quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

pra Ku Klux Klan, pode ...

Ajudar o mundo a ser mais transparente? 10 dólares. Ver Mastercard (e Visa) se afundarem na própria hipocrisia? Não tem preço...

O Público.PT nos informa que a Visa e a Master Card não mais aceitarão doação de recursos à Wikileaks, conforme é possível ler abaixo. Mas o Stanley Burbuirinho nos informa que estas ciosas organizações mercantis continuam aceitando doações para a Ku-Klux-Klan, AQUI. Se você estiver sem paciência de procurar o segundo informezinho sublinhado em amarelo no canto direito, contando de cima para baixo, clique direto aqui e pague, com seu Visa e Master Card, o seu panfleto racista.
Se você for muito curioso e quiser perguntar por que ambos os cartões podem ser utilizados para financiar os assassinos racistas da Ku-Klux-Klan e não pode ser usado para financiar uma organização que dá transparência à ações golpistas de governos proto-fascistas, pergunte AQUI para a Mastercard e AQUI para a Visa.
Para ambas fiz a seguinte pergunta: “Gostaria de saber, em meu nome e de meus leitores, por que não é possível usar cartões Visa/Mastercard para fazer doações para a Wikileaks e é possível fazê-lo para a Klu-Kux-Kan: http://www.kkk.bz/hello.htm . É esta a política da empresa?” . Vamos ver o que respondem.
Abaixo, a matéria do Público.PT (prefira-o sempre aos jornalões brasileiros):
Tanto os cartões de crédito como de débito das duas empresas vão deixar de poder ser utilizados pela organização, que, para concretizar as operações, pede o envio de donativos na sua página de Internet.
À estação britânica BBC, a porta-voz da Visa disse que a empresa vai abrir uma investigação para determinar se os negócios da WikiLeaks contradizem as regras de utilização da Visa para realizar operações bancárias.
Isto significa que os pagamentos não vão ser suspensos imediatamente, explicou, já que o processo pode demorar algum tempo – que a porta-voz não especificou.
Da mesma forma, a Mastercard disse em comunicado estar a avaliar a hipótese de suspender o uso de cartões Mastercard pela WikiLeaks antes de a situação [a investigação] estar resolvida”.
Entretanto, o site, que agora se encontra alojado no endereço wikileaks.ch, publicou um comentário na sua contra de twitter fazendo um novo apelo a mais donativos: “Tornem-nos mais fortes”.
Nos últimos dias, a WikiLeaks viu várias empresas a cancelarem serviços utilizados pela organização.
A norte-americana PayPal suspendeu a realização de transferências à WikiLeaks há dias. Uma subsidiária da Amazon comunicou ao site de Julian Assange que teria de procurar outro servidor para alojar os seus dados.
E já depois disso, uma filial bancária do serviço postal na Suíça, a Postfinance, encerrou uma conta aberta por Assange para recolha de fundos de defesa, alegando que o australiano prestou informações falsas sobre a sua morada.
(com dicas do Stanley Burburinho)
P.S.  A Visa nos respondeu:
Prezado Sr. Leider,
Agradecemos o seu contato. A Visa respeita e valoriza as perspectivas e opiniões dos portadores de nossos cartões.
Esclarecemos que, em relação ao posicionamento da Visa sobre o site WikiLeaks, a Visa suspendeu temporariamente a aceitação de pagamento Visa no WikiLeak devido a investigação pendente sobre se o site vai contra as regras operacionais da Visa, incluindo as leis locais dos mercados em que operamos.

Atenciosamente,
SAC Visa


* * * 

(Wikipedia) Ku Klux Klan (também conhecida como KKK) é o nome de várias organizações racistas dos Estados Unidos que apoiam a supremacia branca e o protestantismo (padrão conhecido também como WASP) em detrimento de outras religiões. A KKK, em seu período mais forte, foi localizada principalmente na região sul dos E.U.A., em estados como Texas e Mississipi. 

A primeira Ku Klux Klan na verdade foi fundada pelo General Nathan Bedford Forrest da cidade de Pulaski, Tennessee, em 1865 após o final da Guerra civil americana. Seu objetivo era impedir a integração social dos negros recém-libertados, como por exemplo, adquirir terras, ter direitos concedidos aos outros cidadãos, como votar. O nome, cujo registro mais antigo é de 1867, parece derivar da palavra grega kuklos, que significa "círculo", "anel", e da palavra inglesa clan (clã) escrita com k. Devido aos métodos violentos da KKK, há a hipótese de o nome ter-se inspirado no som feito quando se coloca um rifle pronto para atirar.
 
Em 1872 o grupo foi reconhecido como uma entidade terrorista e foi banida dos Estados Unidos.
O segundo grupo que utilizou o mesmo nome foi fundado em 1915 (alguns dizem que foi em função do lançamento do filme O Nascimento de uma Nação, naquele mesmo ano) em Atlanta por William J. Simmons. Este grupo foi criado como uma organização fraternal e lutou pelo domínio dos brancos protestantes sobre os negros, católicos, judeus e asiáticos, assim como outros imigrantes. Este grupo ficou famoso pelos linchamentos e outras atividades violentas contra seus "inimigos". Chegou a ter 4 milhões de membros na década de 1920, incluindo muitos políticos. A popularidade do grupo caiu durante a Grande Depressão e durante a Segunda Guerra Mundial.


A perda de respeitabilidade da Ku Klux Klan, unida a divisões internas, levou à degradação de seu público, apesar de a organização continuar a realizar expedições punitivas, desempenhando por exemplo o papel de supervisora de uma agremiação de patrões contra os sindicalistas, cuja cota estava em alta depois da crise de 1929.
Na década de 1930, o nazismo exerceu uma certa atração sobre a Ku Klux Klan. Não passou disso, porém. A aproximação com os alemães foi bruscamente encerrada na Segunda Guerra Mundial, depois do ataque japonês à base estadunidense de Pearl Harbor, quando muitos membros se alistaram no exército para lutar contra o "perigo amarelo". Só faltava o tiro de misericórdia ao império invisível. Em 1944, o serviço de contribuições diretas cobrou uma dívida da Klan, pendente desde 1920. Incapaz de honrar o compromisso, a organização morreu pela segunda vez.

Apesar de diversas tentativas de ressurreição (num âmbito mais local que nacional), a Ku Klux Klan não obteve mais o sucesso de antes da guerra. As mentalidades evoluíram. A ameaça de crise estava a partir de então descartada, tendo o soldado negro mostrado que era capaz de derramar tanto sangue quanto o branco. Finalmente, o Stetson Kennedy contribuiu para desmistificar a organização, liberando todos os seus segredos no livro "Eu fiz parte da Ku Klux Klan". Alguns klanistas ainda insistiram e suscitaram, temporariamente, uma retomada de interesse entre os WASP (sigla em inglês para protestantes brancos anglo-saxões) frustrados, que não compunham mais a maioria da população estadunidense.

Na década de 1950, a promulgação da lei contra a segregação nas escolas públicas despertou novamente algumas paixões, e cruzes se acenderam. Seguiram-se batalhas, casas dinamitadas e novos crimes (29 mortos de 1956 a 1963, entre eles 11 brancos, durante protestos raciais). Os klanistas tentaram se reciclar no anticomunismo, combatendo os índios ou atenuando seu anticatolicismo fanático.

As quimeras de Garvey tinham quebrado a solidariedade dos negros num tempo das mais pesadas ameaças; num tempo em que a Ku Klux Klan depois de 50 anos de pausa retomava a sua atividade, e quem sabe se não preparava ainda comoções mais terríveis do que aquelas a que tinha recorrido meio século antes. A primeira guerra mundial tinha também provocado nos Estados Unidos uma radicalização das condições políticas e novas correntes de ideais universalistas; acima de tudo incitou a Klan para um novo e perigoso estribilho. As tropas negras estadunidenses tinham adquirido em Paris,gosto especial por mulheres brancas; seria portanto de se esperar que indivíduos de cor viriam igualmente a importunar mulheres brancas nos Estados Unidos e que até mesmo as violentariam. Com o requinte psicológico de que o nosso século deu provas no capítulo da propaganda e no campo publicitário, estas conjeturas foram moldadas em todas as formas e com as particularidades plásticas descobertas na Europa, e depois de bem escovadas, introduzidas nos Estados Unidos. Numerosas mulheres e algumas das mais evidentes associações femininas começaram a tremer e a sentir-se ameaçadas; cada um dos negros que na Europa e no exército, de fato, se habituou a maneiras mais livres e maior segurança própria, passou a ser considerado um libidinoso errante propenso a atos de violência.

Os homens a quem dificilmente se poderia convencer de que eles também se deixariam cativar pelas negras acharam razão na propaganda da Klan por outros motivos; recordaram-se cheios de inveja de tudo aquilo que tinham ouvido e lido sobre a proverbial potencialidade de muitos negros; contaram as crianças negras de cabelo encarapinhado que viam nas ruas e quando na volta ao lar, de regresso da guerra, encontravam na sua banca de trabalho um negro ou um judeu como seu superior, na maioria dos casos não hesitaram mais e correram a alistar-se na Klan.

Os métodos da Ku Klux Klan não se haviam modificado de maneira sensível; agora, como antes, se balanceava (processo pelo qual se fazia deslizar uma vítima manietada por uma estreita barra de aço, dolorosamente, para cima e para baixo, a toda velocidade para criar atrito), espancava, extorquia, boicotava, exilava, linchava e assassinava.
Mas nada surtiu grande efeito e o declínio da Klan já tinha começado desde o fim da década de 1960, época em que só contava com algumas dezenas de milhares de membros. Depois, podia-se tentar distinguir os "Imperial Klans of America" dos "Knights of the Ku Klux Klan", ou ainda dos "Knights of the White Camelia", alguns dos vários nomes das tentativas de ressurgimento. Mas os klanistas não eram mais uma organização de massa. Apesar das proclamações tonitruantes e de provocações episódicas, as "Klans" não reuniam mais do que alguns milhares de membros, comparáveis assim com outros grupelhos neonazistas com os quais às vezes mantinham relações. A organização não parece estar perto de renascer uma segunda vez.
Klan e daquilo que pudessem os noviços do século vinte idear em horrores, mercantilismo secreto, ameaças e compromissos de maior responsabilidade. Os infernos passaram a chamar-se cavernas e as reuniões passaram a realizar-se em grandes locais muitas vezes sob o céu aberto. Não raro milhares de autos vinham reforçar, guardas a cavalo e a pé cercavam o local e estavam presentes os utensílios com que se entusiasma qualquer bom estadunidense: a bandeira das estrelas, a Bíblia aberta e o punhal desembainha do a fazer pano de fundo, uma cruz em fogo, na noite, projetava uma luz estranhamente tranquilizadora sobre as filas dos agora uniformiza-dos homens dos capuzes brancos.

De início a Klan só admitia como membros aquelas pessoas oriundas de pais brancos estadunidenses, nascidas nos Estados Unidos; além disso, os pais não podiam comungar na religião católica nem pertencer à raça judaica. Mais tarde deixou-se caducar a exigência de que os pais já deviam ser de nacionalidade estadunidense pois este ponto prejudicara em muito a solícita procura de membros para a Klan e a afluência de meios de contribuição de sócios. O candidato a aceitação era submetido do coração aos rins a interrogatórios e em seguida instruído de que a Klan exigia de todos os seus membros obediência cega. Seguia-se o juramento, batismo, ordenação e apostasia, com a leitura dos parágrafos da fé da Klan em que muito se tratava da raça branca e da religião cristã.

Os crimes que a nova Ku-Klux-Klan até a sua recente proibição cometeu, sobretudo nos estados do Sul dos Estados Unidos, são tão variados e numerosos, tão cuidadosamente velados e tão intimamente amalgama dos com as singularidades da vida pública naqueles estados, que nunca seria possível abrangê-los a todos. A simples crônica ou mesmo pequena revista, como nós aqui tentamos oferecer, nunca seria capaz de exprimir como o que aconteceu foi caprichoso e horrível. O mundo teve conhecimento aqui e ali de um registro especialmente alusivo nos jornais, mas depressa ele caiu no esquecimento da consciência mundial, ainda que esta fatalidade passe à posteridade, pois que não houve nenhum dos grandes escritores estadunidenses que alguma vez deixasse passar em branco atuação tão vergonhosa.

Hoje, a Ku Klux Klan conta apenas com um efetivo de 3 mil homens em todos os antigos "estados confederados", apesar do baixo número de associados, muitos não associados apoiam a organização.

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Uma Brasileira no olho do furacão


Sempre munida de gravador, notebook e câmera, ela já esteve com refugiados tibetanos no norte da Índia, indígenas sob massacre na Colômbia, cholas bolivianas e em favelas de Cancún. Agora, está no olho do furacão. Foi a brasileira escolhida por Julian Assange para traduzir e publicar em primeira mão documentos do WikiLeaks sobre o Brasil. Agora, a vida da jornalista Natalia Viana está, como define, uma “loucura”. Suspeita que celular e e-mails sejam monitorados. Mas conta, em entrevista por e-mail ao Link, que já tem certeza que esses documentos estão mudando a realidade dos governos mundiais.

Natalia está publicando documentos do WikiLeaks em português. Também é a responsável por traduzi-los e produzir matérias diárias para um blog e para o wiki do projeto. Seu envolvimento com o WikiLeaks começou a ser traçado há quatro anos, quando ela foi fazer mestrado em Londres. Se envolveu com centros de jornalismo investigativo e começou a colaborar com veículos estrangeiros, como os jornais ingleses Independent e Guardian. “Participei de investigações interessantíssimas sobre corrupção transnacional, abusos de empresas multinacionais, guerra biológica”, conta. De volta ao Brasil, estreitou o contato com os jornalistas investigativos de fora. E conheceu o pessoal do WikiLeaks, “muito querido e respeitado neste meio”.

Natalia virou parceria do site recentemente, para ajudar na divulgação do Cablegate. Ela conta que, lá dentro, o trabalho é feito por diversos colaboradores voluntários que se comunicam “o tempo todo” através de mensagens seguras. É como uma agência de notícias. “Discutimos a pauta, como será o ângulo, quem vai editar e a hora. Como cada um está em um lugar, os horários são diferentes, então temos de coordenar para conseguir que o material saia na hora certa”, explica. Natália conta que não há rotina. “A coisa caminha de acordo com o que acontece no dia”, diz, exemplificando com os últimos acontecimentos desde que o WikiLeaks vazou 250 mil documentos diplomáticos dos EUA. “O site sofreu ataques hackers, foi tirado da Amazon, o dinheiro foi cortado e o Julian foi preso. Claro que tudo isso acaba prejudicando o trabalho, mas continuamos firme”.

Segundo ela, o trabalho é feito por todos, não apenas por Julian Assange. O fundador do WikiLeaks acabou virando uma figura emblemática do mundo atual – australiano, ele vivia na Suécia nos últimos meses e foi preso logo após a divulgação dos documentos, com a alegação de “crimes sexuais”.

Natalia diz que gosta muito dele. É uma pessoa, diz ela, que “nunca fala frivolidades. Nunca vai ficar horas falando sobre o tempo”. Ele não fala muito, mas fica ligado o tempo todo em quem está apoiando e “armando contra o WikiLeaks”. “Ele tem uma causa que é maravilhosa, porque questiona os limites do que é jornalismo, do que é transparência e do que deve ser privado e público, é uma compreensão única do potencial da internet. O Julian é um visionário”, diz.
Assange viveu em relativa tranquilidade mesmo com seu WikiLeaks, fundado em 2007, vazando documentos cada vez mais perturbadores. O site ganhou dois prêmios importantes, da revista Economist e da Anistia Internacional, e começou a incomodar os EUA neste ano, ao revelar abusos do exército americano no Iraque e Afeganistão.

O fundador do WikiLeaks pediu visto de residência na Suécia em agosto. Dois dias depois, foi emitido um mandado de prisão contra ele por “crimes sexuais”. A promotoria sueca recuou, até que em setembro outra promotora reabriu o caso. O pedido de visto foi negado e, em novembro, Assange recebeu outro mandado de prisão. Em 20 de novembro, o fundador do WikiLeaks entrou para a lista de procurados da Interpol; pouco depois, a justiça sueca recusou a apelação. E, no meio desse trâmite, o site soltou para o mundo os 250 mil telegramas secretos do Departamento de Estado norte-americano.

Entrevista. Natalia entrevistou Assange pouco antes de ele ser preso. Ele se entregou para a polícia de Londres na terça-feira, 7, e ficará sob custódia pelo menos até amanhã. Na entrevista, Assange negou as acusações de espionagem e crimes sexuais.

“A alegação de estupro é falsa e vai acabar se extinguindo quando os fatos reais vierem à tona”, disse. Ele ainda explicou que o que seu site faz não é espionagem. “O WikiLeaks recebe material de ‘whistle-blowers’ (pessoas que denunciam algo errado onde trabalham) e jornalistas e os entrega ao público. Nos acusar de espionagem quer dizer que teríamos de trabalhar ativamente para adquirir o material e o repassar a um estrangeiro.”

Natalia conta que, durante a entrevista, “ele estava bastante irritado” por causa das retaliações das empresas ao site. A Amazon suspendeu a hospedagem, e o PayPal cancelou a conta que o site usava para coletar fundos. “Mas ele também não é de perder a cabeça. Ele simplesmente põe a cabeça dele e de outros membros para funcionar a bolar o próximo passo”, descreve Natália.

Antes do vazamento, a jornalista conta que o pessoal de dentro do WikiLeaks sabia que algo grande estava por vir. “Os colaboradores tiveram acesso ao material antes do lançamento. Todos sabiam que era muito relevante e potencialmente bombástico”. Ela conta que Assange a procurou porque sabia que o Brasil “é uma referência para quem luta por software livre ou trabalha com cultura digital”. “O WikiLeaks me perguntou se eu tinha interesse em participar do projeto, lendo os documentos, elaborando uma estratégia de divulgação aqui no Brasil e, principalmente, estudando os documentos para fazer matérias em português.” Os documentos vazados falam sobre a gestão Lula entre 2003 e 2010. “Até agora o público pôde ver casos de lobby a favor de empresas americanas, como os EUA procuram usar a proximidade com o ministro da Defesa e o chefe das Forças Armadas, como o governo esconde que faz operações de contraterrorism, e que os EUA pretendem lucrar com a segurança nas Olimpíadas”, conta a jornalista.

Ela já imaginava que o vazamento teria uma grande repercussão, mas não tinha ideia do tamanho da reação dos EUA, que responderam com pressão sobre as empresas, bloqueio de fundos e ameaças a Assange. “Poxa, isso só mostra que eles não sabem como lidar com algo que é novo”, diz. O WikiLeaks é um opositor inédito e está fora dos enquadramentos legais normais. Por isso, Natalia acredita que os vazamentos já estão mudando a realidade. “Ficam tentando arrumar um conceito penal para poder dizer que o que o WikiLeaks – e o Julian especificamente – faz é crime. Mais que o conteúdo dos telegramas em si, o desespero dos EUA vem de não saber como lidar com esse conceito de transparência radical possibilitada pela internet”, reflete.

Por Tatiana de Mello Dias

 Fonte: Estadão

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Priscilla Novaes Leone é gente que faz ...

Pitty esteve em Londres gravando um especial de TV sobre os 40 anos da morte de Jimi Hendrix, fez um ousado ensaio para uma revista de tatuagem e viu uma de suas músicas impedida de entrar na programação de uma rádio porque outra, dela própria, se recusava a parar de tocar. Contudo, a cantora vê o espaço para o rock “se estreitar” na grande mídia – ela foi um dos poucos artistas do gênero a gravar o tema do Rock In Rio, para a próxima edição. Este também foi o ano em que ela e o guitarrista Martin começaram o projeto paralelo Agridoce, distante do rock, e Martin, por sua vez, iniciou outra banda com o baterista Duda. Nada que abale o grupo, Pitty garante.


Nessa super entrevista concedida ao jornalista Marcos Bragatto e feita aos poucos via internet, a cantora também fala de jabá (sim, ainda existe), do dilema que vive quanto à formação intelectual dos fãs, das agruras de ser famoso e usar as ferramentas da internet (tem blog, twitter e facebook), além de espinafrar a falta de conteúdo das bandas mais novas. Confira abaixo todos os detalhes e prepare-se, porque o sabadão promete!

Fonte: Rock Em Geral

Rock em Geral: Vocês vão gravar um novo DVD, dessa vez no Circo Voador. O que esse vídeo vai ter de diferente se compararmos com os demais?
Pitty: Tudo. Outro tipo de edição e linguagem, a banda diferente por conta do tempo de estrada. É um show com repertório bem distinto do anterior. Inclusive, a idéia é não regravar nenhuma música que já havia entrado no “{Des}Concerto”. A idéia de fazer no Circo é antiga, nossos shows por lá sempre pegam fogo e eu queria um DVD que captasse essa vibe mais roots, mais show de rock mesmo, simples e sem firulas. O Circo Voador me pareceu o lugar ideal para isto, além de ser um lugar emblemático para o rock nacional traz no próprio nome uma “ludicidade” que me agrada muito.
REG: O lançamento será quando? Em quais formatos? O áudio sai em vinil também?
Pitty: A previsão é para março ou abril. Vai sair em DVD, Blu-ray e acredito que também em CD. Não conversamos ainda sobre sair em vinil, mas é possível. Por mim sai em todos os formatos, para cada um aproveitar do jeito que lhe convier.
REG: Sua carreira tem se pautado pelo lançamento de muitos vídeos. É uma iniciativa artística ou a necessidade de ter aquilo que o mercado consome (DVD)?
Pitty: Em relação ao “padrão” acho até que lançamos poucos DVDs. Em sete anos de carreira, de show ao vivo só tem o “{Des}Concerto”. Não fizemos DVD ao vivo de todos os discos, os outros que temos são documentários. O “Admirável Vídeo Novo” engloba uma parte da cena alternativa baiana e versões em estúdio tocando com alguns convidados; o “Chiaroscope” é um making of do disco só que sem depoimentos, é mais vídeo-arte e experimentalismo visual. São três ao todo, em sete anos, e agora serão quatro. Não tenho noção se isso é muito ou pouco, mas esses foram os que a gente teve vontade de fazer até hoje. Tem banda que mal lança disco de estreia e já vem com DVD ao vivo, né? É isso, acho que o público curte DVD. Eu também curto, mas não forço a barra na hora de fazer nem fico inventando motivo. Pinta uma idéia que a gente acha bacana, a gente vai lá e faz.
REG: O repertório já foi definido? O que você pode nos adiantar?
Pitty: O set list é baseado no “Chiaroscuro”, com alguns lado B do primeiro disco e uma inédita - até agora. Dessa vez tem participações especiais também, coisa que não rolou no anterior: Hique Gomes, do Tangos e Tragédias em “Água Contida”, e Fábio Cascadura, numa parceria nossa chamada “Sob O Sol”. A grande novidade pra gente foi trazer um tecladista (o Bruno Cunha, do Caixa Preta) para este projeto. É uma experiência que eu sempre tive vontade de fazer, muitas bandas que eu adoro usam isso com maestria e o som fica mais cheio e complexo. Morria de curiosidade de saber como ficariam as músicas, às vezes com um Hammond fazendo a cama, às vezes com barulhinhos lisérgicos de Mini Moog, e tantas outras possibilidades. Essa foi uma descoberta que veio com o “Chiaroscuro”, quando dobramos alguns riffs de guitarra com sintetizador e vimos que resultava num timbre foda, ou quando adicionávamos um piano staccato numa parte mais rápida e aquilo fazia a canção “andar”. Quando se fala em teclado percebo que alguns ainda têm uma idéia estereotipada da coisa; mas o instrumento pode ser usado como camada subliminar, às vezes quase imperceptível e adicionando uma textura nova e muito interessante aos ouvidos. O resultado nos ensaios tem sido sensacional e a gente está amarradão.
REG: Faz mais ou menos um ano que o “Chiaroscuro”, foi lançado. Com esse distanciamento, do ponto de vista artístico, como você avalia a sequência dos três discos?
Pitty: Talvez ainda seja cedo para englobar apenas três discos nessa comparação que vou fazer agora, mas é como se fossem três fases de uma vida. O primeiro é a infância: inocente, puro, aprendiz e cheio de vontade. O segundo é a adolescência: urgente, auto-afirmativo, enérgico, querendo se descobrir. E o terceiro seria a vida adulta: um prenúncio da maturidade. Cheio de questionamentos subjetivos, menos literal, mais misterioso e mais complexo, emocionalmente. É a tranquilidade de ser mais do que querer mostrar que é, aquela estranha calma turbulenta que se adquire com a idade.
REG: Em termos de vendas e exposição, o “Chiaroscuro” manteve o desempenho dos anteriores?
Pitty: Os tempos são outros, e nós também somos outros. Guardando as proporções de mercado ao longo desse tempo, o “Chiaroscuro” tem se saído melhor que a encomenda. Não é um disco exatamente “fácil”. Apesar de ter canções bem melódicas, se faz necessário uma audição mais atenta. A sonoridade dele é introspectiva, nada está “de bandeja”, tem muita coisa a ser descoberta ali. As letras exigem uma atenção maior, sempre há uma entrelinha. E o público mais jovem tende a absorver mais rapidamente coisas mais palatáveis, especialmente nesses tempos de coisas bem facinhas. A melhor coisa do “Chiaroscuro” foi ter trazido para perto uma galera mais velha e com referências mais parecidas com as nossas, além de ter mantido os que cresceram desde o nosso primeiro disco e continuam se identificando. Vender disco já nem é de fato um objetivo, é um milagre. Sobre exposição, a grande mídia também mudou de lá pra cá. O espaço para rock (rock mesmo, digo) se estreitou. Mas é sempre um ciclo. Isso tudo é periférico, e não deve influenciar na decisão de se fazer um disco assim ou assado. Para mim mais vale esperar o mundo girar a meu favor do que, a cada nova estação, adquirir uma camuflagem para caber na situação. O que sei é que dos três, o “Chiaroscuro” é o que tenho mais orgulho.
REG: Você disse que não consegue colocar uma nova música nas rádios porque “Me Adora” continua tocando. Por que isso acontece?
Pitty: As rádios têm um número limitado de músicas nacionais a serem tocadas, bem menor que o espaço reservado para as músicas gringas. Isso porque (e eles comprovam em Ibopes e afins) artistas internacionais na programação dão mais audiência. Bom, foi o que eu soube. E aí que “Me Adora” - que de início sofreu uma boa resistência para ser tocada - começou em uma rádio que primeiro abriu o espaço, ganhou força, passou para as outras e não saiu mais das paradas. Continuava entre as mais pedidas mais um ano depois do lançamento, o que me deixa muito lisonjeada. Só que já precisávamos vir com coisa nova, e não é possível ter duas músicas da mesma banda nesse espaço já restrito de programação nacional, além da questão de “Fracasso” ter umas guitarras mais roncantes coisa e tal. Ou a letra, sei lá. Vou te falar que isso tudo sou eu tentando entender, porque no final das contas acho que se tivéssemos feito versões acústicas tinha tocado qualquer uma. Mas a coisa anda tão sinistra que eu soube de gente que não tocou “Fracasso” sob a alegação “não toco uma música com esse título na minha rádio”. Cada um com sua loucura, né?
REG: Você é um dos poucos artistas que são “trabalhados” nos moldes antigos, com pagamento de jabá às rádios e TVs. Você acha que isso ainda funciona?
Pitty: Não é bem assim. Sou de uma gravadora independente que não conta com rios de dinheiro, especialmente em tempos de crise. Nunca soube de jabá em TV - ao menos pra mim, não sei como funciona para os outros. Nas rádios o que sei é de alguns shows promocionais, sem cachê. Isso é tranquilo, porque estou tocando para divulgar o meu som, isso não me incomoda. Ou de promoções com os ouvintes, o que também não me incomoda nem um pouco. Se fosse simplesmente pagar para tocar, teoricamente eu não teria preocupação com singles mais pesados, e não é o que acontece. Cada rádio tem o seu perfil, e a coisa é que não existe mais rádio exclusivamente de rock no Brasil. Rádio grande, digo. Aí fica tudo misturado, padronizado. É ter banda de rock competindo com r&b e pop, que por ter um público maior, naturalmente ganha mais espaço. E o rock fica ali espremido, tímido, tendo que se enquadrar nesse padrão médio para não destoar dentro da programação. Eu já dou murro em ponta de faca demais, isso cansa. E o pior é ficar de “lobo da estepe” na situação, sem nenhum artista ou banda para fazer coro a essas questões. Mas tocar em rádio ainda funciona, e muito, se você quer atingir um público mais massivo. Nem todo mundo tem internet banda larga em casa. Se interessar, até escrevi sobre isso uma vez: www.pitty.com.br/blog.php?id=182
REG: Recentemente você começou um novo projeto, Agridoce, como o guitarrista Martin, bem diferente do que você faz e distante do rock. O que pretende com ele?
Pitty: Exercitar outros lados, tocar piano, aprender a gravar em casa. Laboratório, experimentações. E botar pra fora essa parte mais introspectiva e melancólica que às vezes aparece nas minhas composições. Brincar com outra sonoridade, outro clima. Aproveitar meu tempo de forma criativa. Isso tudo era pretendido desde o começo; nada era no quesito “trabalho”. A coisa começou a chamar atenção e pessoas escreveram e se interessaram por isso, e aí pintou convite pra disco, show. Mas por enquanto, sei lá, a gente só quer fazer mesmo.
REG: O Martin e o Duda também têm outro projeto. Vocês estão cansados de fazer o que fazem ou faz parte tocar algo diferente de vez em quando?
Pitty: Não é cansaço; é muita energia criativa e uma enorme inquietude e curiosidade. Considero isso algo bom. Dá uma renovada, especialmente benéfica para a nossa banda principal. Projeto paralelo é pra isso, pra você gastar outros lados e experimentar novas possibilidades. No meio do ano, por conta de Copa do Mundo e eleições os shows deram uma diminuída. E aí, eu ia ficar fazendo tricô? Fomos ouvir som e fazer música.
REG: Você continua fazendo muitos shows? Tem idéia de quantos faz por ano e o número de cidades?
Pitty: Esse ano foi bem estranho, como eu falei. Pra todo mundo foi assim, todas as bandas sentiram. No fim do ano deu uma embalada boa, mas não sei de números. A média é de dois por fim de semana. Nos primeiros anos de banda fazíamos - sei lá - uns duzentos shows por ano. Hoje, sete anos depois, acho mais importante priorizar a qualidade do que a quantidade. Menos e melhores shows, em melhores circunstâncias. E assim ter tempo para outras atividades criativas.
REG: Depois de três discos bem sucedidos já deu pra comprar muita coisa com o dinheiro que você ganhou? Já dá para parar de trabalhar e só curtir a vida?
Pitty: Mas fazer o que eu faço é que é curtir a vida. Não sei o que seria curtição maior senão isso. Com a grana desses anos pude finalmente ter uma casa, um cantinho pra chamar de meu, isso é o mais precioso de tudo. Morria de medo de, literalmente, não ter onde cair morta. No mais, não tenho grandes sonhos de consumo. Não economizo com discos e livros e filmes, mas morro de pena de gastar com sapato ou roupa, por exemplo. O que considero luxo hoje com a grana que ganhei é poder viajar para festivais gringos e ver bandas fodonas. Me comprometi comigo mesma de uma vez por ano me dar esse presente.
REG: Você já parou para pensar sobre que tipo de público tem formado? A julgar pelos comentários deixados aqui no site, em matérias com você, em geral são pessoas muito novas, que mal conseguem se expressar ou fazer alguma observação interessante. Isso te incomoda?
Pitty: Eu vivo num eterno conflito em relação a isso. Por um lado, esse é o reflexo de ter atingido um grande público, heterogêneo, de várias classes sociais, idades e níveis intelectuais. Isso é, talvez, o “povo”. Por vezes não captam nem entendem todas as minhas referências, nunca ouviram falar dos livros que li ou das bandas que gosto, mas de alguma forma se identificam com meu som. Isso é bom na medida em que talvez a banda sirva de porta de entrada. Alguns desses podem se interessar e serem fisgados para estes assuntos. O lado cansativo é ter que agir didaticamente ou ser tido como um alienígena. Muitas vezes encontro pessoas que dizem gostar do meu som, mas que não têm absolutamente nada a ver comigo. E quando encontro gente que saca do que eu tô falando, é um presente sem tamanho. Tem outra coisa também: o rock no Brasil é extremamente infantilizado, em todas as frentes. Os adultos que curtem rock no Brasil acabam buscando lá fora suas referências e tem uma tendência enorme de desprezar as bandas brasileiras justamente porque aqui, para uma banda se divulgar em larga escala, ela precisa estar numa mídia mais popular ou voltada para os teens. Os adultos roqueiros do Brasil estão um tanto órfãos de boas publicações e canais de TV voltados para o estilo. O rock brasileiro acaba tido como “coisa de criança” e cria-se um enorme preconceito em relação às bandas porque estão todas juntas no mesmo saco - as legais e as bobinhas. Conheço muita gente que curte meu som, mas tem vergonha de dizer diante dos amigos porque admitir que gosta de uma banda brasileira famosa é pejorativo. As independentes tudo bem, é “cool”. Claro que existem sites, publicações e programas mais alternativos que dão conta do recado, mas atingem apenas aquela parte das pessoas que busca a informação de forma mais direcionada. E aí o que acontece é que a gente lida com uma galera mais popular e suas limitações, isso inibe uma galera com referências mais profundas de chegar perto “porque eu não posso gostar da mesma coisa que essas pessoas gostam”, e vira esse ciclo vicioso maluco. Os comentários no site talvez sejam o reflexo disso tudo, e para se pagar as contas confortavelmente com rock no Brasil é necessário atingir muita gente e sair do gueto. Eis aí o dilema.
REG: Você participou do clipe de lançamento do Rock In Rio, e era quase solitária como artista de rock. Como você vê isso?
Pitty: Tranquilamente, tenho consciência de que esse é o perfil do Rock in Rio. Desde o começo sempre teve artistas de outros estilos. Se não me engano Elba Ramalho, Ivan Lins e Moraes Moreira estiveram na primeira edição. Mas tem as grandes bandas de rock gringas também, e tocar num festival desse porte é sempre uma coisa sensacional para qualquer artista.
REG: Como artista grande, você deve se encontrar todo momento (em festivais, programas de TV e eventos) com artistas do mainstream que fazem música de gosto duvidoso - para dizer o mínimo. Como fazer para conviver com essas pessoas?
Pitty: Com civilidade e respeito. Cada um tem direito de fazer o que quer e eu não tenho obrigação de gostar, mas tenho obrigação de ser um ser humano civilizado e saber conviver com as diferenças. Não preciso dar tapinhas nas costas, apenas ser educada e cortês. Posso tranquilamente me dar bem com determinado artista no nível pessoal e não ter o disco dele em casa.
REG: Como você vê o novo chamado novo rock “teen” nacional?
Pitty: Não sei exatamente o que se enquadra nessa categoria ou não. Falam muito dessa coisa do “colorido”, mas, sinceramente, isso é o que menos importa. Não tô nem aí se é colorido, preto e branco ou incolor. Para mim vale a essência e a profundidade da coisa. E por isso, generalizando, vejo uma triste falta de conteúdo. Parecem não prezar pelo aprimoramento da linguagem, da escrita, do questionamento. Nem tô falando de ser panfletário ou algo do tipo, é possível falar sobre coisas leves com um vocabulário mais interessante. A questão é a falta de aprofundamento sobre qualquer assunto. É a superficialidade, a bobice, a falta de “culhão”. Por exemplo, vejo dizerem que o assunto “amor” é o vilão da história, que as bandas só falam disso e etc. E aí me lembro de grandes figuras como Cartola, Noel Rosa ou Morrissey que conseguiram falar de amor com poesia e sensibilidade, abordando lados menos óbvios, e vejo que a culpa não é do assunto. Talvez falte vivência, mesmo. Vejo também uma valorização exacerbada da imagem em detrimento da mensagem. Sou a favor da estética se ela serve pra endossar e comunicar uma idéia. Mas se não há idéia, a imagem é apenas uma embalagem bonita e oca. Um livro de capa deslumbrante e páginas em branco. Falta coragem para falar sobre as coisas nem sempre tão corretas que a gente sente; falta veneno, passionalidade, visceralidade, curva, malícia. Senão fica tudo muito morno e ajeitadinho, bonzinho e bonitinho. E sinto que o rock não nasceu para ser “inho”. O rock é “ão”.
REG: Sobre um novo disco, alguma coisa já agendada?
Pitty: Penso em fazê-lo ano que vem, ainda não sei quando, nem como, nem o quê. Tenho alguns embriões de idéia por aqui, mas vou deixar isso amadurecer no tempo certo. Um projeto de cada vez, e agora é hora de clipe novo e DVD.
REG: Imagino que o que você ouve hoje seja diferente daquilo que ouvia antes da fama. Isso muda na hora e definir que tipo de som vai fazer?
Pitty: Na real é diferente não por questão da fama, mas sim da passagem do tempo e do conhecimento de coisas novas. O que eu ouço hoje não anula o que eu ouvia antes, mas soma. Na hora de fazer som tudo aparece muito mesclado, os de hoje e os de ontem.
REG: O que você tem ouvido? Quais bandas têm te impressionado ultimamente, ao vivo?
Pitty: De mais recente que me chapou foi o Grinderman, banda do Nick Cave. Fiquei um tempo obcecada com o disco “Friendly Fire”, do Sean Lennon, mas já melhorei. O novo da Imelda May é massa, o Arctic Monkeys não é tão novo, mas não sai do meu play list. Curto muito a onda “Joy Division” do She Wants Revenge também. De shows, ver o Queens of The Stone Age e o Mars Volta no SWU me deixou abalada emocionalmente, especialmente o QOTSA. Absurdo como os caras são bons no palco.
REG: Você usa as ferramentas da internet com frequência, mas, outro dia, no twitter, te sugeriram para ser adicionada, foram reclamar com você e você protestou. Como vê essa relação artista na web x mundo real?
Pitty: Não lembro desse caso especificamente, mas volta e meia fico de saco cheio quando aparece gente sem noção. É impressionante como algumas pessoas não entenderam a finalidade da ferramenta e te cobram coisas absurdas. Ou mandam duzentas vezes mensagens irrelevantes de “me segue”, “me dá um oi” e criancices desse tipo. Pra quê seguir gente que eu não conheço se mal tenho tempo para ler os dos meus conhecidos? Nem consigo adicionar todos os amigos que quero. Teria que passar a vida na frente do computador, e ainda assim não daria conta, e ainda assim teria alguém reclamando “que não dá atenção”. Talvez a culpa seja dessa relação nociva de vassalagem que se estabeleceu entre banda e público, esse toma lá dá cá. “Goste de mim porque te mando beijo, digo que te amo, supro sua carência afetiva”. Acho perigoso esse paternalismo porque o que realmente importa, que é a música, acaba ficando sempre em segundo plano. Tem gente que aposta nisso como moeda de troca, se utilizando dessa carência para barganhar mais votos em prêmios ou coisas assim. Não quero que gostem de mim por causa disso, quero que gostem porque minha música os diz alguma coisa, porque se sentem tocados profundamente por ela. Eu não tenho nada a oferecer que não sejam minhas canções e minha própria confusão enquanto ser vivo - também em forma de arte. Se isso os alimenta, ótimo, me sinto recompensada. Se não, é hora de questionar se estão ali pela música ou pelo oba-oba. Ainda assim, a internet é um ótimo lugar pra dividir idéias e aprender coisas, e nesse caminho já conheci muita gente que valeu a pena e me acrescentou muito, portanto, valorizo bastante esse meio de comunicação.
REG: Você também sempre atualiza o seu blog e, no twitter, se intitula como “escrevedora”. Essa é uma vocação deixa de lado pela carreira artística ou as duas coisas caminham juntas?
Pitty: As duas coisas caminham muito juntas. Mas eu escrevo compulsivamente e obsessivamente, e preciso de mais lugares para escoar esses escritos além das letras de músicas, por isso o blog. Um dia, se eu tomar coragem, quem sabe faço um livro de crônicas.
REG: Você passou uma temporada em Londres recentemente, num trabalho envolvendo as homenagens aos 40 anos da morte de Jimi Hendrix. Explica como foi esse trabalho?
Pitty: Me chamaram para apresentar um documentário sobre os 40 anos da morte de Hendrix feito em Londres, passando por lugares emblemáticos da carreira dele. Aconteceram eventos especiais na cidade por conta disso, a casa dele foi aberta à visitação, com memorabília rara e tudo o mais. Foi sensacional a experiência, aprendi muito. Além disso, teve uma “Rock Tour”, visitando lugares importantes para o rock inglês e ouvindo as histórias das bandas. Conheci o Rainbow Theater, lugar de shows históricos onde, por exemplo, o Pink Floyd tocou o “Dark Side of the Moon” pela primeira vez. Hendrix incendiando a guitarra entrou pra história por causa do (Festival de) Monterey, mas em Londres eu descobri que poucos meses antes do Festival ele havia “testado” essa performance no Rainbow. Trabalhei, mas também me diverti a valer. Turismo etílico nas centenas de pubs, Camden Town e seus vinis, e aventuras por inferninhos do submundo londrino.
REG: Uma vez te perguntei sobre posar nua para uma revista masculina e você disse que não, que isso é uma “banalização da mulher”. No entanto, para uma revista de tatuagens, você mostrou muito mais do que se esperava. Mudou de idéia nessa questão?
Pitty: Claro que não. A diferença está na linguagem e no veículo. Ali era uma revista de tatuagem e comportamento, com matérias bacanas e textos que vão além da coisa da “mulher pelada”. O corpo ali é só mais uma coisa dentro de um todo. O público também é diferente, são outros valores. Meu problema nunca foi o pudor, por mim vivia todo mundo nu. O problema é a mente pequena, é querer a mulher de perna aberta desde que esteja de boca fechada.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sobre o programa de rock

O programa de rock foi ao ar pela primeira vez no dia 30 de março de 2007, e disse a que veio já em sua primeira edição, com uma programação eclética e sem preconceitos, indo de clássicos do rock (a primeira faixa executada foi “All right now”, do Free) à musica extrema e experimental do underground brasileiro (Discarga Violenta, de Natal-RN). Foi fruto de uma mudança de postura na direção da radio publica do estado de Sergipe, motivada pela posse de um novo governo. Fomos convidados, eu e Fabinho, da banda snooze, a fazer um “programa de rock”, e foi o que fizemos (como devem ter notado, não foi muito difícil escolher o nome). O objetivo era (e é) bem simples: colocar o rock no ar, fugindo ao máximo do óbvio e dando espaço para a música autoral e independente de Sergipe, do Brasil e do mundo, mesmo sem ignorar possíveis hits ou clássicos que considerássemos indispensáveis. Com isso, dar um respiro nesse mar de mediocridade em que se transformou o radio brasileiro, tomado pelo que de pior possa existir em termos de pastiche musical.
É certo que nem tudo é lixo no dial sergipano – há ainda, além da Aperipê FM, alguns lampejos de diversidade em meio à selva mercadológica emburrecedora. Recentemente entrou em operação a Radio Universitária, mantida pela Universidade Federal de Sergipe, e a Liberdade FM, mesmo tendo sido comprada pelo “gênio do mal(gosto)” Gilton Andrade, o dono da “Calcinha Preta”, manteve sua linha de programação (baseada na MPB) relativamente intacta. A radio mantêm, inclusive, um programa de cerca de 3 horas de duração, às sextas, dedicado ao rock, o “Rota 99”. Há também o “105 Puro rock”, na Anchieta FM, radio comunitária do Conjunto Augusto Franco. O programa de rock veio para se somar a eles, com um diferencial: é bem mais eclético e dialoga melhor com a cena, já que o primeiro vai ao ar por uma radio comercial e por isso não pode ousar tanto quanto o nosso, e o segundo está um tanto quanto preso a uma linha quase que totalmente voltada para o metal. A lamentar o fato de que a freqüência que já pertenceu à melhor (ou menos ruim) “radio jovem” da cidade, a Atalaia FM, esteja hoje ocupada pela horripilante e assumidamente jabazeira Jovem Pam. Pela Atalaia FM foram ao ar, em tempos bem diferentes, os dois únicos programas especializados em rock de que tenho notícia no rádio aracajuano, o “Playground”, comandado por Patrick Tor4, Rafael Jr. e Bruno Aragão no comecinho dos anos 2000, e o “Rock Revolution”, na longínqua década de 80. Através do “Rock Revolution”, que era produzido por Antonio Passos e Roberto Aquino, também proprietários da pioneira Distúrbios sonoros, única loja especializada da época, eu, que era um adolescente espinhento começando a ouvir rock em Itabaiana (as ondas da Atalaia chegavam lá em alto e bom som) via Iron Maiden, AC/DC, Metallica e afins, fiquei conhecendo muita coisa que tinha ouvido falar apenas de nome, através da Revista Bizz, como Mutantes (ainda não redescobertos), Fellini, Voluntários da Pátria, Akira S., Casa das Máquinas, e bandas daqui mesmo de Aracaju, coisa que eu nem sonhava que existia, como o Alice e o Crove Horrorshow. Me influenciou muito – por muito tempo eu guardei as fitas k7 em que gravava o programa para ouvir de novo. Uma pena que este material tenha se perdido …
Eu mesmo já havia tido algumas experiências com radio antes do programa de rock. Nos anos 90 meu amigo (infelizmente já falecido) Ademir Pinto me convidou para ser um dos produtores de um programa que ele havia criado para a Itabaiana FM, da qual era operador. Chamava-se “Guilhotina” e era semanal, ia ao ar aos sábados por volta das 8:15 da noite e eu, que já morava em Aracaju, colaborava despencando de 15 em 15 dias de carro para a “capital do agreste” com o porta-malas do carro cheio de vinis, CDs e fitas k-7. Nos outros dias o próprio Ademir ou outros convidados de lá mesmo da cidade produziam. Foi divertido – não esqueço de uma edição em que tocamos só grindcore, em represália ao fato de que o programa poderia ser (e era) interrompido a qualquer momento para transmitir a inauguração de um poço artesiano num povoado qualquer com a presença do excelentíssimo Sr. Vice-governador de então, não por acaso também proprietário da rádio. Ou do dia em que tocamos o primeiro do Raimundos na íntegra, ainda antes da banda estourar, ou quando toquei a inacreditável “canção de amor” da também brasiliense “Os Cabeloduro”, provavelmente a música com a letra mais pornográfica já feita. Ademir queria mesmo ser demitido e nos dava carta branca, e a gente realmente “escaldou”, testou os limites, mas não adiantou nada, a única coisa que o dono da radio falou uma vez, segundo ele, foi que sentia falta de Raul Seixas, ou seja: mandou apenas um tradicional “toca Raul”.
Minha outra experiência foi com o “Frequencia Underground”, que ia ao ar pela Carcará FM, radio comunitária do Bairro América, já em Aracaju. Era produzido por mim e por Marcelo Gaspar, ex-guitarrista da Karne Krua. Durava 3 horas de relógio e nele nós também tínhamos liberdade total. Dessa época me vêm a memória nossas incursões ao “Drink no Inferno”, como foi batizada pelos caras do Jason a boate de streap tease que havia na coroa do meio e para a qual nos dirigíamos depois do programa (ambos solteiros e sem nada pra fazer num sábado á noite, dá nisso), e uma noite em que tivemos que trabalhar mascarados, com a camiseta amarrada ao rosto tapando o nariz, para tentar suportar o fedor causado pelo rastro de alguém que pisou em merda e entrou nos estúdios acarpetados.
Ao longo desses três anos de programa de rock, acompanhamos e ajudamos no crescimento da cena independente local, divulgando shows e eventos através da “Agenda rock” e de entrevistas (muitas delas seguidas de um pocket show executado ao vivo no estúdio) com bandas de fora do estado de passagem por aqui, como ENNE (MG), Silent Cry (MG), Velho de Câncer (RS), Uzômi (RJ), Gangrena Gasosa (RJ – na figura de seu fundador e vocalista Roanldo Chorão, que estava na cidade de férias), Lamashta (AL), Pelvs (RJ, representado pelo guitarrista Clínio Jr.) e Mahatma Gangue (RN). Também entrevistamos, sempre ao vivo, representantes de praticamente todos os setores envolvidos no cenário local, como produtores (os produtores do Rock Sertão, Estranho do “Eu sou do rock”, Dani e Ivo, Roberto Nunes do Cine Cult, Fabio Andrade da Terrozone, Edcarlos da Rock Vivo, Débora e Evandro do Game Anime Expo, Thiago Porto do Kaos Fest), artistas solo (Werden, Vicente “Coda”, Sabrina Porto), editores de fanzines (Adolfo Sá, Rafael Jr, Cícero “Mago”, Nininho, Fabio) e membros de bandas como Cessar Fogo, Plástico Lunar, The Baggios, Karne Krua, Máquina Blues, Urublues, Scarle Peace, Warlord, Sign of Hate, In The Shadows, Crove Horrorshow, Vá Pra Porra, Náutilus, Daysleepers, Elisa, Rockassetes, Perdeu a Língua, Inrisório, Glorybox, Mamutes, Os Trouxas, Tchandala, Rotten Horror, Baka Sentai, Oni, Aliquid, The Jezebels, One Last Sunset, Impact e The Renegades of punk, dentre outros. O programa tem também dois quadros fixos, o “Drop Loaded”, produzido pelo pessoal do Loaded E-Zine ( www.loaded-e-zine.net ), de São Paulo, que sempre traz o melhor do cenário independente nacional, e o “Bloco do ouvinte”, do qual qualquer um pode participar, bastando apenas nos enviar, via e-mail ( programaderock@hotmail.com ) ou programas de compartilhamento tipo rapidshare, megaupload, media fire ou 4loaded, um bloco que, caso aprovado, irá ao ar, com os devidos créditos (até agora nenhum foi recusado). Em 2008, fomos indicados ao Premio Dynamite na categoria “Melhor programa de radio”, e convidados pela direção da Fundação Aperipê para que fizéssemos uma versão para a TV. Um piloto foi produzido, mas nunca foi ao ar. Pode ser visto pelo Youtube. Fomos também os primeiros a fazer uma série de edições especiais totalmente dedicadas ao rock sergipano, hoje integradas ao projeto “Sergipanidade”, que vai ao ar uma vez por mês e no qual toda a rádio, por um dia inteiro, toca apenas música sergipana. Atualmente o programa é produzido e apresentado apenas por mim, Adelvan, e continuará indo ao ar toda sexta feira às 20:00, horário de Brasília, em Aracaju, pela freqüência 104,9 FM, podendo também ser ouvido ao vivo via internet através do site da Fundação Aperipê.
Acesse aqui o Blog “oficial” do programa de rock.
Obrigado pela audiência.
por Adelvan

O que rolou na última edição do programa de rock:

Fantômas – Cape Fear
Sonic Youth – What a waste
Iggy & The Stooges – Gimme danger
Nine Inch Nails – Hurt (quiet)
The Flaming Lips – Borderline
The Honkers – 12 Hours
The Honkers – 24 Hours from your heart
(Drop Loaded)
(Bloco produzido por Leonardo Bandeira):
Grave Digger – paid in blood
Halford – undisputed
Virgin Steele – pagan heart
The Fall – Choc-stock
That Patrol Emotion – Candy Loves Sattelite
New Model Army – Poison street
Violent Femmes – Blister in the sun
Portishead – silence
Spiritualized – soul on fire
Scarlett Johansson – Song for Jo
Sigur Ros – All Allright
VA/The Who – “Quadrophenia” soundtrack -
# The High Numbers – I´m the face
# The Ronettes – Be my baby
# The High Numbers – Zoot suit
# The Chiffons – He´s so fine
# The Who -
* The Real me
* Love Reign O’Er Me
* I Am the sea