Ano I –
No. 01 – Abril de 1988. 30 Anos, portanto. Está lá na capa da primeira edição
do NAPALM. Uma produção da FUCK YOU PROMOÇÕES ARTÍSTICAS. Mas não havia
“equipe”. Havia apenas minha vontade de divulgar o mundo do rock, que eu estava
descobrindo lá no meu cantinho do mundo, em Itabaiana, Sergipe. Eu, apenas eu e
só eu, com toda a minha verborragia “aborrescente” (tinha 17 anos) e aquele
linguajar arrogante de quem não sabe de nada mas acha que já sabe tudo –
"Fuck or get fucker", que porra eu queria dizer com isso?!!!! Com o
tempo e o passar das edições fui cedendo e aceitando colaborações,
especialmente as de um amigo que era fanático por cinema, o que diversificou o
conteúdo mas desvirtuou um pouco a proposta original – o cara fez uma matéria
enorme com uma biografia de Marilyn Monroe!
“Fanzine”,
entre aspas, porque eu nem sabia que estava fazendo um fanzine – isso já virou
até folclore, mas é verdade. Chamava de “apostilha”. Só depois, quando a
noticia de que havia uma publicação independente dedicada ao rock circulando
pelo interior do estado chegou à capital, mais precisamente aos olhos e ouvidos
de Silvio, vocalista da Karne Krua, e de Antonio Passos, um dos proprietários da
Distúrbios Sonoros – a primeira loja especializada em rock da cidade – e
produtor do programa “Rock Revolution”, que ia ao ar aos sábados pela Atalaia
FM, eu fui saber o nome do que estava fazendo. Uma revista de (e para) fãs. Um
fanzine.
Passos me
conseguiu, gratuitamente (a distribuição também era gratuita) uma tiragem de
100 exemplares para uma das edições através da repartição pública onde
trabalhava, e com isso minha “obra” passou a ter um alcance maior. Silvio me
mandou uma carta, na verdade um pacotão cheio de materiais impressos e
xerocados, saudando minha iniciativa e me convidando a se juntar a uma
verdadeira rede de comunicação que eu não fazia a mínima idéia de que existia,
através de flyers – papeizinhos que divulgavam outras publicações – panfletos –
quase todos dedicados aos ideais punks e anarquistas – e outros fanzines, de
todo o Brasil.
Fiquei
maravilhado. Tanto que dediquei uma edição inteira à divulgação daquele
material. Na verdade eu já tinha algum contato com um pessoal “de fora”, mas de
forma ainda bastante tímida. Não me lembro como cheguei até eles, mas muito
provavelmente foi através da sessão “Headbanges Voice”, da revista Rock
Brigade. Lembro apenas que eram dois correspondentes – um de Teresina, Piauí,
outro de Belém do Pará. Um deles me mandou inclusive uma fitinha gravada com a
Dorsal Atlântica (acho que “Antes do fim”) de um lado e uma banda local,
provavelmente o Megahertz, do outro. Mas aquilo que Silvio me mostrava era algo
muito além do que eu imaginava. Era uma verdadeira corrente militante, muito
rica e ativa e com ideais mais ousados que a simples busca por diversão
descompromissada que parecia ser mais a onda do pessoal do metal.
Não me
transformei em nenhum punk, no entanto. Na verdade houve uma quebra de
continuidade no meu trabalho logo no ano seguinte, 1989. Entrei para a
Universidade – UFS, Federal de Sergipe – e o ambiente acadêmico, associado à
descoberta do marxismo, me dominou. Parei de publicar o Napalm. Na faculdade,
ajudei a criar uma outra publicação, desta vez de forma mais coletiva e
colaborativa. Se chamava “Anti-Tese”, era cheio de teses pouco amadurecidas e
confusas e, por isso mesmo, teve apenas duas edições. Mas chegou a chamar a
atenção no campus, provavelmente por ser uma iniciativa independente,
desvinculada da luta partidária que dominava o movimento estudantil – nosso
grupo oscilava entre o anarquismo, o comunismo – do “partidão”, o “Brizolismo”
e o “petismo”. E o Nacional Socialismo! Havia um entre nós que se
autointitulava “skinhead” – ou “careca do Brasil”, apesar de ser negro (!!!) e
vivia para cima e para baixo com um livro chamado “Holocausto, judeu ou
alemão”, de um tal S. E. Castan, um nazista gaúcho que se dedicava a negar o
holocausto e pregar que o nazismo não era racista, mas nacionalista. Por aí dá
pra se ter uma idéia do nível da confusão mental em que este meu grupinho de
jovens calouros militantes estava mergulhado ...
Em 1990
deixei a faculdade e fui trabalhar nas empresas de minha família. Voltei ao
mundo do rock “underground” e, em 1991, lancei um novo fanzine, o “Escarro
Napalm”. Com este fui mais persistente: publiquei-o por cinco anos
ininterruptos, com tiragem e periodicidade variável – de 100 a 150 exemplares
que saiam a cada seis meses, aproximadamente – e consegui bem mais do que
esperava conquistar.
Uma
grande conquista foi o convite para participar, como “palestrante”, de um
grande festival de rock independente, o BHRIF, que aconteceu em Belo Horizonte
em 1994. Mas a maior de todas, sem sobre de dúvidas, foi a rede de amigos que
fiz por todo o Brasil – o primeiro deles foi Fellipe CDC, do Distrito Federal.
Foi dele a primeira carta que recebi em resposta ao envio do numero 1 do
escarro. Nunca vou esquecer.
Há uns 7, 8 anos, eu estava na casa de meu amigo Lenaldo, em Itabaiana,
quando apareceu por lá um camarada de quem eu, confesso, não lembrava mais. Seu
nome era Aldo e ele havia sido, veja só, o “feliz ganhador” de uma fita cassete
(OH!!!) que eu havia sorteado entre os leitores de meu primeiro fanzine, o
NAPALM – o nome foi inspirada na célebre casa noturna paulistana do início dos
anos 80. Isso havia sido há mais de 20 anos e, para minha extrema surpresa, o
cara ainda tinha a tal fita! Intacta, em perfeito estado! Nela, uma compilação
com o “supra-sumo” do Heavy Metal da época – Iron Maiden, Ozzy Osbourne,
Megadeth e Metallica. Confesso que fiquei emocionado em ver aquela sementinha
que eu havia plantado lá atrás ainda germinando e reverberando, tanto tempo
depois...
A.
#