase imediatamente, porém, o governo denunciou o livro como contrarrevolucionário, e só permitiu sua publicação se lhe acrescentassem um prólogo deixando clara a opinião oficial sobre a obra. Três anos mais tarde, Padilla promoveu a leitura de um novo poema, chamado “Provocaciones”, e foi preso pelos órgãos de segurança do Estado devido a “atividades subversivas”. Depois de um mês encarcerado, foi obrigado a se apresentar perante seus pares da Uneac e demonstrar sua contrição. E Padilla declarou, humilhado: “Nunca me cansarei, enquanto viver, de me arrepender desses atos indizíveis e vergonhosos. Esta foi uma experiência única, que dividiu minha vida ao meio: o homem que eu fui e o homem que serei.” Os tempos que se seguiram foram de medo e limitações, conhecidos por escritores e intelectuais como os “Cinco Anos Cinzentos”. A escolha entre o exílio forçado e o trauma do ostracismo doméstico foi dura o suficiente para silenciar a maioria deles pelo resto de suas carreiras.



Padura pertence ao grupo que ele mesmo define como a Geração Oculta: os cubanos que chegaram à idade adulta depois dos piores espasmos da Revolução, mas antes da queda do comunismo. Como muitos de seus pares, cresceu acreditando na visão de um futuro socialista segundo Fidel; no verão, cortava cana nas “escolas de campo” coordenadas pelo Partido. Na juventude, sonhava em ser jogador de beisebol. “Eu conhecia o jogo, tinha paixão, talento, inteligência e velocidade”, diz ele. “Mas precisaria ser uns 30 centímetros mais alto.” Resolveu tornar-se cronista esportivo; porém, quando entrou na Universidade de Havana, em 1975, ela não oferecia o curso de jornalismo. “O planejamento socialista tinha decidido que havia um excesso de jornalistas no país”, conta.

Em vez de jornalismo, então, estudou filologia, concentrando-se em literatura hispano-americana. No fim das contas, diz ele, foi até uma vantagem: “Pude estudar jornalismo sem me contaminar com os vícios da academia.” Em 1980, depois de formar-se, começou a trabalhar como repórter para El Caimán Barbudo, o suplemento literário mensal de Juventud Rebelde, o jornal da Juventude Comunista. Ao contrário do Granma, o “órgão oficial” do Partido, a imprensa jovem de Cuba às vezes se afastava das matérias claramente permitidas; quando a prostituição recrudesceu na década de 90, por exemplo, os jovens se atreveram a denunciar o fenômeno. Padura passava boa parte do tempo escrevendo artigos de fundo sobre aspectos pouco lembrados da vida e da história de Cuba: o Bairro Chinês de Havana, a dinastia do rum Bacardi, a ascensão e a queda de um proxeneta notório nos anos imediatamente posteriores à independência, em 1910. O “Caso Padilla”, como ficou conhecido, não provocou muita repercussão, conta Padura. “Mas ainda havia muita pressão quanto ao que podia ou não ser dito, e um membro do Ministério do Interior lia tudo o que escrevíamos, tomando satisfações quando saíamos da linha.”

Ao final de três anos, Padura escreveu um artigo mencionando uma pessoa incluída na lista negra oficial. Recebeu uma advertência por “problemas ideológicos” e foi transferido para a redação principal do jornal, o Juventud Rebelde. Mas não se lembra do episódio como um castigo: teve o apoio de seus editores para trabalhar nas matérias que o interessavam, e aperfeiçoou cada vez mais seu ofício. “Foi sorte”, diz ele. “Porque lá me transformei num jornalista de verdade, fiquei conhecido, aprendi a escrever de forma narrativa.”

A essa altura, Cuba estava envolvida no conflito em Angola, mandando milhares de soldados “internacionalistas” para lutar numa das guerras por procuração mais ferozes de toda a Guerra Fria. Quando Padura estava com quase 30 anos, apresentou-se voluntariamente para passar um ano em Angola como correspondente de guerra e, para ele, esse ano foi um tempo alienante de medo e saudades de casa. Mas que serviria de inspiração para alguns dos primeiros contos que publicou, com reflexões sobre a fé revolucionária e os diferentes tipos de exílio e a solidão.

Em 1989, enquanto Padura trabalhava no Juventud Rebelde, o bloco soviético entrou em desintegração, pondo fim aos generosos créditos econômicos e às relações comerciais privilegiadas que davam suporte a Cuba já havia três décadas. Os Estados Unidos, que persistiam no embargo contra a ilha, exacerbaram ainda mais o bloqueio. Em agosto do ano seguinte, Fidel Castro anunciou seu plano para evitar a calamidade, o Período Especial em Tempos de Paz. Foi o começo de quase uma década de duras provações para muitos cubanos, à medida que a economia do país definhava até quase desaparecer.

Diante da falta de combustível, bicicletas substituíam os automóveis e juntas de bois substituíam os tratores. Muitos cubanos passavam fome; um alto dirigente do Partido me confessou que sua família às vezes tinha pouco mais que água com açúcar para o jantar. A violência, os roubos e a prostituição se multiplicaram, e motins ocorreram nos bairros mais pobres. Em 1994, cerca de 50 mil cubanos se lançaram ao mar em barcos improvisados, num esforço para chegar aos Estados Unidos. Zoé Valdés, antiga alta funcionária da área cultural, escreveria um romance sobre o período cujo título – O Nada Cotidiano – resumia a difundida sensação de desespero da época. Em 1995 ela deixou Cuba e foi para Paris.

Os que ficaram faziam o possível para enfrentar as mudanças na economia. O governo introduziu o “peso conversível” para competir com o dólar americano, corrente no turismo e no mercado negro. A nova moeda era muito mais valiosa que o peso normal, e os indivíduos que tinham acesso a ela começaram a prosperar. O efeito foi uma surreal economia de sinais trocados, em que médicos passavam fome enquanto artistas de rua e camareiras – além de escritores e artistas com vendas no exterior – podiam comer carne com seu arroz e feijão.

Em 1990, Padura foi nomeado editor de La Gaceta de Cuba, uma publicação da Uneac, e permaneceu no cargo por cinco anos. “Naquela época, você só conseguiria trabalho se fosse empregado de um organismo oficial”, lembra ele. “O Estado, até então onipresente, não era mais capaz de garantir nem a alimentação das pessoas. E procurei reverter a situação a meu favor.” La Gaceta parou de ser publicada por dois anos, deixando Padura com um ordenado modesto mas sem nenhuma obrigação concreta. “E comecei a escrever sem parar. Quase todo mundo pensava em ir embora de Cuba, mas resolvi ficar e, entre 1990 e 1995, trabalhei como um louco.” Lia vorazmente, preferindo os escritores de língua espanhola como Manuel Vázquez Montalbán e Paco Ignacio Taibo II, mas sobretudo os americanos do século XX: Fitzgerald, Faulkner, McCullers, Roth. “Ninguém conta uma história melhor que os romancistas americanos”, diz ele. Padura atribui a John Updike a inspiração para seu feito mais importante da época, a criação do personagem Mario Conde. Com Conde, tentou produzir para Cuba o que Coelho Angstrom representou para a sociedade americana. “Esses romances manifestam um desencanto com um projeto social – a Revolução – que, embora possa ser uma coisa belíssima, tem sido uma coisa... árdua.”

Quando Padura começou a escrever, os romances policiais tinham uma imensa popularidade em Cuba; constituíam quase 40% de todos os livros publicados no país, e alguns títulos chegavam a vender 200 mil exemplares em poucos dias. No entanto, como ocorria com grande parcela da arte da época, eram o que Padura descreve como “um panfleto de propaganda oficial sem qualquer valor literário”. Em 1972, o Ministério do Interior anunciou um concurso para desenvolver o gênero em Cuba: “As obras apresentadas devem tratar de temas policiais e ter um caráter didático, servindo ao mesmo tempo como estímulo à prevenção e à vigilância de toda atividade antissocial.” Os heróis precisavam ser paladinos do povo, tão corretos que nem podiam usar nomes feios.

Padura queria que a ficção abordasse “os maiores problemas da sociedade: corrupção, repressão, hipocrisia, esfacelamento ideológico, oportunismo, pobreza”. Escrever um livro policial, diz ele, era “um modo de ingressar no lado escuro e estar em contato com ele”. Mario Conde é um alcoólatra com amigos dissolutos e um vínculo tênue com seu emprego no departamento de polícia. Mas tem presença física e um olho clínico em matéria de mulheres, rum e comida, além de ser um idealista desencantado, dado a contemplar as questões insolúveis da vida – características que, todas elas, o tornam tão identificável para os cubanos como Coelho Angstrom para a classe média dos subúrbios americanos. “Conde muitas vezes pensava como eu, e agia como eu teria agido”, declarou o escritor. Conde adora Hemingway, e queria ter sido jogador de beisebol; nasceu no mesmo ano que Padura, e trabalhou por algum tempo como repórter.

Como escritor, Padura já gozava de bom nome junto aos comitês de publicação, tendo lançado até então, sem problemas, títulos sobre beisebol e músicos de salsa. Mas quando terminou o primeiro dos livros de Conde, Passado Perfeito, em 1990, a publicação foi negada. (No livro, um dos amigos de Conde dá largas a sua frustração: “Você acha que alguém nesse país sabe escrever? Porra nenhuma, e eu sei que você não está com a menor vontade de escrever, quanto mais de viver; mas é importante que não desista.”) A única opção de Padura era uma editora estrangeira – o que, como me explicou um escritor cubano, “nos dá proteção em casa”, além de aumentar as possibilidades de que o livro acabe editado também em Cuba. Padura conseguiu ter seu livro lançado pela editora da Universidade de Guadalajara e levou a Havana alguns exemplares da primeira edição; logo depois os leitores lhe disseram que tinham adorado Conde. O personagem, percebeu ele, era “um reflexo dos problemas e das frustrações da minha geração”.



Mais ou menos na mesma época, os escritores cubanos encontraram um novo protetor: Abel Prieto, presidente da Uneac e, depois, ministro da Cultura. Prieto era membro do Partido e costumava usar da palavra nas reuniões partidárias para condenar os dissidentes – mas também sabia que o país vinha perdendo boa parte de seu capital intelectual. Convenceu Fidel a permitir que os intelectuais circulassem com maior desenvoltura e, na medida em que não rompessem politicamente com o sistema, pudessem dispor de seus ganhos no estrangeiro.

Em 1993, o segundo romance de Padura em que Conde aparece como personagem, Ventos de Quaresma, ganhou um prêmio da Uneac que garantiu sua publicação, e Prieto começou a mexer os pauzinhos para lançar também uma edição cubana do primeiro livro, antes recusado. Embora num primeiro momento não houvesse disponibilidade suficiente de papel, o livro foi publicado no ano seguinte, em sucessivas tiragens pequenas que se esgotavam em questão de dias. Padura teve a ideia de fazer uma série dos romances protagonizados por Conde – quatro livros correspondentes às estações do ano de 1989, em que o Muro de Berlim veio abaixo. Em cada um deles, disse Lucía, “ele avançava um pouco mais, para ver até onde poderia ir”. E os romances, à medida que Padura ia adquirindo confiança, foram ficando mais audaciosos e mais sombrios. O primeiro é uma história relativamente comedida de corrupção oficial; o segundo fala de uma jovem professora com “uma ficha ideológica impecável” que, depois de ser encontrada morta, descobre-se ter levado uma vida dupla licenciosa de sexo e uso de drogas.

O terceiro romance, Máscaras, aborda a repressão aos intelectuais e homossexuais na década de 70. Conde, que está suspenso da força policial, investiga o assassinato de um travesti, encontrado morto num parque de Havana, trajando um vestido vermelho. O principal suspeito é Alberto Marqués, um velho dramaturgo gay, cujos vícios Padura, reproduzindo a linguagem do Partido, acusa em tom de paródia em forma de lista: “Homossexual de extensa carreira predatória, politicamente desengajado e ideologicamente desviante... protetor de bichas dissolutas, homem de associações filosóficas questionáveis, dominado por clássicos preconceitos pequeno-burgueses.” À medida que a investigação se aprofunda, Conde adquire certa simpatia por Marqués, que, apesar da repressão que sofre, “teve uma atitude de homem e ficou na ilha”. Também fica intrigado com o demimonde gay de Havana. O tratamento que Padura dá ao sexo é em geral mais sugestivo que explícito – como ocorre na maioria das sociedades revolucionárias, Cuba manifesta uma evidente propensão ao pudor –, mas numa cena escandalosa Conde faz sexo com uma mulher que ele suspeita ser transexual.

Para Padura, escrever sobre a perseguição aos homossexuais “foi como mergulhar de olhos fechados numa piscina”, diz ele. Mas estava dando mostras de uma intuição infalível para as mudanças políticas. Prieto, com outros ministros da Cultura, tinha começado a reabilitar escritores gays como José Lezama Lima e Virgilio Piñera, ambos mortos ao final da década de 70; suas obras foram reeditadas, e Lezama Lima recebeu um prêmio póstumo. Alfredo Guevara, o velho amigo de Fidel, diretor do instituto de cinema, ajudou a produzir Morango e chocolate, em que um jovem militante comunista trava amizade com um homem gay.

A aposta de Padura deu certo. “Em 13 de janeiro de 1996, Deus estendeu a mão e me escolheu”, diz ele. “Eu soube que tinha ganhado o Prêmio Café Gijón”, galardão literário espanhol acompanhado de uma remuneração de 16 mil dólares. Numa época em que o cubano médio ganhava em torno de 6 dólares por mês, era uma fortuna. Pouco depois, a editora espanhola Tusquets se ofereceu para publicar seus livros. “Quando isso aconteceu, Lucía virou-se para mim e disse: ‘A partir de agora você é escritor’”, conta Padura. De uma hora para outra, ele passava a fazer parte da pequena comunidade de indivíduos criativos que tinha estabelecido uma reputação no estrangeiro ao mesmo tempo em que conservava o favor do regime cubano. Ele e Lucía compraram um Subaru azul; começaram a viajar para o exterior com frequência cada vez maior. Quando estive com eles em Cuba, tinham acabado de voltar de uma turnê de lançamento pela Argentina e o Chile, e partiriam pouco depois para a Grécia e a Espanha.

Com o orgulho do menino de aldeia que vence na vida, Padura enumera suas realizações. “Fui traduzido em vinte línguas, e recebi outros prêmios: a comenda de Officier des Arts et des Lettres do governo francês” – acena de passagem para uma prateleira coberta de lembranças – “e, no ano passado, o Conselho de Ministros da Espanha me concedeu a cidadania espanhola honorária pelo meu mérito literário.” Vários livros de Padura foram adaptados e transformados em filmes e telenovelas estrangeiras; nos roteiros, Lucía atua sempre como coautora.



Uma noite, fui com Padura a uma festa em Guanabacoa, uma cidadezinha a leste de Havana – uma reunião de atores, escritores e artistas. Um homem chamado David Mateo me disse que era editor de uma revista virtual sobre artes, o que me pareceu inimaginável. Vários anos atrás, o regime cubano contratou a empresa estatal venezuelana de telecomunicações para dotar a ilha de cabos de banda larga, mas o projeto está inacabado até hoje, e o acesso à internet em Cuba é de uma lentidão enlouquecedora, além de muito caro. Em Havana, eu me mantinha a par das notícias frequentando o cibercafé de um hotel turístico e pagando tarifas exorbitantes pela conexão; para o cubano médio, uma hora de acesso à internet custa o salário de uma semana. De qualquer maneira, a maioria dos cubanos só tem acesso permitido à “intranet” da ilha, filtrada e controlada pelo governo. Os autores que contribuem para a revista de Mateo mandam-lhe seus textos por e-mail, e ele responde como pode. A revista propriamente dita é publicada no estrangeiro. Ele não tinha ideia de qual era a sua aparência.

Na época em que Padura era um jovem repórter, quem escrevia algo que desagradasse ao Partido era transferido para outro jornal, ou era encarregado de trabalho braçal numa plantação. Hoje a censura opera de maneira mais sutil. As poucas publicações que gozam de alguma liberdade têm tiragens pequenas e distribuição limitada, e mesmo assim precisam se submeter a alguma fiscalização. O repórter de uma importante revista me disse que todo número é remetido para observadores do governo: “Eles podem fazer sugestões de mudança no conteúdo, ou até vetar a publicação de artigos inteiros.” Para os escritores de fora do sistema, as instituições culturais são remotas e misteriosas; existe apenas uma sensação difusa de que certas coisas são apropriadas, e outras não. “É tudo muito sutil, muito discreto”, comenta Pedro Juan Gutiérrez. “Você não pode ir lá e soltar os cachorros, porque não vai encontrar ninguém numa sala, atrás de uma mesa, que lhe diga alguma coisa. Se não gostam de você, não gostam e pronto.”

Quando perguntei a Padura se seus romances alguma vez tinham sido censurados, ele respondeu: “Felizmente, não.” Mas assinalou que O Homem que Amava os Cachorros, o livro que fala de Trotsky, teve uma tiragem muito pequena; foram apenas 2 mil exemplares distribuídos no mercado cubano. Quando foi lançado na Feira do Livro de Havana, o salão estava lotado de admiradores do escritor, enquanto outros tantos ficavam do lado de fora tentando entrar. A imprensa oficial não noticiou o acontecimento, e quase não fez menção ao livro.



No jornalismo e na ficção, Padura sempre tende a voltar ao Período Especial depois do fim da União Soviética e à repressão dos anos 70, como forma de abordar os malogros mais amplos da Revolução Cubana e o silêncio cúmplice de sua geração. Em agosto de 2012, no centésimo aniversário do nascimento de Virgilio Piñera, Padura publicou um artigo intitulado “Lembrar é sempre melhor que esquecer”. Sem se referir diretamente à homossexualidade de Piñera, criticava “a marginalização e o opróbrio” que o escritor sofreu, além de denunciar a propensão, frequente entre os responsáveis por abusos e maus-tratos, a “esquecer o que não lhes é conveniente”.

Os irmãos Castro, porém, não são nomeados no texto, e em quase nenhum outro momento da atividade jornalística de Padura. No mesmo artigo, ele nos dá uma pista sobre sua reserva: “Os que eram poderosos naqueles dias nos viam como formigas que eles podiam esmagar com suas botas. Aqueles de nós que estivemos no papel de formigas nunca conseguiremos esquecer o tamanho da bota que ameaçava nos esmagar, ou o medo que nos provocava.”

Mesmo em sua obra ficcional, Padura só alude a Fidel a uma distância histórica. Em La Novela de mi Vida, recria a vida do poeta cubano oitocentista José María Heredia, que se transformou em herói nacional e acabou no exílio por suas críticas desabridas ao governo colonial espanhol. A certa altura, o herói conversa com o todo-poderoso governador espanhol sobre a repressão política na ilha. “Este país se encontra sob o olhar cobiçoso dos Estados Unidos e da Inglaterra, e se cedermos um centímetro que seja, eles acabarão tomando conta de tudo”, diz o governador. “Se, para manter a ilha espanhola, as reivindicações políticas de alguns precisam ser silenciadas, então vamos silenciá-las. Dos males, o menor. É a política, e é o realismo.”

Quando o governador faz essa profissão de fé na Realpolitik, não há como não entender quem na verdade está falando. “Heredia trava um diálogo constante com o presente”, explica Padura. “E o romance fala dos efeitos do poder sobre a vida dos indivíduos e a literatura, do ponto de vista da Cuba dos nossos dias – o que qualquer leitor pode perceber com facilidade.” Pouco depois do lançamento do livro, em 2002, a segurança do Estado de Fidel arrebanhou 75 dissidentes, entre eles 29 jornalistas “independentes”, e os encarcerou sob a acusação de traição.

Padura diz que está “consciente de uma certa responsabilidade” em comunicar a realidade da vida em Cuba, o que nem sempre é tarefa fácil. Num ensaio de 2011 intitulado “Eu queria ser Paul Auster”, escreve de maneira tortuosa a respeito do peso de seu fardo: “Nunca perguntam a Auster que direção ele acha que a economia americana devia tomar”, ou “por que ele não foi embora do país durante os anos horríveis do governo de George W. Bush”.

O escritor faz piada e comenta que, sempre que viaja ao exterior para um lançamento, “muita gente, em vez de me dizer que eu escrevo bem, elogia minha coragem por escrever o que escrevo em Cuba”. Para alguns de seus pares, entretanto, ele é tímido demais em suas críticas. Patricio Fernández, importante editor e escritor chileno, me disse: “Para permanecer na ilha como escritor, é necessário transformar-se num equilibrista e assinar uma espécie de contrato psicológico em que o escritor se compromete a não fazer barulho.” E outro escritor cubano afirma: “Seus livros vendem como pão quente porque são leves e brandos como pão de ló.”

Mas nenhum outro autor cubano conseguiu atingir o mesmo equilíbrio entre provocação e segurança. Pedro Juan Gutiérrez evita escrupulosamente a política em seus livros. Em lugar dela, escreve quase só sobre sexo – um sexo exuberante, sem disfarces ou barreiras – para produzir a crônica da vida promíscua e agitada de um homem chamado Pedro Juan, que mora num prédio arruinado numa rua maltratada do Centro de Havana, a mesma onde também mora o próprio Gutiérrez. Embora venda bem no exterior, seus livros passaram décadas indisponíveis em Cuba. Nos anos recentes, alguns volumes mais breves de sua obra, menos explícitos que a Trilogia Suja de Havana, vêm sendo publicados discretamente. E Gutiérrez me disse, faz pouco tempo: “Acho que existe hoje um desejo autêntico de afrouxar os controles sobre o que nós, os intelectuais, fazemos.” Há muitos escritores mais jovens, diz ele, “escrevendo sobre o que realmente lhes interessa, e questionando tudo”.

Um deles é Wendy Guerra, mulher engraçada e intensa de 40 e poucos anos. Em 2006, seu romance Todos se Vão foi publicado na Espanha e aclamado pelos leitores; em 2010, ela recebeu uma das mais altas honrarias culturais da França, o título de chevalier da Ordre des Arts et des Lettres. Todos se Vão é uma autobiografia pouco velada: o diário de uma jovem que não só se sente traída por uma sucessão de homens num país onde a dominação masculina é forte, como também oprimida pelo conformismo da Revolução.

Wendy Guerra disse que olha para Padura com o afeto de uma irmã mais nova, e, embora não seja publicada em Cuba, sempre pede conselhos a ele e a Lucía. “Uma das maneiras que o sistema socialista cubano sempre teve de desqualificar alguém é fazer desaparecer o nome da pessoa”, diz ela. “Meus prêmios não são noticiados pela imprensa; eu não saio nos jornais e nem tenho acesso aos meios de comunicação.” Wendy está determinada a permanecer em Havana e a continuar escrevendo, mas se sente invisível para seus pares. “Às vezes as pessoas me veem nas ruas e me perguntam: ‘Ué, você não deixou o país?’”, diz ela. “Existe um ditado: o que deixa de ser nomeado deixa de existir. Eu vivo um ‘exílio interno’ em Cuba. Fui exilada sem ter sido obrigada a ir para o estrangeiro."



Padura fala de maneira mais direta de suas opiniões sobre o jornalismo. “Na verdade, na imprensa oficial as mudanças foram poucas”, diz ele. “E faz sentido. Se a imprensa pertence ao governo e ao Partido, seria realista a imprensa criticar o governo e o Partido?” O Granma é o mesmo e chatíssimo panfleto de propaganda de sempre. Durante minha estada em Cuba, enquanto manifestantes turcos denunciavam o primeiro-ministro na praça Taksim, a primeira página do Granma preocupava-se em noticiar que um debate sobre os ideais de Che Guevara seria realizado aquela noite no canal estatal de televisão.

Certa manhã, acompanhei Padura a uma palestra que faria aos estudantes de jornalismo da Universidade de Havana. Quando subimos em seu Subaru, ele comentou que a faculdade de jornalismo continuava a ser tratada como uma espécie de enteada da academia cubana. “Estão sempre trocando as salas das turmas, que vivem sendo mandadas de um lado para o outro”, diz ele. E tira do bolso um papel. “Agora me deram o novo endereço. Espero que eu consiga achar a sala certa.” Finalmente, numa rua transversal perto da plaza de La Revolución, nos deparamos com um pequeno grupo de estudantes na entrada de um dos edifícios da universidade. Com eles está o professor, um homem de cavanhaque chamado Rafael Grillo. Sorrindo, ele cumprimenta Padura: “Você veio mesmo, não pensei que viesse.”

Como sempre, Padura usa roupas bem esportivas: uma camisa polo cinza, calça bege e sapatos bons para caminhar. Carrega na mão uma pochete do tipo usado por turistas, contendo dinheiro e documentos. Na sala de aula, encontra uns trinta estudantes a sua espera e, quando começa a falar, alguns o fotografam com seus telefones. Padura discorre sobre a necessidade de um acesso melhor à internet, seu “saco de pancadas de sempre”, e queixa-se que, para tomar conhecimento das últimas notícias, dependa de um amigo estrangeiro que as envia por e-mail uma dúzia de vezes ao dia. Recentemente, o governo anunciou a intenção de abrir cibercafés em toda a ilha. “Se for mesmo verdade, vai ser importantíssimo”, declara aos estudantes. “Seria a primeira vez que o governo admite que não pode deter o monopólio da informação.” Padura exorta o governo a afrouxar a pressão sobre os jornalistas, mudança que considera “mais importante que qualquer outra – no Partido ou mesmo no Politburo”. E continua: “Qualquer um de vocês pode se formar aqui imbuído dos melhores propósitos, mas daqui a seis meses vai estar trabalhando como repórter no Granma, ou na televisão cubana.” Faz uma careta. “E vocês sabem o que isso quer dizer.”

Para os cubanos, uma conversa assim franca sobre a liberdade de imprensa não tem muitos precedentes. Os dissidentes políticos que realizam protestos públicos geralmente são detidos, e às vezes espancados por policiais ou grupos favoráveis ao regime. Mesmo assim, parece vir crescendo o reconhecimento oficial de que os meios de comunicação estatais precisam se mostrar mais abertos. Num discurso recente, Raúl Castro acusou os meios de comunicação de “excesso de estridência e formalidade”, e de “não travar debate” (não faz diferença que ele tenha ajudado a silenciá-los por várias décadas). E de fato, depois das palavras de Padura, um impetuoso jovem da plateia afirma que sua crítica da imprensa parece um simples eco das palavras de Castro. O escritor apenas repete que existe um “vácuo inegável” no cerne dos meios de comunicação cubanos. Menciona Yoani Sánchez, a blogueira dissidente, a quem o governo tinha dado uma permissão recente para sair do país depois de décadas negando seus pedidos. “Graças a eles, Yoani se transformou numa grande personalidade, pois não a deixavam viajar, e o que aconteceu? Ela foi, voltou, e pronto.” E Padura completa, com uma expressão impassível: “Nem por isso acho que a safra de bananas de Cuba tenha sido afetada.” Risos abafados entre os estudantes. O escritor tem razão, é claro: um cubano que leia apenas a imprensa local jamais saberia que Yoani tinha regressado a Havana; aliás, talvez nem soubesse de sua existência.



Os críticos de Padura podem lhe cobrar mais coragem, mas isso significaria a vida no exílio, condição a que ele se refere como “uma pena terrível”. Ironicamente, alguns dos cubanos exilados produziram suas melhores obras depois de deixar a ilha. Cabrera Infante escreveu sua obra-prima, Três Tristes Tigres, em Londres; Arenas escreveu um brilhante livro de memórias, Antes que Anoiteça, enquanto morava em Nova York. Mas a vida no exílio pode ser estéril. Numa entrevista inédita concedida em 1983 à escritora Ann Tashi Slater, Arenas falou do deslocamento que sentia: “Qualquer pessoa que viva fora de seu contexto é sempre uma espécie de fantasma, porque estou aqui mas ao mesmo tempo me lembro de uma pessoa que caminhava por aquelas ruas, que continua lá, e essa pessoa também sou eu. Às vezes não sei se estou aqui ou lá. E às vezes a vontade de estar lá é maior que a necessidade de ficar aqui.”

E o pior de todos talvez seja o exemplo de Heberto Padilla. Libertado da prisão, mas rejeitado pela Cuba oficial, o poeta ganhava a vida com traduções e esteve impedido de deixar a ilha até 1980, quando o senador Edward -Kennedy o ajudou a obter licença para emigrar. Padilla se estabeleceu nos Estados Unidos, escreveu um pungente livro de memórias, Autorretrato del Otro, e encontrou trabalho como professor, mas nunca lhe permitiram que voltasse a Cuba. Morreu em 2000, no Alabama, depois de vinte anos longe de sua terra.

Quando a era castrista terminar, Padura bem pode estar entre os poucos artistas a ter persistido até o fim. Como ocorre com a maioria de seus compatriotas, um dos traços que mais o distinguem é a capacidade de sobrevivência. Para Wendy Guerra, “o prêmio de Padura foi uma necessidade histórica para calar os gabinetes responsáveis pela vigilância sobre as palavras. Ele é o pai de Mario Conde, o personagem que médicos e engenheiros acompanham, a primeira personalidade a emergir na ficção popular cubana em cinquenta anos de Revolução”.

Mas sugere haver mais um motivo para a relativa liberdade de Padura. “Los jefes não leem nada”, declara ela. “Só estão tentando evitar acusações na arena internacional, e acham melhor publicar o que escrevemos a ter de enfrentar os problemas que poderiam advir por um motivo que nem julgam importante.” Se Wendy Guerra estiver correta, não importa qual a extensão da abertura concedida pelo governo cubano, ela se baseia em cálculos de ordem prática; a cultura, no caso, é incidental. Uma hora a leste de Cojimar, um poço de petróleo chinês se ergue ao lado da estrada, e a oeste novas e vastas instalações portuárias estão sendo construídas pelo Brasil. No antes exclusivo logradouro de férias de Varadero, turistas da Rússia e da Argélia se juntam à multidão que viaja em busca de temporadas baratas na praia; na ponta da península uma área intocada de floresta deu lugar a um canteiro de obras de hotéis. Onde Fidel proibia o golfe no passado, investidores estrangeiros obtiveram licença para construir campos exclusivos, cercados de condomínios e shopping centers. Enquanto isso, em Havana, pela primeira vez vi gente sem teto: homens com roupas surradas, alguns sofrendo de evidente doença mental, vasculhando latas de lixo ou vagando a esmo pelas ruas.

É como se, com suas “mudanças”, o Estado cubano já tivesse começado a retirar-se de cena, e o novo ethos dominante, como em boa parte do resto do mundo, tenha passado a ser o sálvese quien pueda – salve-se quem puder, e cada um por si. Em O Homem que Amava os Cachorros, Padura diz que “a Utopia foi traída e, pior ainda, reduzida a uma paródia fraudulenta das maiores aspirações humanas”. Quando lhe perguntei recentemente se a Revolução tinha acabado, ele se esquivou, discorrendo em termos vagos sobre a institucionalização das ideias socialistas, o pragmatismo e os diversos estágios da transformação social. Entretanto, na tarde que passamos juntos em Cojimar, ele foi bem mais direto. “Cuba está encurralada entre duas visões eternamente conflitantes”, disse ele. “Uma é a de que é um paraíso socialista; a outra é de que é um inferno comunista. Na verdade, Cuba não é nem um paraíso e nem um inferno, mas um purgatório, onde alguns de nós ainda têm a possibilidade de salvação.” J

[1]O Homem que Amava os Cachorros, recém-lançado no Brasil pela Boitempo; também têm edições brasileiras A Neblina do Passado(Benvirá), Passado Perfeito, Ventos de Quaresma, Máscaras e Adeus, Hemingway(os quatro últimos da Companhia das Letras)

[2]Uma referência ao conto “Para Esmé, com amor e sordidez”, do escritor americano J. D. Salinger, de quem Padura é admirador.

[3]A emigração em massa de mais de 120 mil cubanos para os Estados Unidos, a partir do porto de Mariel. O êxodo foi apoiado por exilados e aprovado por Fidel Castro, e os emigrantes incluíam criminosos liberados das cadeias de Cuba.

por John Lee Anderson

piauí

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