quarta-feira, 27 de junho de 2012

Impaled Nazarene


A Finlândia não é apenas um país referência em Metal Sinfônico: De lá surgiu também uma das bandas mais blasfemas da história do Metal, o Impaled Nazarene, cujo nome seria uma alusão a certa “mitologia” de que Jesus Cristo teria se transformado em vampiro e, segundo a cultura, para ser derrotado deveria ser empalado.

Em 2004, o então guitarrista Teemu Raimoranta, supostamente cometeu suicídio, pulando de uma ponte direto ao gelo embaixo dela. As autoridades tomaram a causa como outra qualquer, mas o líder Mika Luttinen alimentou a idéia do colega ter realmente se matado.


Em decorrência da reação à posição política assumida pela banda, o IMPALED NAZARENE foi banido de tocar em diversos países europeus e seu álbum “Nihil” de 2000, chegou a ser retirado das lojas na Alemanha.

“Eu estava pensando que essas coisas seriam esquecidas logo”, disse Luttinen, “mas parece que eu estava completamente errado. Não entendo como é possível que alguns Punks esquerdistas tenham tamanha influência e poder que podem cancelar turnês inteiras. Eles dizem que tal artista é de direita e todos dizem: ‘É, é verdade, vamos bani-los.’ Um dos fundamentos da União Européia é garantir liberdade de expressão e liberdade de religião. Nos últimos três ou quatro anos esses direitos básicos foram completamente destruídos na Alemanha e completamente destruídos na Polônia, o último por se tratar de um país com um governo católico extremista que nos atacou. Se a EU deve nos garantir esses direitos básicos, como é possível que governos individuais possam desrespeitá-los? Não faz sentido para mim, deveria ser uma ‘Europa unida’, então como esses países tomam decisões completamente diferentes? Ainda consigo entender a paranóia alemã a respeito da extrema-direita em função do seu passado, mas estamos falando sobre música aqui”.
 



Album Name: Manifest
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 2007
Country: Finland
Track Listing:

1. Intro: Greater Wrath
2. The Antichrist Files
3. Mushroom Truth
4. You Don't Rock Hard
5. Pathogen
6. Pandemia
7. The Calling
8. Funeral For Despicable Pigs
9. Planet Nazarene
10. Blueprint For Your Culture's Apocalypse
11. Goat Justice
12. Die Insane
13. Original Pig Rig
14. Suicide Song
15. When Violence Commands The Day
16. Dead Return

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!


Album Name: Pro Patria Finlandia
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 2006
Country: Finland
Track Listing:

1. Weapons To Tame A Land
2. Something Sinister
3. Goat Sodomy
4. Neighbourcide
5. One Dead Nation Under Dead God
6. For Those Who Have Fallen
7. Leucorrhea
8. Kut
9. This Castrated World
10. Psykosis
11. Contempt
12. I Wage War
13. Cancer
14. Hate - Despise - Arrogance

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!


Album Name: Death Comes In 26 Carefully Selected Pieces
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 2005
Country: Finland
Track Listing:

1. Intro
2. The Horny and the Horned
3. Armageddon Death Squad
4. Goat Perversion
5. 1999: Karmageddon Warriors
6. Motorpenis
7. Kohta ei naura enää Jeesuskaan
8. The Endless War
9. Sadhu Satana
10. Ghettoblaster
11. Coraxo
12. Soul Rape
13. Sadistic 666 / Under a Golden Shower
14. Zero Tolerance
15. The Maggot Crusher
16. Let's Fucking Die
17. Tribulation Hell
18. We're Satan's Generation
19. Cogito Ergo Sum
20. Goat Seeds of Doom
21. Condemned To Hell
22. Intro S.F.P.
23. Sadogoat
24. Vitutuksen multihuipennus
25. The Lost Art of Goat Sacrificing
26. Total War – Winter War

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!



Album Name: All That You Fear
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 2003
Country: Finland
Track Listing:

1. Kohta ei naura enää Jeesuskaan
2. Armageddon Death Squad
3. The Endless War
4. The Maggot Crusher
5. Curse of The Dead Medusa
6. Suffer In Silence
7. Halo of Flies
8. Recreate Thru Hate
9. Goat Seeds of Doom
10. Even More Pain
11. Tribulation Hell
12. Urgent Need To Kill
13. All That You Fear

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!



Album Name: Absence of War Does Not Mean Peace
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 2001
Country: Finland
Track Listing:

1. Stratagem
2. Absence of War
3. The Lost Art of Goat Sacrificing
4. Prequel to Bleeding (Angels III)
5. Hardboiled And Still Hellbound
6. Into The Eye of The Storm
7. Before The Fallout
8. Humble Fuck of Death
9. Via Dolorosa
10. Nyrkillä tapettava huora
11. Never Forgive
12. Satan Wants You Dead
13. The Madness Behind

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!



Album Name: Impaled Nazarene/Driller Killer
Band: Impaled Nazarene / Driller Killer
Genre: Black Metal/Punk
Year: 2000
Country: Finland/Sweden
Track Listing:

Impaled Nazarene:
1. Impotent Mankind
2. I Couldn't Care Less (Driller Killer cover)

Driller Killer:
3. How Come?
4. Ghettoblaster (Impaled Nazarene cover)

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!



Album Name: Nihil
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 2000
Country: Finland
Track Listing:

1. Cogito Ergo Sum
2. Human-Proof
3. Wrath of the Goat
4. Angel Rectums Still Bleed - The Sequel
5. Post Eclipse Era
6. Nothing Is Sacred
7. Zero Tolerance
8. Assault the Weak
9. How the Laughter Died
10. Nihil

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!


http://www.metal-archives.com/images/1/2/9/1/1291.jpg
Album Name: Rapture
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 1998
Country: Finland
Track Listing:

1. Penis et Circes
2. 6th Degree Mindfuck
3. Iron Fist With an Iron Will
4. Angel Rectums Do Bleed
5. We're Satan's Generation
6. Goatvomit and Gasmasks
7. Fallout Theory in Practice
8. Healers of the Red Plague
9. The Pillory
10. The Return of Nuclear Gods
11. Vitutation
12. JCS
13. Inbred
14. Phallus Maleficarum

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!


Album Name: Latex Cult
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 1996
Country: Finland
Track Listing:

1. 66.6 S of Foreplay
2. 1999: Karmakeddon Warriors
3. Violence I Crave
4. Bashing in Heads
5. Motorpenis
6. Zum Kotzen
7. Alien Militant
8. Goat War
9. Punishment Is Absolute
10. When All Golden Turned to Shit
11. Masterbator
12. The Burning of Provinciestraat
13. I Eat Pussy for Breakfast
14. Delirium Tremens

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!


Album Name: Suomi Finland Perkele
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 1994
Country: Finland
Track Listing:

1. Intro
2. Vitutuksen Multihuipennus
3. Blood Is Thicker Than Water
4. Steelvagina
5. Total War - Winter War
6. Quasb / The Burning
7. Kuolema Kaikille (Paitsi Meille)
8. Let's Fucking Die
9. Genocide
10. Ghettoblaster
11. The Oath of the Goat

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!


Album Name: Ugra-Karma
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 1993
Country: Finland
Track Listing:

1. Goatzied
2. The Horny and the Horned
3. Sadhu Satana
4. Chaosgoat Law
5. Hate
6. Gott Ist Tot (Antichrist War Mix)
7. Coraxo
8. Soul Rape
9. Kali-Yuga
10. Cyberchrist
11. False Jéhova
12. Sadistic 666 / Under a Golden Shower

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!


Album Name: Tol Compt Norz Norz Norz...
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 1992
Country: Finland
Track Listing:

1. Apolokia
2. I Al Purg Vonpo / My Blessing (The Beginning of the End)
3. Apolokia II: Aikolopa 666
4. In the Name of Satan
5. Impure Orgies
6. Goat Perversion
7. The Forest (The Darkness)
8. Mortification / Blood Red Razor Blade
9. The God (Symmetry of Penis)
10. Condemned to Hell
11. The Dog (Art of Vagina)
12. The Crucified
13. Apolokia III: Agony
14. Body-Mind-Soul
15. Hoath: Darbs Lucifero
16. Apolokia Finale XXVII A.S.
17. Damnation (Raping the Angels)

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!


Album Name: Goat Perversion
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 1992
Country: Finland
Track Listing:

1. Noisrevrep Taog
2. In The Name of Satan
3. Damnation

Download

BUY IT IF YOU LIKE IT!

Album Name: Taog Eht Fo Htao Eht
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 1991
Country: Finland
Track Listing:

1. Nuctemeron of Necromanteion
2. Condemned To Hell
3. Impurity of Dawn
4. The Crucified
5. Infernus
6. Morbid Fate
7. Ave Satanas
8. In The Name of Satan
9. Fall to Fornication
10. Damnation (Raping the Angels)

Download
BUY IT IF YOU LIKE IT!

Album Name: Shemhamforash
Band: Impaled Nazarene
Genre: Black Metal
Year: 1991
Country: Finland
Track Listing:

1. Intro
2. Condemned To Hell
3. The Crucified
4. Disgust Suite O:P I
5. Morbid Fate
6. Disgust Suite O:P II
7. Worms In Rectum
8. Conned Thru Life (Extreme Noise Terror cover)
9. Crucifixation (Deicide cover)

Download

BUY IT IF YOU LIKE IT!

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Alan Moore, uma entrevista



Quase todo mundo que já leu uma HQ na vida concorda que Alan Moore é o melhor escritor do gênero na história do formato. Nos anos 80, ele foi o cara que praticamente sozinho fez adultos covardes admitirem gostar de gibis.

Um filho orgulhoso de Northampton, Inglaterra, que ainda vive perto da área onde cresceu, Moore amadureceu no começo da década de 80 na 2000 AD, a maior fábrica britânica de HQs de ficção científica e fantasia. Sua tira do Judge Dredd reimaginava o personagem com complexidades até então inexploradas. Sua criação, Halo Jones, foi o primeiro título nessa mídia que não retratava uma personagem feminina como uma supermulher peituda ou uma vítima.

Lá pela metade daquela década, Moore tinha revolucionado as HQs norte-americanas, primeiro fazendo o estagnado título da DC Monstro do Pântano pegar no tranco, transformando-o em um livro de busca existencial com preocupações ecológicas, e depois criando Watchmen, que foi a primeira HQ a realmente virar as tropas de super-heróis de ponta cabeça, e que acabou virando um filme abismalmente horrível no ano passado (o qual Moore, felizmente, desaprova).

Várias batalhas legais sobre propriedade e direitos sobre suas criações depois, Moore começou sua própria linha, que meio de brincadeira batizou de America’s Best Comics. De 1991 a 1996, ele produziu Do Inferno, sua própria versão linda e austera da história de Jack o Estripador. Disso também fizeram um filme de merda que Moore desaprova. A série A Liga Extraordinária começou em 1999 e virou um vasto mamute, que mistura histórias ficcionais e imaginadas com versões da nossa própria realidade. Outra vez: filme de merda, Moore desaprova. Em V de Vingança, Moore nos deu sua visão sobre o totalitarismo. E, novamente, filme de merda, Moore desaprovando.

Nos anos mais recentes, Moore produziu um romance complexo, A Voz do Fogo (1996), e um poema longo que trata de garotas que gostam de garotas e garotos que gostam de garotos, chamado The Mirror of Love (2004). Ele também publicou 25.000 Years of Erotic Freedom (2009), que examinava bem o que o título sugere, e Lost Girls (2006), que ele criou com Melinda Gebbie e que envolve Wendy do Peter Pan, Alice de Alice no País das Maravilhas, e Dorothy de O Mágico de Oz tendo muitas e muitas aventuras explícitas. Uma comédia total.

Atualmente Moore está trabalhando em Dodgem Logic, uma revista underground, em seu segundo romance, Jerusalem, e em um guia de magia. Na verdade, Moore é um mago praticante (e não é daqueles de coelho e cartola). Recentemente ligamos pra ele em sua casa em Northampton, e depois que ele nos assegurou que tinha uma xícara de chá em mãos e “quantas xícaras fossem necessárias pra fazer isso”, ficou claro que o Sr. Moore estava a fim de conversar conosco por bastante tempo sobre seu trabalho e suas ideias. E sim, foi um lance mágico.

Vice: A Dodgem Logic é um dos seus novos projetos. Por que não começamos falando sobre ela?
Alan Moore:
Dodgem Logic é uma colisão agressiva e aleatória de todo o tipo de coisas, de textos absurdistas de ficção feitos por Steve Aylett a novos pedaços de trabalho feitos por Savage Pencil e Kevin O’Neill. Esteticamente e em termos de formato ela veio de uma fascinação com a imprensa underground, que é uma cultura que data de antes do jornalismo impresso, mas que se tornou uma realidade popular nas décadas de 60 e 70 quando era uma parte vital da contracultura.

Quais eram as grandes entidades da imprensa underground no Reino Unido naquela época?
Os principais jornais eram o International Times e o Oz, que começou como uma revista de sátiras na Austrália e mudou pra cá, onde se tornou muito mais controverso e psicodélico. Eram tempos inebriantes, e foi a imprensa underground que agia como a cola que mantinha todo aquele elemento da sociedade junto e em contato um com o outro. Sem aqueles jornais, você teria apenas algumas pessoas que usavam roupas parecidas, tinham um gosto musical similar e usavam drogas parecidas. Você não teria um discurso político ou cultural coerente.

E a Dodgem Logic é pra ser uma continuação daquela tradição?
Nós decidimos fazer da Dodgem Logic uma revista de 48 páginas de cores vivas que tenta reinventar a noção de publicação independente para o século XXI. Estamos constantemente tentando deixá-la sem muito polimento. Não queríamos que ela fosse impressa em papel brilhante, porque isso poderia ser algo intimidante, poderia criar uma barreira entre a revista e seus leitores. Nós escolhemos esse visual mais bruto deliberadamente.

Tem várias partes dela que parecem colagens, o que faz com que ela pareça um híbrido entre um jornal underground e um fanzine.
Isso para mim é um elogio. Fanzines costumavam ser uma parte vital da cultura na qual eu cresci, dos fanzines de poesia nos anos 60 até os fanzines de HQ, ficção científica e fantasia dos anos 70 que produziram grande parte do talento que hoje domina os gêneros de HQ e ficção científica. Eles eram pequenas publicações incrivelmente produtivas e continham muita energia. Talvez isso tenha vindo do quão fácil era produzi-los. Não era tão fácil como seria fazê-los hoje em dia, mas agora toda a tecnologia está aqui para fazermos algo muito mais ambicioso do que jamais sonhamos que fosse possível, o ímpeto desapareceu. Talvez o grau de paixão que era colocado em algo como o Sniffin’ Glue ou quaisquer outros dos zines associados com o movimento punk exista de fato hoje em dia, só que online. Eu não sei. Posso parecer antiquado, mas eu ainda acredito que sempre haverá uma diferença entre algo que você olha na tela e algo que você pode segurar com as mãos.

Coisas físicas são melhores. Elas são mais reais.
Tem mais um sentido de um artefato que é parte de uma comunidade e parte de uma cultura.

Uma insatisfação generalizada com o governo e o declínio inexorável da civilização, assim como uma preocupação com a erosão das comunidades locais e da cultura, são temas recorrentes no seu trabalho de O Monstro do Pântano a Watchmen e além. Dodgem Logic parece mais uma maneira direta de lidar com essas questões.
Para falar a verdade, estou bem por fora das HQs. Eu estou continuando A Liga Extraordinária e estou desenhando algumas tiras para a Dodgem Logic, mas não me interesso pela indústria de HQs. Não me considero mais parte dela.

As coisas que você está abordando na Dodgem Logic poderiam ser abordadas em HQs?
Sim, poderiam ser abordadas no formato HQ. Porém, se eu fizesse isso, iria agradar meu público leitor de HQs, e não um mundo mais abrangente, que é onde essas questões precisam estar. Eu devo ressaltar que Dodgem Logic não é uma revista especificamente a respeito de Northampton. É apenas de onde eu e alguns contribuintes somos. Porém, nós olhamos a partir do ponto de vista de que Northampton é o centro exato do país, geográfica, econômica e politicamente. É um modelo bom o suficiente para representar uma cidade comum. As ruas principais estão sendo interditadas, as pessoas estão sofrendo abusos por parte da administração, e há lixo em todo lugar.

O que te levou a falar sobre essas questões tão diretamente agora? Não que faltassem problemas sociais nos anos 80.
Há uns dois anos um grupo de ex-criminosos juvenis entrou em contato comigo. Eles ti-nham trabalhado com música na área de Burrows em Northampton. Foi lá que eu nasci, cresci e onde a maior parte do meu próximo romance se passa. Eles tinham decidido fazer um filme sobre essa área negligenciada. Já que eles sabiam que eu tinha vindo de lá, me perguntaram se eu gostaria de ser entrevistado pro filme. Eles estavam trabalhando em parceria com o Central Museum em Northampton. Eu fui até lá, encontrei com eles, e nos demos muito bem. Eu queria continuar em contato com eles além da duração daquele projeto inicial, então fui todas as semanas para os escritórios de uma organização de ajuda à comunidade local chamada CASPA que estava fazendo um trabalho brilhante na área. Encontrei com os meninos e a tutora deles, que era uma jovem maravilhosa chamada Lucy, e eu inevitavelmente contei a eles sobre a cena local, a cultura underground e os clubes de arte que existiam enquanto eu tava crescendo e que fizeram tanto para me tornar a pessoa que sou hoje. Eu também contei a eles sobre como nós produzíamos revistas e fanzines e organizávamos leituras de poesia e coisas desse tipo. Tenho certeza que foi muito chato pra eles escutarem todas aquelas histórias, mas parece que as ideias colaram. Eles decidiram fazer uma revista sozinhos, para a qual eu contribuí. Tanto eu quanto os meninos queríamos falar sobre alguns dos verdadeiros problemas que afligiam a área, e como era uma vergonha que nós provavelmente não poderíamos tratar disso na revista porque ela era financiada pela Prefeitura. Nós discutimos a possibilidade de fazermos uma revista independente e decidimos tentar. As edições pareceram ser tão importantes para as pessoas daquela área que não podíamos abstê-las da comunidade local. Eu escrevi um artigo que chamava Os Incineradores. Era sobre um velho incinerador que estava na área de Burrows. Era pra lá, antigamente, que o lixo da cidade inteira ia.

Certo, o que é um detalhe esclarecedor.
Isso passou uma mensagem muita clara sobre o que as pessoas da administração pública pensavam das pessoas que moravam naquela área, e ainda que o incinerador tenha sido demolido na década de 30, a mensagem permanece aplicável à área hoje em dia. É para onde a administração pública manda as coisas com as quais não quer lidar: grupos de imigrantes, ex-presidiários e pessoas que estavam em asilos. Todas as pessoas problemáticas são enfiadas nessa vizinhança, muitas vezes em acomodações que foram condenadas pelos bombeiros. Coisas horríveis acontecem aqui todos os dias.

E a administração acabou bloqueando esse artigo?
Sim. Nos disseram que não podíamos publicar o artigo porque era crítico à administração, então Lucy e eu demos um jeito para que ela pudesse trabalhar só três dias da semana na CASPA e nos outros dois trabalhasse em uma revista independente comigo. A administração logo disse a ela que se ela fosse trabalhar dois dias da semana em uma revista independente ela não teria seu emprego na administração nos outros três dias, foi aí que decidi que isso já era demais e convidei a Lucy para trabalhar na Dodgem Logic por tempo integral. As questões que estamos tratando são importantes, e a revista oferece um lugar onde essas coisas podem ser discutidas. Nós não somos presos a nada e podemos dizer o que quisermos. Porém nós não queremos deixar as pessoas deprimidas, então temos tentado colocar o máximo de coisas lá que sejam verdadeiramente divertidas, assim como as coisas sociais e políticas. Essas são estratégias para ajudar as pessoas a passarem por tempos difíceis—dar a elas informação de que elas precisam, mas também dar algo que as anime.

É uma boa causa.
Eu não fiz muita coisa além de passar pela área por muitos anos. Conhecer pessoas boas que moravam lá nessa situação podre foi o que me fez resolver que eu queria fazer alguma coisa com foco naquela área. Burrows está no topo dos 2% de escassez no Reino Unido. Existem áreas iguais por todo o país, mas elas são varridas pra baixo do tapete. Eu também sinto uma ligação emocional com essa área, que eu sempre tive, e vi uma oportunidade de produzir algo lindo e útil sobre aquele ambiente e ao mesmo tempo criar um modelo para outras áreas semelhantes.

No passado você defendeu anarquia tanto no seu trabalho quanto na sua vida pessoal. Essa seria sua resposta aos problemas sociais discutidos na Dodgem Logic?
Bem, na verdade, para a segunda edição eu escreverei um artigo introduzindo a anarquia e explicando como ela poderia ser aplicada de maneira prática na nossa situação atual. Então sim. Uma das coisas para a qual eu estarei voltando minha atenção é o princípio da loteria ateniense. Isso basicamente dita que uma questão que precisa ser resolvida em nível nacional ou administrativo, você aponta um júri por loteria. Eles podem vir de qualquer lugar de dentro da cultura e são escolhidos de maneira completamente aleatória. Os prós e os contras do caso são então apresentados para o júri, eles ouvem, debatem e votam. Após a decisão, eles não fazem mais parte do júri. Eles voltam à sociedade, e para a próxima questão outro júri é escolhido. O sistema parece, para mim, se aproximar de algo como a democracia, que é algo que nós não temos nesse momento. A palavra “democracia” vem de “demos”, o povo, e “cratos”, mandar—“o povo manda”. Ela não diz nada a respeito de representantes do povo eleitos que governam, que é o sistema que temos no momento. Mudando para algo próximo disso, iríamos criar um sistema livre dos muitos abusos do nosso modelo atual de governo. É bem difícil comprar o apoio do povo se você não sabe quem são as pessoas que você deveria estar amaciando. Também seria difícil para o corpo dominante temporário agir em interesse próprio, já que faria mais sentido para eles agirem no interesse da sociedade para a qual eles estariam retornando.

Isso é interessante. Tem elementos de anarquia e democracia.
Sim, isso enquadraria o círculo entre as ideias de anarquia e governo. Minha definição de anarquia é a grega: sem líderes. É difícil pensar em uma sociedade ordenada que se conforme a esse ideal, mas com a loteria ateniense você não teria líderes, você teria indivíduos tomando decisões balanceadas. Seria necessária uma quantidade enorme de mudança constitucional, mas eu gosto de colocar a ideia no mundo para que se torne uma possibilidade e algo a ser discutido. Nossa forma de governo atual claramente não está funcionando, e não dá para continuar tentando remendar um modelo que é inerentemente fracassado. Talvez seja a hora de termos um novo modelo, em vez de colocar remendos no radiador do velho modelo de Ford Bigode que chegou ao fim de sua vida útil.

Read the rest at Vice Magazine:  
 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Antes de começar meu relato, eu gostaria de deixar bem claro o objetivo dele. Apenas gostaria de passar as impressões e opiniões de alguém que esteve lá e apurou muito antes de falar algo, criar boatos ou opinar. São apenas descrições dos fatos, do olhar de alguém que esteve lá.
Nessa história ninguém é dono da verdade e dificilmente saberemos o que realmente aconteceu enquanto satisfações se confundirem com textos que troquem farpas e aliviem irresponsabilidades.
Portanto, meu intuito não é encontrar culpados (chega de chover no molhado, né?), nem jogar palavras ao vento sobre toda a desgraça que já aconteceu. Acho importante que quando se leia algo, o leitor se identifique com aquilo que está à frente de seus olhos de alguma maneira. Então gostaria de relatar todas as impressões de dentro do festival para que quem esteve lá possa compactuar das opiniões e quem não esteve, para tentar entender o que estava acontecendo ali. Meu objetivo é que debatamos sobre as falhas pensando em como elas devem ser sanadas em um evento no futuro, tirar a culpa de quem não tem nada a ver com o ocorrido (ou seja, tentar fazer os bairristas enxergarem que o Nordeste não tem culpa alguma da falência do evento) e enxergarmos o quanto a cena não pode parar nem se deixar abalar por conta desse grave deslize. Afinal, como outros ótimos textos aqui no Whiplash vêm ressaltando, somos todos GUERREIROS!
Bom, assim como grande parte dos headbangers e de pessoas que integram a cena de alguma maneira, a mim, muito preocupava a grandiosidade do evento pelo que nos era passado em releases e a cada notícia envolvendo o M.O.A., desde seu anúncio oficial, em meados de novembro do ano passado. Para eventos que ocorrem todos os anos e já possuem certa tradição, um período de menos de meio ano para realizar todas as adequações necessárias para a realização de um festival de médio/grande porte, já me parece curto. Agora, imaginem para uma mega produção que teria sua primeira edição realizada? Esse tempo se torna sufocante, eu penso. Tenho humildade em assumir que não tenho o menor knowhow técnico para sair julgando, mas só de pensar em 47 contratos com bandas a serem acertados, já me dava um certo ar de insegurança. Porém, confiando na credibilidade da produtora Negri Concerts que foi a que mais trouxe shows de metal par ao país no ano passado e na liquidez positiva da Lamparina para investimentos, acabei ficando mais tranquila, com um otimismo acomodado, que se manteve até dias antes da minha partida de São Paulo para São Luís. Foi aí que o frio na barriga aumentou e foi se concretizando, aos poucos, a sucessão de infortúnios acerca do M.O.A.
No dia da partida, obtive informações por estar muito próxima a colegas de bandas nacionais, de que muitos dos grupos sequer tinham suas passagens de ida para o festival, apenas vindo a confirmar o que Aquiles Priester tinha divulgado na mídia. Junto a isso, recebi uma ligação de uma colega que estava por lá desde quarta feira, e na quinta (dia de minha partida), estava sem ter para onde ir pois a área de camping, que deveria ter sido aberta ao público neste dia em determinado horário, estava fechada. Pior: ninguém da produção por perto, UM segurança na porta sem saber de nada. Mais tarde, ela me informou que conseguira entrar e que o que mais a espantou era o fato de a área do palco ainda estar sendo capinada e os p.a's de som ainda estarem no chão.
Convenhamos, nem o maior dos otimistas ficaria despreocupado com tais informações. Alguém me explique como coisas básicas e fundamentais como passagens de bandas e equipamento de som ainda estavam incertos um dia antes do festival? Não tive como não pensar na pior das alternativas. Mas, novamente, o otimismo acomodado falou mais alto e deixei os maus pensamentos de lado, acreditando em contratempos normais e numa explicação ótima para isso - que tardou a vir!
No avião, o otimismo aumentou um pouco: embarquei com vários outros headbangers que também tiveram a sorte de vir no mesmo avião das bandas Exodus, Anvil, Exciter, Orphaned Land e Legion of the Damned, Clima bacana! Pra mim, aquilo era a confirmação de que tudo rolaria tranquilamente, afinal, bom sinal que as bandas estão ao menos indo pra lá, ao contrário de algumas bandas nacionais. Sinal de que o problema poderia estar sendo resolvido enquanto eu estava longe da internet e de contatos com os amigos. ERRADO, óbvio.
Isso tudo só me leva a concluir algo óbvio: o que começa errado, termina errado.
Em minha opinião, o que rolou foi que a produção acabou levando esse mesmo otimismo acomodado (acomodado por não levar em consideração os FATOS, mas sim as ambições e o desejo de fazer rolar, somente), a sério demais, a ponto de dar um passo maior que a perna. O que sem dúvida seria o mais correto, era começar com um cast mais modesto, apenas um dia de shows: assim, teriam mais tempo para se preocupar com todo o resto, que vai desde assuntos extra contratuais com as bandas a imprevistos.
Que fossem cinco bandas internacionais e cinco nacionais, ou dois dias com esses mesmo número de bandas cada. Teriam tido tempo, foco e dinheiro para cumprir com exigências de backline e cachê, passagens de TODAS as bandas, e para prevenir toda a estrutura do local contra vistorias da vigilância sanitária e segurança pública. Concordam que é meio óbvio? O público de metal é sedento por novidades e empreendimentos que deem certo e engrandeçam a cena. Ninguém iria deixar de ir ao show pelo cast ser menor. Continuaria sendo um dos maiores festivais a serem realizados no país, pois sem dúvidas os mesmos fãs que estariam ali pelo Anthrax, por exemplo, prestigiariam sem dúvida um show do Korzus ou Stress, principalmente quando se trata de uma região do país onde há uma escassez de shows maior que em outras regiões. Para eles, principalmente, o festival não se tratava apenas de uma atração de entretenimento, mas um motivo de orgulho.
Eu acho louvável a atitude de ter culhões para assumir um compromisso de tal magnitude e importância que é um festival desse porte. Mas mais louvável ainda é conseguir fazer isso com os dois pés firmes no chão, e nisso, eles falharam.
Me expliquem PRA QUÊ prometer rodízio de churrasco com o Mad Butcher dando show? E lagoa? Quem precisa de uma lagoa quando se têm bandas ícones tocando no palco? Caixas eletrônicos? Mercado? Tenho certeza que se não tivessem prometido essas coisas, nenhum headbanger deixaria de ir e sem dúvida o festival não teria sido um fiasco com tal dimensão de repercussão. Se nada tivesse sido prometido, a galera chegaria lá, veria yakissoba a 10 reais e pratão de churrasco com arroz, feijão e macarrão por esse mesmo preço e ia achar ótimo. Afinal, quem vai a shows aqui em São Paulo, por exemplo, está acostumado a ver batata chips de 70 gramas sendo vendida a 7 reais. Festival não precisa ter requinte. Já fui ao Wacken na Alemanha e ele próprio não possui um rodízio de nada lá! São barracas vendendo hamburgueres, sanduíches tipo churrasco grego, macarrão e cerveja. SÓ! Quem quiser requinte que saia do pequeníssimo condado de Wacken e demore horas pra viajar até a cidade de Hamburgo pra gastar uma grana absurda num prato de comida. E nunca vi ninguém reclamar disso por lá. Ok, o Rock in Rio por aqui teve até estande do Spoleto? Sim, mas é um festival que já tem várias edições e se tornou uma verdadeira marca com mega investidores milionários por trás com o passar dos anos. Pode ser que o M.O.A. conseguisse isso no futuro, mas não em sua primeira edição, concordam?
Sem contar algo que foi pregado e não cumprido que me chateou MUITO. A igualdade entre bandas nacionais e gringas me deixou muito feliz e me fez dar muitos créditos à Lamparina no começo de tudo. Senti que seriam respeitadas como deveriam. Mas, logo de cara, começaram a limar os logos de bandas nacionais, como se fossem menos importantes. Elas NÃO SÃO menos importantes. Aliás, se não fossem elas, o segundo dia de festival nem teria acontecido, e não teríamos tido o melhor e mais emocionante show do fest, o do Korzus. O Korzus merecia ter seu logo limado como se não tivesse uma longa carreira de lutas? Para mim, passou a ficar claro que desde o começo, a preocupação era: "vamos focar nas gringas. SE DER, a gente começa a pensar nas nacionais". E não deu! Afinal, muitas nem viajaram por não terem passagem e cachê então, nem entremos no mérito, né? E para mim, o que mais me IRRITA é ler e ver depoimentos como "fiz o que pude", "ocorreram problemas de liquidez", "tivemos dificuldades na reta final". Bem, pra mim, nem precisa ver logística de palco se não tem nem banda confirmada, e confirmação ao meu ver, vem com contrato, cachê e passagens (MÍNIMO, convenhamos!). Não faz sentido também para vocês? Se as bandas que representam metade do cast do festival não têm passagem, isso pra mim não configura um problema de "reta final", mas sim de "reta inicial"!!!
Enfim, exponho tudo isso apenas para exemplificar o que quero dizer com esse lance de prometer muito. Se não tivessem prometido tanta coisa, o efeito não teria sido negativo. Esses dias, me falaram que PALAVRA é algo essencial para a cena rolar. Então eu concluo que muitos bangers ficaram chateados (para não dizer putos), com essa quebra na palavra. Eles confiaram em algo e se sentiram como bobos quando não receberam aquilo que fez seus olhos brilharem ao comprar os ingressos e na hora de parcelar em vinte vezes suas passagens. Então, para um próximo festival, vamos torcer para que fiquem naquele termo do "menos é mais". Se for prometido algo básico e for oferecido algo melhor, já se começa com o pé direito. Não trato aqui de se contentar com pouco, mas se contentar com a realidade. Sonhar é uma delícia, mas não quando se mexe no bolso de 10 mil headbangers. Um passo de cada vez é a minha dica.
Enfim, voltando à descrição do fest… Enquanto estávamos pela cidade durante toda a quinta feita, MUITOS, eu ressalto, MUITOS boatos começaram a rolar, de todas as espécies, fontes e gravidades. Aliás, foi neste dia que conheci a fundo o verdadeiro significado da palavra boato. Muita gente que gosta de falar bastante na internet para se aparecer, para parecer que é sempre o primeiro a saber de tudo e que gosta de gerar polêmica, acabou soltando coisa que começou a desesperar muita gente, e, que na verdade, não passavam de pura balela sem apuração. O resultado foi um pânico parcial, pois muita gente se São Paulo começou a ligar desesperada e preocupada com o que lia na internet, enquanto eu mesma, que estava ali, muito bem acompanhada de gente bem informada, não estava sabendo. Então, outra dica: confiemos em gente com credibilidade numa próxima. Boato é coisa grave. Mas, novamente, boa parte dos boatos só se fortaleceu por conta de outra falha na produção, que eu compreendo que para eles, que estavam resolvendo altos pepinos, seria a última coisa com o que se preocupariam, mas, para nós, da imprensa ou fãs, seria importantíssimo.
Nenhum tipo de equipe de assessoria de imprensa, de ambas as partes envolvidas no evento, se prontificou a lançar notas OFICIAIS quanto ao que estava acontecendo. Ficávamos numa verdadeira sinuca de bico de dúvidas. Boatos estavam sendo alimentados, mas não havia NENHUM pronunciamento oficial para acalmar os ânimos. Isso não se faz! Mesmo que a notícia a se dar seja pavorosa, ela TEM que ser dada. Melhor que se instaurar um pânico e bochichos piores que a realidade. Não via a hora de ouvir algo oficial, para o próprio bem do evento, pelo qual torci até o último fôlego.
Para somar a isso, eu, e algumas outras pessoas de São Paulo, tivemos sérios problemas com rede de celular. Não sei o que diabos aconteceu, mas estava muito difícil rolar uma comunicação decente via celular. Talvez isso seja um caso isolado porque meu celular é um terror, mas, por outras vezes, do nada, em meio a alguma ligação, aparecia um sinal de "rede ocupada" em todos os celulares ao mesmo tempo. Esse, eu diria, seria um dos únicos problemas estruturais mais graves da cidade de São Luís. A cidade tem sim seus altos e baixos e bastante falhas, mas não cabem ao mérito quando quanto ao festival. Afinal, não existe no Brasil uma cidade perfeita, sempre haverão problemas de âmbito governamental e social, infelizmente. Mas, no que diz respeito à realização do festival, desde o momento em que cheguei na cidade, só passei a confirmar mais ainda que nada do que muitos bairristas falaram no começo sobre "a cidade não ter porte para realizar o evento", cairiam por água abaixo. Havia hotéis para quem procurou com antecedência, lugares para comer, visitar, bom trânsito, táxis, policiamento na medida do possível, etc. A maior prova de que isso é verdade e que essa coisa de Nordeste não ter porte pra shows gigantes, são os grandes festivais que já acontecem a um bom tempo como o Abril Pro Rock e o Palco do Rock. Isso sem contar algo importante: no primeiro táxi que peguei por lá, vim conversando com o motorista que disse que sabia que o festival ia acontecer tranquilo, porque outros shows bem grandes, como aqueles de forró e outros estilos que ENCHEM ESTÁDIOS, acontecem com grande freqûencia por lá e não dão errado. Faz sentido, de certa forma. Então, só me leva a crer que se houve alguma falha, com certeza não foi da cidade. E senti isso no depoimento de cada nordestino para mim lá no camping do M.O.A. Muitos estavam preocupados sobre o que esses que sempre falaram que não rolariam no nordeste iriam falar agora, e, pela Tv Maloik, peguei depoimentos de pessoas que enfatizaram bastante isso, dizendo que o Nordeste podia ter muitos problemas, mas que aquela bagunça toda envolvia muita gente de outros lugares e não tinha nada a ver com a região! E sobre isso não há dúvida mesmo: a galera ali é sedenta por shows de qualidade e a cena ali é fortíssima e muito unida. Então por favor, parem com tantos comentários preconceituosos pela internet, isso é desanimador e só demonstra ignorância de gente que não faz idéia do que a cena no nordeste é. Eles têm muitos problemas por lá sim, que PRECISAM ser sanados a tempo de coisas de âmbito maior, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, por exemplo. mas, para que ocorra um festival, as coisas parecem estar dentro dos parâmetros sim.
Primeiro dia de festival já começa com muita incerteza. Eu e a equipe do Whiplash preparadas para ir a campo, mas não tínhamos nem certeza se o festival iria acontecer. Isso porque boatos, juntamente a relatos de amigos nos campings, alimentavam notícias como a presença de vigilância sanitária e bombeiros no local querendo vetar a realização do evento (por problemas básicos, fortemente relacionados ao camping, como falta de postos de alimentação, quedas de luz, condições precárias de higiene e segurança, etc).
Sem dúvidas, nos primeiros momentos, o que mais estava causando problemas era o camping. Muita coisa que estava sendo apontada como errada e que poderiaa chegar a levar ao cancelamento do evento, vinha de lá.
Daí, óbvio a indignação. Seja lá quem foi o responsável por esse quesito (chega de apontar que foi esse ou aquele), porque não pensou nesses problemas estruturais antes? Não havia uma equipe que pudesse agir para resolver com antecedência tudo que pudesse causar problemas em relação àquilo?
Então, no ápice do pensamento, eis que me deparo com uma amiga me mostrando um trecho supostamente escrito pelo Júnior, da Lamparina, no dia 06 de março no grupo do M.O.A. no Facebook, dizendo o seguinte:
"Acho que não devia, mas vou ser sincero com relação a política de camping! Na boa, estamos pagando tanta coisa...Aí uma meia dúzia de pessoas reclamam que não podem entrar com seu leite ninho, nescau e biscoito piraquê, tenha santa paciência, banger toma cerveja e come churrasco, eu pelo menos, estou sedento para rasgar uma picanha na churrascaria mad butcher!!!!!"
Bem, depois dessa, não tenho nem o que comentar. Desejaria que isso fosse um mero boato. Mas, lembram-se do que eu disse sobre sonhar sem o pé no chão? Poisé, se preocupar com picanha enquanto pode sofrer uma intimação da vigilância sanitária, não é lá muito sábio. Se tudo no camping tivesse rolado tranquilamente, eu até acharia engraçada essa afirmação, mas dadas as condições, fica difícil até pensar que isso é sério, não? E a Lamparina não deve levar toda a culpa, todos os envolvidos que concordaram e aceitaram essa condição de deixar fatos fundamentais por último, devem ser creditadas também.
Enfim… Antes de chegar na parte boa (SIM, houve uma parte MUITO boa!), a outra má notícia que pegou a todos de surpresa. A banda Anthrax, para espanto de todos, acabou cancelando repentinamente sua apresentação, mesmo já estando na cidade, pronta para o show.
A partir daí, começaram a rolar os MALDITOS boatos novamente, de que o Anthrax, e váááárias outras bandas teriam cancelado suas apresentações por conta de cachê, segundo o que estava rolando na internet. Muita informação mal apurada, e a gente quase enfartando de pânico lá em São Luís. Daí entramos em mais um tópico polêmico, e eu vou falar AS MINHAS impressões, interpretem como quiserem. Aliás, coloco isso à mesa para debatermos. Não sou dona da verdade, mas conversei com bastante, MUITA gente antes de redigir isso aqui para tirar minhas conclusões.
Até onde eu sei e apurei, o Anthrax cancelou a apresentação por quebras no contrato em relação a backlines. Eles haviam pedido alguns equipamentos que não estavam por lá, como por exemplo, a bateria Tama da qual Charlie é endorsee e, logicamente, havia exigido e não estava lá. Devemos contestar então a atitude do Anthrax? Vi muitas coisas por aí que me dividiram a opinião. É claro que seria ótimo se eles tivessem tocado em respeito a nós, que estávamos lá, e muitos criticaram essa falta de consideração, ficando frustrados, como eu. Mas, entendo também o lado da banda. Charlie deveria fazer o quê? Arriscar seu contrato com a Tama, usando outra marca, sendo que tudo já estava esclarecido desde que a banda foi fechada no cast (uma vez que o backline é algo básico que as bandas sempre pedem para poderem realizar uma boa apresentação de acordo com suas necessidades)? Em minha opinião, existem exigências e exigências. Aquelas coisas do tipo "vinte opções diferentes de almoço" ou "100 toalhas brancas por integrante", acho sem sentido algum, mas quando envolve equipamentos, o lance é outro.
De qualquer maneira, mais uma lição foi tirada dessa triste situação. Aqui, estamos infelizmente acostumados, e quem tem banda pode confirmar, a parte das vezes, na última hora, produtores dizerem que está faltando algo no backline, e, por entender a situaçao difícil e guerreira desses realizadores de show e também para não decepcionar o público, os grupos acabam aceitando. Mas, com os gringos, aprendemos que nem sempre será assim. Talvez esse fato tenha vindo para abrirmos os olhos e tentarmos melhorar essas falhas. A cena só terá a ganhar com mais shows de qualidade.
Enfim, finalmente nos deslocando ao local do evento, quando chegamos por lá, tive a primeira e mais grata surpresa de todas. O festival estava ali, rolando, e o que me deixou mais feliz, LOTADO de gente e com uma puta estrutura de palco, som e iluminação. Aquela vibe de festival estava perfeita até então, fiquei com o coração cheio de esperança. Através das fotos, vocês devem ter percebido do que estou falando, certo? Se os detalhes que citei ali em cima sobre infra estrutura tivessem sido sanados, eu diria que seria uma área digna de um festival legal e de grande porte. Área bem ampla, com muito espaço para camping (POR QUÊ tinham que fazer num estábulo, sendo que ia dar margem pra críticas? Tinha tudo para dar certo!), dois palcos enormes, iluminação classe A, enfim… Na vdd, maior do que aquela alegria que me bateu aquela hora, é a tristeza agoniada agora que tenho que se tudo tivesse sido feito com mais esmero, tinha TUDO, mas TUDO para dar certo, funcionar, e fazer história no país.
E falo isso tão com a boca cheia que, apesar do atraso até o início da primeira banda, tudo acabou rolando quase que perfeitamente e de acordo com o cronograma.
Para quem gosta do estilo, Almah e Shaman fizeram bons shows. Quanto aos das bandas internacionais, ocorreram sem maiores problemas e atenderam às expectativas dos headbangers.
O Exciter teve alguns problemas no som, mas rolou tranquilamente. O Orphaned Land, apesar de não me agradar nem um pouco e para falar a verdade, até me irritar com sua sonoridade por alguns momentos, fizeram um bom show. Se sentiram visivelmente bem recebidos e pareciam muito excitados em tocar aqui pela primeira vez. O público retribuiu com muitos aplausos e cabeças bangueando. O Anvil, ícone do Heavy Metal mundial, também se apresentou bem, porém sofrendo com consecutivas falhas nos microfone do vocalista e guitarrista Lips. O Destruction também só veio a confirmar que NUNCA decepciona ao vivo. Desfilou clássicos do início ao fim em o show mais energético até então. Até então, eu disse! Pois logo na sequência, entrariam os americanos do Exodus, dando uma lição de como se faz um show de thrash metal da maneira mais agressiva e de tirar o fôlego. Até mesmo o vocalista Rob Dukes fazia questão de frisar isso, quando disse: "Vocês querem uma música lenta para poderem descansar? Me desculpa, mas não temos músicas lentas!"! EXCELENTE apresentação, com direito a prêmio Fernanda Lira de melhor show da noite, tendo como concorrente à altura somente o Destruction.
Na sequência, veio o morno show do Megadeth. Talvez tenhamos criado tanta expectativa e medo de ele não tocar no festival por alguma frescurite, que na hora em que terminaram o show, a maioria esperava muito mais. Set curto, poucos clássicos (conseguem acreditar que não tocaram Sweating Bullets?), pausas contínuas e frequentes de Mustaine para reclamar nos bastidores sobre alguns problemas, e visíveis complicações vindas da mesa de som: microfonia, volume oscilante e falhas mais estranhas, como por exemplo, naquela pausa no meio da Holy wars, onde entra um quase dedilhado com a guitarra limpa, O SOM NÃO APARECEU.
Mas, enfim, eu estava feliz demais. O saldo havia sido extremamente positivo. Uma coisa que me demonstrou muita consideração com o público e pelo menos uma sombra de organização, foi a agilidade na troca de palcos. Tenho certeza de que assim que um show temrinava em um palco, o outro já havia sido montado para a próxima banda, que não tardava mais que 10 minutos para entrar. A não ser antes do show do Symphony X, se não me engano, que houve uma pausa de 40 minutos, mas programados, provavelmente para dar uma pausa para os bangers poderem ir ao banheiro ou comer (essa pausa já havia sido avisada, pelo menos para quem era da imprensa).
Tenho certeza que se houvesse alguém que não soubesse o que tinha se passado no camping nem dos problemas nos bastidores e visse o show, não teria do que reclamar.
O clima parecia ser de felicidade, eu pelo menos voltei para o hotel com a alma lavada. Mas sentia-se um certo clima de tensão no ar. Será que os problemas de camping já haviam sido resolvidos ou pelo menos haveria segurança para quem ficasse lá até que as falhas fossem consertadas?
Será que mais bandas vão cancelar?
Mas, eu, pelo menos, fui dormir otimista novamente!
Acordei tarde no dia seguinte, engolindo a comida rapidamente e botando a roupa de qualquer jeito, achando que já estava atrasada para o festival. Quando ligo a TV, reportagem ao vivo de um canal maranhense no local. Todo meu otimismo foi ladeira abaixo. Tudo estava pior do que no dia anterior. Tudo o que tinha me dado um sorriso de orelha a orelha na noite anterior, havia desmoronado, e o festival já tinha sido notícia no Jornal da Globo, Jornal Nacional, e já era capa dos principais jornais de São Luís.
Além do cancelamento do Rock and Roll All Stars, uma série de outros fatores havia vindo à tona. Novamente, o camping era o problema e, por algum motivo ainda desconhecido, um dos palcos havia sido parcialmente desmontado. Passamos o dia inteiro precisando de informações sobre o início dos shows e também da confirmação ou não dos boatos que estavam rolando. Felizmente, empresários da Lamparina deram as caras, e falaram com o público, num ato que achei muito digno. Porém só avisaram que ocorreriam atrasos, deixando muitas dúvidas nas cabeças dos bangers. Tanto que, fiquei sabendo de DEZENAS de pessoas que cancelaram sua vinda ao festival exatamente por não saberem se ele rolaria ou não. Isso é grave, deveria ter havido, novamente, algum pronunciamento oficial.
Nossa equipe se deslocou até o hotel onde algumas bandas estavam hospedadas e começamos a sondar respostas. Mas, o clima era de suspense, ninguém sabia qual banda começaria, qual banda cancelaria, e o pior, se o festival iria rolar. Essa dúvida permaneceu até quase sete da noite, quando a banda Ácido subiu ao palco.
Boatos sobre o cancelamento do Blind Guardian e Grave Digger eram fortíssimos, mas ainda sem nada concreto para acalmar, ou revoltar o público.
Mas, seguimos para o festival e o clima por lá foi negativamente surpreendente, INFELIZMENTE. Digo infelizmente porque eu, assim como vários outros headbangers, torcemos, acreditamos e queríamos mais que TUDO que esse festival rolasse. Eu acreditei e apoiei até o último momento. E fiquei muito triste quando cheguei por lá.
Logo após ingressarmos, infelizmente constatamos que muitas pessoas estavam entrando sem ingresso, credencial ou qualquer outro tipo de passe. Triste para os bangers que pagaram, mas o meu medo era maior quanto à segurança. Bandido é esperto. Numa dessas, pra entrarem de graça por lá e tocarem o terror, é um passo.
Como estava também com uma câmera de vídeo para gravar algumas imagens para o programa de TV do qual sou repórter, o Maloik, muita gente vinha me pedir por informações e ajuda, e eu sinceramente não sabia o que responder. muitos deles, inclusive, vinham PEDINDO para dar entrevista, como fosse sua última maneira de desabafar. Muitos me falaram sobre segurança, e, em determinado ponto da noite, enquanto a banda Dark Avenger tocava, eu fui averiguar e realmente havia pouquíssima segurança. Pasmem colegas de imprensa, entre a grade de público e o palco, não havia alguma pessoa da equipe lá em dado momento. E, o mais lindo de tudo, foi ver que os bangers, educados e politizados que somos apesar de toda a bagunça que a mídia fala sobre nós, nem sequer invadiram a área. Somente fotógrafos estavam lá. A área de camarote, sim, havia sido tomada por varias pessoas do público. pois não havia segurança. Depois de algum tempo, a segurança se normalizou novamente, fazendo presença por vários pontos do festival. Mas até isso aocntecer, pude sentir um clima de medo e insegurança.
Mas o pior dos climas que eu senti, estava por vir. Alguns fãs tinham me relatado sobre uma certa sensação de abandono, que se sentiam abandonados, à mercê de qualquer coisa que a produção decidisse e sem poder para fazer nada. Quando ingressei no camarim, isso se confirmou. Ele, que estava hiper movimentado e equipado no dia anteiror, havia sido quase totalmente retirado, sobrando apenas geladeiras e um camarim em pé. Quase ninguém da produção rondava, as pessoas andavam de um lado por outro sedentas por informação… Foi realmente muito triste. Conversei com uma pessoa muito importante lá no camarim que me explicou muitas coisas sobre o que estava acontecendo, coisas estas que já foram esclarecidas nas notas que ambas as produtoras divulgaram nos últimos dias. O palco, o camarim, aquela hora sem seguranças, tudo ocorreu por falta de pagamento, o que é MUITO triste. Tudo isso deveria ter sido acertado antecipadamente, não é mesmo? E isso me entristeceu, porque, pensem comigo, se tudo isso tivesse sido pensado e fechado previamente, o festival continuaria rolando tão lindamente quanto aconteceu na sexta feira. Isso me cortou o coração.
E e pergunto mais ainda: se os pagamentos de algumas coisas não haviam sido efetuados, se as bandas nacionais quase todas foram deixadas em segundo plano, se as condic'ões do camping não foram analisadas, o que rolou em todos esses meses que antecederam o festival?
Acho que essa pergunta expressa grande parcela da indignação de todos os metalheads que estavam por lá e sofreram as consequência dessa possível falta de panejamento e visão.
A partir dessas constatações, pude entender perfeitamente o por quê das banda sque tocariam naquela noite terem cancelado, Não foi cachê, não foi backline, mas sim o acúmulo de todas essas condições. Em minha opinião, elas estão na razão delas.
Com tudo isso, eu cheguei à conclusão bem particular (esse foi o MEU sentimento) que, com tudo isso que me foi esclarecido, seria muito difícil o festival 'sobreviver' até o dia seguinte. Para isso aocntecer, teriam que tirar dinheiro de algum lugar, derrubar liminares de órgãos como a vigilância sanitária que ovamente passaria pelo camping, e tudo o mais. Tenho certeza de que eles da produção lutaram até o último minuto para fazer o festival acontecer até seu fim, mas eram muitas coisas que precisariam ser resolvidas num pouquíssimo intervalo de tempo, já que não foram solucionadas com meses de antecedência.
Isso me causou muita tristeza, porque logo na sequência fui ver o MARAVILHOSO e EMOCIONANTE show do Korzus, com um nó do tamanho do planeta na garganta.
Tristeza porque todos ali estavam de coração aberto para curtir metal, para demonstrar sua paixão pela música e o quanto ela representa para cada um deles, afinal, quem vive, sabe que metal está longe de ser um estilo de música, mas, sim, um estilo de vida! Tristeza de ver que mesmo sabendo que aquele poderia ser o último show do festival, eles estavam ali, curtindo cada segundo como se nada tivesse acontecido, prontos para gritar e apoiar quem pisasse ali no palco. Tristeza de ver que o sonho de 10 mil pessoas que mal pudiam ver a hora de conferir um festival à altura de sua devoção para o metal, ir por água abaixo.
Muitos choravam, ouvi até gente querendo fazer uma vaquinha coletiva para conseguir dinheiro para pagar o que faltava, e muitos abraçavam os colegas do lado, dizendo que pelo menos a união de quem estava no camping fez valer à pena.
O show do Korzus veio para que todos se sentissem representados. No palco, o Pompeu disse palavras que todos ali gostariam de falar. Confirmou que somos todos guerreiros, que nem mesmo um desastre como aquele nos faria desistir do metal, porque nós, da cena nacional, somos fortes e apaixonados demais para deixar que isso aocntecesse.
Impossível segurar as lágrimas durante o hino nacional cantado em côro, por pessoas que, com aqule gesto, queriam mostrar que acreditam, apesar de tudo, no metal no Brasil, e isso é lindo e muito verdadeiro.
Após o show do Korzus, uns ainda alimentavam a esperança de que mais bandas tocassem, mesmo com o palco já sendo desmontado.
Devido a compromissos em São Paulo com a minha banda, tive de retornar, mas com aquela preocupação com todos os amigos e irmãos do metal que ficaram ali com suas passagens marcadas para domingo ou segunda, com suas barracas à mercê de todo perigo no camping e tudo o mais. Chegando em casa, vi que o que eu previa, havia acontecido: o festival não sobrevivera.
Para falar a verdade nem estou ligando muito para o que a bosta da mídia não especializada está pensando de nós depois disso, afinal, eles nUNCA se interessam em compartilhar nada das milhares de coisas boas que acontecem todo dia em cada canto do país relacionado ao metal, mas quando alguma desgraça acontece, são os primeiros a nos denegrir, afinal, para eles, metal é e sempre será bagunça, não é?
Mas ligo muito para o que a cena perdeu com a queda de um fest dessas proporções, ainda não acredito que o sonho de termos o maior festival do país para nossa alegria (sem piadas, por favor) se esvaiu tão rapidamente, por problemas, digamos eminentes.
Enfim, em minha opinião, ficar culpando este ou aquele, ou tentar achar quem é mais culpado que quem, é chover no molhado e não vai levar a lugar nenhum. Devemos ler os relatos, analisar as notas oficiais e tirar nossas próprias conclusões. Quanto aos produtores, tenho plena certeza de que sabem de todos os problemas que ocorreram e que deverão arcar com as consequências, ninguém tentou dar golpe, e muito menos vão fugir de suas repsonsabilidades legais quanto ao ocorrido.
Resta aos headbangers que se sentiram lesados, seguirem os procedimentos corretos para que reinvidiquem seus direitos.
E espero que com o meu texto, possamos refletir sobre tudo o que houve e torçamos para que os problemas apontados sejam sanados e prevenidos em uma próxima vez. E essa próxima vez, VAI acontecer. Afinal, headbanger é headbanger! E é claro, o rock não pode parar!

Por Fernanda Lira 

    Fonte: Whiplhash

sábado, 7 de abril de 2012

Não me abandone jamais ...

Me chamo Kathy H. Tenho trinta e um anos e sou cuidadora há mais de onze. Tempo demais, eu sei, mas eles querem que eu fique mais oito meses, até o fim do ano. O que dará quase exatos doze anos de serviço. Sei que o fato de ser cuidadora há tanto tempo não significa necessariamente que meu trabalho seja considerado fantástico. Houve alguns ótimos cuidadores que receberam ordem de parar depois de dois ou três anos apenas. E eu conheço pelo menos um que ficou os catorze anos completos, apesar de ter sido um desperdício total de espaço. Portanto, minha intenção aqui não é me vangloriar. Mas não resta a menor dúvida de que eles estão satisfeitos comigo e de modo geral não tenho do que me queixar. Meus doadores sempre foram muito melhores do que eu esperava. Todos se recuperaram com uma rapidez impressionante e quase nenhum chegou a ser classificado como 'agitado', nem mesmo antes da quarta doação. Muito bem, talvez eu esteja me vangloriando um pouco agora, admito. É que significa um bocado para mim poder dar conta direito do trabalho, sobretudo essa parte dos doadores continuarem 'calmos'. Desenvolvi uma espécie de instinto em relação a eles. Sei quando devo permanecer por perto oferecendo consolo e quando é melhor deixá-los em paz; quando escutar o que têm para falar e quando tão-somente encolher ombros e dizer-lhes que não se entreguem ao desânimo.
De todo modo, não estou reivindicando nada de muito grandioso para mim. Conheço cuidadores que trabalham tão bem quanto eu e que não recebem nem a metade dos créditos. Se você for um deles, entendo o motivo de possíveis ressentimentos — em relação a meu conjugado, meu carro e, acima de tudo, ao fato de eu mesma escolher os que vão ficar sob meus cuidados. Sem falar que sou de Hailsham — o que por si só muitas vezes é suficiente para deixar as pessoas de mau humor. Elas dizem, a Kathy H.? Ela escolhe o pessoal a dedo, e sempre da turma dela: gente de Hailsham ou de algum outro estabelecimento igualmente privilegiado. Não é à toa que ela tem uma ficha excelente. Nem sei quantas vezes já escutei isso, e posso imaginar que você ouviu muitas mais, de modo que talvez haja um fundo de verdade aí. Mas não fui a primeira a poder escolher, e duvido que seja a última. De qualquer forma, já fiz minha parte, cuidando de doadores trazidos de tudo quanto foi lugar. Até eu terminar meu serviço, não se esqueça, terei completado doze anos, e só nos últimos seis é que eles me deixaram escolher.
E por que não me deixariam? Cuidadores não são máquinas. Nós tentamos fazer o melhor possível para cada um dos doadores, mas no fim o serviço é exaustivo. Paciência e energia têm limite, e isso vale para todo mundo. De modo que quando surge a oportunidade de escolher, claro que você vai optar por pessoas semelhantes a você. Isso é natural. Eu não teria tido a menor condição de continuar fazendo o que faço durante tanto tempo se porventura deixasse de nutrir sentimentos pelos meus doadores em cada uma das etapas percorridas. Além do mais, se eu não tivesse obtido permissão de escolher, não poderia ter me reaproximado de Ruth e Tommy depois de tantos anos, não é mesmo?
Nos dias que correm, claro, há cada vez menos doadores conhecidos, o que significa que na prática não tenho escolhido tanto assim. E, como eu sempre digo, quanto menos ligação existe com o doador, mais difícil fica fazer o serviço; portanto, mesmo que eu sinta falta de ser cuidadora, acho correto dar finalmente por encerradas minhas atividades no final do ano.
Ruth, por falar nisso, foi apenas a terceira ou quarta doadora que pude escolher. Já havia uma cuidadora designada para ela, na época, e lembro-me que foi preciso uma certa dose de coragem de minha parte. Mas no fim dei um jeito, e assim que a vi de novo, naquele centro de recuperação de Dover, nossas diferenças — ainda que não tivessem exatamente sumido do mapa — não me pareceram nem de longe tão importantes quanto tudo o mais: o fato de termos crescido juntas em Hailsham, o sabermos e nos lembrarmos de coisas que ninguém mais sabia ou das quais ninguém mais se lembrava. Foi dessa época em diante, imagino, que comecei a buscar nos doadores pessoas conhecidas no passado e, sempre que possível, de Hailsham.
Houve épocas, no decorrer desses anos todos, em que tentei esquecer Hailsham e me convencer de que não seria bom ficar olhando tanto para trás. Porém num determinado momento simplesmente parei de resistir. E isso teve a ver com um doador em particular, de quem tomei conta certa feita, no meu terceiro ano como cuidadora; com a reação dele quando comentei que era de Hailsham. Ele tinha acabado de sair da terceira doação, que não dera muito certo, e já devia saber que não iria se safar. Embora mal conseguisse respirar, me olhou e disse: 'Hailsham. Aposto como era um lugar lindo'. Na manhã seguinte, batendo um papinho na tentativa de distraí-lo daquilo tudo, perguntei de onde ele era; o doador mencionou algum lugar em Dorset e sua expressão, por baixo da pele manchada, passou a um tipo bem diferente de esgar. Foi então que caí em mim e percebi a vontade imensa que ele tinha de não se lembrar de nada. Tudo o que ele queria era que eu falasse de Hailsham.
Portanto, durante os cinco ou seis dias que se seguiram, contei-lhe tudo o que ele quis saber, enquanto, do leito, ele me ouvia fascinado, com um leve sorriso nos lábios. Falei dos nossos guardiões, das caixas com as coleções que eram guardadas debaixo da cama, do futebol, das partidas de rounders, do caminho estreito que contornava todos os cantos e recantos externos do casarão, do lago com os marrecos, da comida, da vista que tínhamos das janelas da Sala de Arte pela manhã, com os campos cobertos de bruma. Às vezes ele me fazia repetir vezes sem conta a mesma coisa; algo que eu mencionara no dia anterior voltava a ser alvo de perguntas, como se ele nunca tivesse escutado uma única palavra sobre o assunto. 'Vocês tinham um pavilhão de esportes?' 'Quem era seu guardião predileto?' De início, pensei que fosse apenas efeito dos remédios, mas depois me dei conta de que ele estava bem lúcido. Mais do que ouvir falar de Hailsham, ele queria se lembrar de Hailsham como se Hailsham tivesse pertencido a sua própria infância. Sabia que estava perto de concluir, de modo que me fazia descrever as coisas de forma que elas penetrassem de fato em sua lembrança. A intenção dele, talvez— durante as noites insones devido aos remédios, à dor e à exaustão —, era tornar indistintos os contornos que separavam as minhas memórias das suas. Só então compreendi, compreendi de fato, quanta sorte tivéramos — Tommy, Ruth, eu, na verdade todos nós.
Ainda hoje, dirigindo pelas estradas do interior, vejo coisas que me fazem lembrar de Hailsham. Às vezes, passando por um trecho sob neblina ou descendo a encosta de algum vale, ao divisar parte de um casarão ao longe, e até mesmo quando vislumbro o desenho formado por um grupo de choupos plantados no alto de um morro, logo me ocorre pensar: 'Talvez seja ali! Achei o lugar! Aquilo é Hailsham, só pode ser!'. Depois percebo que é impossível e sigo adiante, com os pensamentos vagando por outras paragens. Em especial, há os pavilhões. Vejo-os por todo o interior, sempre erguidos ao lado de um campo de esportes — pequenas construções pré-fabricadas, pintadas de branco, com uma fileira de janelas numa altura absurda, bem lá em cima, enfiadas quase debaixo dos beirais. Acho que eles devem ter construído um monte desses pavilhões nos anos 50 e 60, época em que muito provavelmente também construíram o nosso. Toda vez que passo perto de um, olho comprido para ele durante o tempo que for possível, e qualquer dia ainda vou causar um acidente por causa disso, mas não consigo evitar. Não faz muito tempo, eu rodava por um trecho deserto de Worcestershire e vi um, ao lado de um campo de críquete, tão parecido com o nosso em Hailsham que cheguei até a fazer o retorno e voltar para dar uma segunda olhada.
Adorávamos nosso pavilhão de esportes, talvez porque nos trouxesse à mente aquelas deliciosas casinhas que apareciam em tudo quanto era livro ilustrado, quando éramos crianças. Lembro-me de nós, ainda nos anos Júnior, implorando aos guardiões para que dessem a aula seguinte lá, e não na sala habitual. Mais tarde, quando cursávamos o Sênior 2 — quando tínhamos doze para treze anos —, o pavilhão se tornou nosso esconderijo predileto, nosso e dos nossos amigos mais íntimos, quando queríamos fugir de tudo e de todos em Hailsham.
O pavilhão era suficientemente grande para abrigar dois grupos distintos sem que um incomodasse o outro — no verão, um terceiro grupo podia ficar na varanda. Mas o ideal é que você e seus amigos ficassem com o lugar só para si, de modo que era muito freqüente haver discussões e empurra-empurra. Os guardiões viviam nos dizendo para agirmos com civilidade a respeito, mas na prática era preciso contar com personalidades fortes no grupo para ter alguma chance de conseguir exclusividade no pavilhão durante um recreio ou um período livre. Eu própria não era do tipo franzino, mas desconfio que foi de fato graças a Ruth que conseguimos nos reunir lá com a freqüência com que nos reuníamos.
Em geral não fazíamos mais que nos aboletar nas cadeiras e nos bancos — éramos cinco, seis quando Jenny B. ia junto — e bisbilhotar sobre a vida alheia. Havia um tipo de papo que só tinha possibilidade de acontecer quando estávamos escondidas lá no pavilhão; só então podíamos conversar sobre alguma coisa que estivesse nos preocupando, assim como também podíamos acabar às gargalhadas ou num arranca-rabo danado. Na maior parte das vezes, era uma forma de descontrair um pouco, ao lado das amigas do peito.
Nessa determinada tarde à qual me refiro agora, estávamos em pé sobre banquinhos e bancos, amontoadas em volta das janelas altíssimas. Isso nos dava uma visão muito boa do Campo de Esportes Norte, onde cerca de doze meninos, do nosso ano e do Sênior 3, se preparavam para jogar futebol. O tempo estava claro, mas devia ter chovido pouco antes, porque me lembro da luz do sol cintilando na superfície da relva enlameada.
Alguém comentou que não devíamos espiar daquela maneira assim tão óbvia, mas nós mal recuamos da janela. E então Ruth falou: 'Ele não desconfia de nada. Olha só para ele. Ele de fato não desconfia de nada'.



Kazuo Ishiguro

( ...) 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Trey Spruance, uma entrevista

o1) Gostaria de saber qual o problema que está fazendo nós fãs esperarem tanto tempo por um novo CD, pois das outras vezes o que ouvíamos é "o Patton anda ocupado com o FNM". Mas e agora?Há um grande cadáver na garagem. Nenhum de nós quer ser o primeiro a ter que limpá-lo. Provavelmente, o que todos esperamos é que os vermes comam toda a carne, aí poderemos lidar com isso juntos. Esta é a essência de uma democracia, no fim das contas: limpar cadáveres, etc.

02) Você e o Patton estão conversando sobre compor um novo álbum do Mr. Bungle? Ou você não tem tido tanto contato com ele nos últimos tempos?
Nós estamos oficialmente tentando entrar em contato um com o outro agora. O
que isso significa além de alguns telefonemas ainda está no ar.

03) Você sabe o que os outros músicos do Mr. Bungle estão fazendo agora?Sim – dois estão na Austrália (n. do e.: Danny Heifetz e Bär Mc Kinnon). Queria estar lá também. O mais provável é que eu vá parar no Irã, aliás – acho que lá eles vão tomar meu passaporte no aeroporto, e eu vou acabar tendo que morar na rua. Mas pelo menos eu posso usar meus limitados conhecimentos de farsi (n. doe.: dialeto persa) para enganar e extorquir todos os agentes da CIA infiltrados lá.

04) Qual foi o momento mais memorável tocando com o Mr. Bungle?
Quando fomos coletivamente amaldiçoados por uma fã bruxa psicótica que fez com que todo nosso equipamento quebrasse. Depois nós ficamos histéricos e destruímos o equipamento de luz, entre outras coisas. Tinha vidro por todos os lados. . Nós temos um quê de ultraviolência na nossa personalidade, então eu concluo que sim, nós merecemos alguns fãs metidos a bruxa má. Nesse dia, nós empurramos as caixas de retorno em cima do público e elas acabaram virando destroços que forma jogados de em nossa direção. Patton caminhou sobre as cabeças e os ombros das pessoas e chegou até o bar, onde ele derramou vodka goela abaixo de de quem ele achava que era menor de idade... Aí os donos do clube não queriam nos deixar sair e acabaram nos trancando. Eram uns ítalo americanos enormes que nos matariam se não pagássemos pelos estragos na hora (normalmente essas coisas são acertadas depois, mas quem pode culpá-los? Nós éramos doidos!). Nossos fãs ainda estavam lá fora e um deles chamou a polícia. Os policiais nos pegaram de surpresa, eles tiveram que arrombar o lugar. Deixamos um cocô dentro do microondas e pusemos na mais alta potência logo antes de sair do lugar. Não foi necessariamente uma boa noite, mas foi memorável. Tiveram outras como essa, a maioria delas aconteceu no começo dos anos 90.

05) No infame show no Phoenix Concert Theater (da turnê do primeiro álbum nos EUA em 30/03/92), o Mike Patton bateu em alguém da platéia com o microfone durante uma cover da música "Time" do Alan Parsons Project. Qual foi a reação da banda depois do acontecido? E o que aconteceu com o cara quando ele foi pros bastidores com a banda?A única razão de ele ser "infame" é porque alguém estava filmando. Pergunte a pessoas que estiveram nos shows em Tijuana, Cleveland ou Houston naquela mesma turnê se você quiser saber o que é realmente "infame". Mas, se me lembro bem, o cara foi super tranqüilo em relação ao acontecido. Eu não vi quando aconteceu, então não tive reação alguma. Só vi que um cara estava sangrando, o que acontece quase toda noite. Eu acho que ele acabou nos processando. Ele foi super legal, do tipo "tudo bem, cara" e depois nos processou. Eu não o culpo. Cara!...

06) Como é o processo de composição das músicas do Mr. Bungle? Como cada um de vocês faz parte dele?Está sempre mudando. Aí é que está a beleza disso. Eu defendo um padrão de total “socialismo composicional” para o futuro. Créditos por escrever música e afins tendem a atravessar todas as fronteiras – e eu sou culpado de escrever muito da música do Bungle - sendo orgulhoso o suficiente a respeito das minhas contribuições para querer que elas fossem creditadas de forma correta. Cansei disso. Quem se importa? Mike Patton escreveu e produziu tudo. Ótimo.

07) Que equipamento você usa em estúdio e shows? Qual o seu set de
amplis, guitarras, efeitos?

Opa. Estúdio – a última vez, nós linkamos três máquinas Studer de rolo 2 polegadas. Eu acho que o California foi a última produção de grande porte feita em equipamento analógico na história. Nada desse tipo vai ser feito. Não usamos Pro Tools, nada dessas bobagens de computador. Foi tudo no velho lixo vintage – LA2A, 1176, V72, 1272, C24, M49, U47/87, EMT, Pultec (n. do e.: compressores, processadores e microfones antigos), é só falar o nome, que nós usamos – além das enormes mesas Neve com automação GML, evoluindo para uma gigantesca mesa SSL de 96 entradas, que fez a gente voltar várias vezes para mexer naqueles faders pequenininhos. Nós usamos até 125 canais num certo ponto da gravação. Nossas armas secretas são os spring reverbs (os baratinhos) e space echoes. Como se isso não fosse óbvio. Mas aplique a compressão DEPOIS de aplicar o efeito, OK, seus retardados? E aplique no CANAL, MALDIÇÃO. Não “espere até a mixagem”.
Joça. Ao vivo nós usamos o ferro-velho padrão: ampli de baixo SWR, uns Kurzweil K2500 (n. do e.: teclados) etc.. Na guitarra eu só uso o POD (n. do e.: pedal simulador de amplis) ligado num spring reverb baratinho para o canal limpo, e um JMP-1 (n. do e.: pré-amp da Marshall) velhinho e surrado para a distorção. Tudo direto. Nem sei de que marca é a minha guitarra – algum cacareco de 100 dólares. Eu concentro mesmo todo o meu esforço é em organizar a maldita banda toda em torno do cérebro do meu K2500 e seus dois filhinhos, tocados pelo Bär Mckinnon e por um músico contratado. Nós mandamos 8 saídas (4 pares de estéreo) agrupadas de acordo com: a) reverb; e b) quem precisa ouvir o que no seu retorno. Não há uso de sequencers nem programações. Tudo é tocado, e quando há samples, são samples de nós mesmos – coisas que eu tive que reagrupar as três máquinas de rolo do estúdio para conseguir os conjuntos certos de sons e mixá-los para usar ao vivo como samples. Normalmente, há 32 camadas de som em cada teclado para CADA MÚSICA. É inimaginavelmente complexo...demais para começar a explicar. Foda-se a Kurzweil por não nos ter dado um endorsement. NINGUÉM exigiu tanto ou aproveitou todo o potencial dos teclados deles como nós. Mas graças a Deus que eles os fabricaram, porque nós estaríamos mortos sem eles.




08) Eu notei que no California existem várias alusões à religião. Há algo em particular neste assunto que fascina vocês ou apenas fazia parte do contexto que vocês selecionaram para contar as suas histórias?Isso foi provavelmente minha culpa. Desculpa. Os membros da banda são agnósticos. Eu sou um esquizofrênico, então não tenho como me enganar Daí a tentativa maníaca de superar a maldição do pós-modernismo com um criptotradicionalismo musical fanático que às vezes aparece nas letras/encartes/conceitos do Mr. Bungle. Como disse, minha culpa, gente. Desculpa.

09) O que você acha de bandas como System Of A Down e Slipknot? Eles costumam citar o Mr. Bungle como uma de suas principais influências.
Tem um cara chamado Vigan que morreu recentemente (n. do e.: Vigen Derderian, morreu nos EUA dia 26 de outubro, aos 73 anos). Ele era um popstar armênio/persa. Imagino se o Shavo ou o Serge (n. do e.: baixista e vocalista do SOAD, respectivamente) ou algum desses caras o conhecia. Enfim, eu não tenho problemas com o System Of A Down – eles foram bem legais conosco quando excursionamos com eles. A indústria da música e o rock em geral são tão escrotos, de um jeito que você não acredita, especialmente quando você está “dentro” deles. Eu não sei como esses caras lidam com isso. Ah, sei sim. Drogas. Eu não agüentaria, mas eles são
armênios, eles vão ficar bem. O Slipknot eu conheço mais de nome e sei que o vocalista é um "cara legal", segundo alguns conhecidos meus do Death Metal. Por isso, vou evitar qualquer julgamento (o que eu admito que seria bem ruim se eles fossem baseados no pouco que eu vi e ouvi).

10) Você pode me indicar um bom livre introdutório à religião/filosofia oriental, sendo ele geral ou específico (por exemplo, indiano)? Acho perda de tempo não ler no ônibus.
Bem, “oriental” é uma palavra genérica, que engloba muita coisa. Devo dizer que os assuntos que estou lendo – xiismo, sufismo (n. do e.: variações do Islã) e afins – não são fáceis de digerir para muitas pessoas. Indo direto à fonte, Rumi e Hafez (n. do e.: poetas medievais afegão e
iraniano, respectivamente) são boas pedidas, mas estão sendo “superbadalados” no momento, então tome cuidado. Sinceramente, a melhor introdução para esses assuntos viria provavelmente de uma perspectiva orientalista ocidental mas-não-tão-fraca-assim, como a do
Henry Corbin (n. do e.: filósofo francês que viveu de 1903 a 1978). Seus livros “Swedenborg e o Islã Esotérico” ou “O Homem de Luz do Sufismo Iraniano” são boas introduções (n. do e.: não há traduções para o português dos livros de Corbin). As verdadeiras obras-primas dele não são coisas que eu posso recomendar de cara, porque são muito difíceis sem que se tenha uma base tanto em filosofia islâmica quanto em ocidental. Na verdade, Seyyed Hossein Nasr (n. do e.: físico iraniano especializado em Cosmologia e Ciência Islâmica, é professor do assunto na Universidade de Georgetown, EUA) também escreveu clara e maravilhosamente bem sobre os assuntos Islã, Misticismo e Tradicionalismo durante muito tempo. Entre esses dois autores, você tem uma vasta lista pela frente, mas vale a pena. No sentido mais amplo de “oriental”, mas não tendo a ver com qualquer um dos meus trabalhos, eu posso recomendar de todo o coração as obras de Chogyam Trungpa Rinpoche (n. do e.: filósofo tibetano, professor de budismo na Inglaterra e nos EUA, viveu de 1930 a 1987). Ele destrói totalmente essas besteiras da moda, esquarteja todo esse lixo de “espiritualismo” e faz de uma forma direta você destrinchar, intimamente, seus complexos – se você quiser investir nisso, ele te dá um remédio forte, claro – é ‘o’ cara. “Dissecando O Materialismo Espiritual” e “O Mito da Liberdade” são meus favoritos, mas muitas pessoas começam por “O Caminho Sagrado do Guerreiro”, que é mais inteligível.
12) Você faz viagens astrais?Tanto quanto qualquer pessoa. Eu tento não fazê-las, apesar disso. Não há nada lá fora a não ser jinn (n. do e.: vejam que viagem: www.thejinn.net) – não importa quão bonitinhas e fofinhas e loucas as coisas possam aparecer para o olho não-treinado, elas são jinn – tudo. E, como eu não sou um praticante de magia negra, não vejo utilidade para esse tipo de coisa.

13) Que bandas brasileiras você curte?
Eu admito que gosto do Caetano Veloso, sim. Agora, "bandas", eu não gosto de nenhuma americana, com exceção de Devo e Sun City Girls, e talvez do Sleepytime Gorilla Museum um pouco. Então, por favor, me informem se tiver algo tão bom assim aí embaixo.

14) Que mensagem você mandaria aos fãs brasileiros do Mr. Bungle?
"Das Ist Das Ende" (n. do e.: “Este é o fim”, em alemão)

15) Na música "Ma Meeshka Mow Skwoz", nós podemos ouvir uma gama de influências que vão desde música de trilha sonora de filmes à música de desenho animado. Qual é a intenção real dessa música?
Bem, a intenção NÃO É a de instruir pessoas a cometerem suicídio, como uma fã japonesa aparentemente entendeu. Ela perseguia nosso empresário de turnê e pedia para falar comigo todos os dias durante 3 semanas até ele encher o saco e me pedir pra eu tirar ela do pé dele. Quando eu finalmente falei com ela, descobri o que ela queria. Então tive de explicar pra ela que a mulher no desenho do encarte para esta música NÃO era ela e que o queimador de incenso não era o disco voador que matou o cachorro dela na semana anterior e que, sendo assim, a música não era um manual de instruções de como ela deveria se matar. Não, isso ela NÃO é. Mas É, talvez, música de funeral ou apocalíptica para todo o mundo pós-globalização que o Templo da Economia conquistou - mas ninguém precisa morrer antes dos outros, ok???

16) Na turnê do Sno-Core (n. do e.: em 2000, com System Of A Down, Incubus e Puya), vocês costumavam se fantasiar de várias formas e com diversas roupas. Qual era sua preferida? E qual foi o melhor show dessa turnê e por quê?
O show na Carolina do Norte foi o melhor porque eles nos odiaram e isso pareceu certo. O Mike deu instruções de como fazer um boquete usando o microfone dele durante uns 15 minutos para todos aqueles idiotas homofóbicos gays reprimidos que estavam na platéia. Eu estava fantasiado como um vaidoso príncipe barroco e ficava atirando beijinhos aos irritadinhos suados que ficavam gritando na primeira fila - daí alguém jogou água e acertou o teclado. Isso me deixou puto, e eu olhei pra ver quem tinha jogado. Daí jogaram de novo e eu vi quem era, o cara estava a 9 cabeças do palco e mais à direita - era um skinhead enorme. Assustador. Mas eu sou muito sensível quando se trata do meu teclado, então, irracionalmente, eu pirei e comecei aquele velho papo de "você tá morto, seu filho da puta". E, enquanto eu apontava pra ele, uma baqueta veio girando de trás de mim e, sem brincadeira, acertou o filho da puta bem na cara!!! Acreditam? Ele até caiu e tal - e o Danny tinha jogado ela de uma distância de 40 jardas – e ACERTOU o cara! Tinham mais de 2000 pessoas lá! - o Danny me falou depois que ele nem sequer enxergava o cara! Ele simplesmente jogou onde eu estava apontando! Nem preciso dizer que todas as pessoas que viram aquela merda provavelmente pensaram que eu fosse um mago - Uau - Quem me dera. Uma bicha ultra-violenta, psicopata, com poderes telecinéticos - As gatinhas curtem!

16) Deixando de lado o ponto de vista das outras pessoas, quais foram as
SUAS razões para entrar e sair do Faith No More em tão pouco tempo?

Para entrar: Eu gostava do Faith No More
Para sair: Eu não gostei do Faith No More
Wles estavam passando por uma "época difícil", eu creio. Isso, aparentemente, explicaria o fato de eles pensarem que eu entraria na banda por um salário de roadie, sem sequer poder renegociar os termos do contrato... hmm. Provavelmente teria funcionado, se eles não estivessem tão FODIDOS internamente naquela época. O empresário deles era legal dentro do possível, a gravadora era ok dentro do possível, a mentalidade da banda é que era uma merda. Bom, eu tenho que admitir que o Roddy Bottum era um cara legal e decente, mesmo durante a época "negra". Quanto ao resto da banda, eles se juntaram com o contador espertinho deles e alguns outros caras sinistros e tentaram planejar toda uma estratégia suja de marketing – foi tudo tão fadado ao fracasso desde o começo – mais o fato de que eles se odiavam mutuamente. Eu acho que fui egoísta. Podem me matar se eu não fui ingênuo o bastante para comprar a idéia daquela xaropada yuppie que estava sendo derramada sobre aqueles coitados. Mas havia chegado o ponto em que eles estavam derramando esse xarope uns nos outros – e, meu Deus, na hora em que eu entrei na banda eles estavam afundando nele. Eu tive que me perguntar: qual a honra de afundar junto com esse navio? Foda-se. É uma ‘experiência de aprendizado’. Sim, é o que aquilo foi. E houve outras experiências dessas, por exemplo, quando eles me fuderam na mídia dizendo que eu tinha saído porque eu era um garotinho rico e tinha medo de fazer turnês... (enquanto eu mendigava a eles dinheiro para comer um burrito quatro meses antes). E eles tentaram me cobrar $10,000 por um ampli de $700, hã, Uau. E o advogado deles entrou na Justiça com um pedido para me proibir de falar sobre o assunto. Eu não ia falar mesmo, uma vez que eles obviamente fizeram um trabalho de colocar a corda no próprio pescoço muito melhor do que eu jamais faria. Mas já faz tempo, e eles terminaram, e você perguntou, então aí está... algo especial para os irmãos brasileiros! Venham me pegar, Corporação FNM, estou com tanto medo.
Viu como é bom ser famoso? E a parte mais engraçada é que todos se fodem no final - - - por isso não guardo nenhum rancor atualmente. Sinceramente. Eu encontrei o Billy uma ou duas vezes desde então e eu honestamente entendo o que aconteceu àquela banda e me sinto mal a respeito. Quero dizer, o Billy era o cara com quem mais me entendia musicalmente - e ele se fodeu tanto quanto ou até mais do que eu, então... e além do mais, qualquer fã do Liabach (n. do e.: Laibach, banda eslovena) é meu amigo. Que posso dizer? Todo dia é Dia do Juízo Final.

17) O Mr. Bungle está parado já tem algum tempo, e no momento alguns integrantes (incluindo você) estão mais voltados para outros projetos musicais (não necessariamente fazendo parte deles), outros nem estão morando mais nos EUA... mas vocês ainda estão trabalhando juntos (ou não) em algum material novo do Bungle?
Não oficialmente, mas eu acho que todos nós queremos – o dia vai se aproximar quando pelo menos eu e o Mike nos falarmos. Então nós teremos uma idéia melhor.

18) Quem são os outros caras do Faxed Head, além de você e do Neil
Hamburger? E o Hospício para Jovens de Coalinga ainda está aberto,
ou em manutenção?

Os membros do Faxed Head são McPatrick Head, Jigsaw Puzzle Head, Neckhead, La Brea Tar Pits Head, e, é claro, Fifth Head. Você terá que perguntar ao ASCII Head sobre o Hospício.

19) Trey, eu estava tentando traduzir None Of Them Knew... e encontrei um conteúdo interessante. Existem referências a Santo Augustinho, ciência e física. Como estudante de filosofia e grande fã do seu trabalho, queria saber se você estudou filosofia, física, antropologia ou apenas gosta de ler sobre estes assuntos?
Sou "pré-esquizofrênico", então não consigo evitar em me preocupar com a fratura que ocorreu no mundo moderno devido a algumas conseqüências problemáticas em adotar certas crenças. Já que a música está acima da filosofia, da astronomia e da geometria de acordo com a velha concepção grega, eu acho que é bem natural que a música acaba incorporando essas coisas tão facilmente. Na verdade, pela minha vida, eu não consigo entender por que isso é a exceção e não a regra... exceto pelo fato de que a adoção de certas crenças ou suposições, em que todo o mundo moderno se fundamenta, causa uma grande brecha entre a realidade, que é muito grande para se consertar. Isso acontece porque as motivações do homem moderno são limitadas a um campo de atividade extremamente estreito e possui a negação ou a descrença em qualquer coisa que não esteja totalmente dentro de seu binário radar pseudo-cultural. Eu sinto que tenho que contextualizar meu trabalho em termos dentro da Grande História, já que em termos da prisão da modernidade, eu estou claramente operando "de fora para dentro", em oposição a ser mais um outro grafiteiro banal que pinta os muros
"de dentro para fora"...

20) Você prefere escrever letras baseadas nessas idéias complexas ou às vezes você tem vontade de escrever como o Patton, explorando o nonsense e idéias mais sarcásticas?
Eu sou bem diferente do Patton. Eu acho que é um bom contraste. O nonsense e o sarcasmo dele fazem meu turbilhão de idéias parecerem menos doidas e mais humanas, e meu turbilhão de idéias faz o sarcasmo dele parecer mais exemplar do lado mais interessante e bonito do nonsense. Isso pode ser a chave secreta do Mr. Bungle, apesar de que todos negariam isso - incluindo eu.

21) Na época em que você estava no Faith No More, você chegou a participar do processo de composição do "King for a Day"? Quais são suas músicas preferidas daquele álbum?
Eu gosto da última música. Meu momento de maior orgulho naquele álbum foi tentar convencer o Billy de que aquela música DEVERIA estar no disco. Ele acidentalmente botou pra tocar uma parte dela quando ele estava procurando umas idéias gravadas numa fita cassete dele, e eu fiz ele voltar a fita e deixar tocar a música inteira pra mim. Ele escreve muita coisa maravilhosa, como aquilo, mas penso que ele não acha que as músicas são realmente boas. Isso não é ridículo? Se eu comandasse o Faith No More, eu faria do Billy o principal compositor e do Roddy, o arranjador das coisas mais pop. Em outras palavras, deveriam ser esses dois caras mais o Puffy em um quarto compondo, com a guitarra sendo adicionada bem depois, e os vocais bem no final do processo. Só assim aquela banda funcionaria. E, do que eu posso falar, sempre era ÓTIMO quando era feito assim.

22) O Mr. Bungle conseguiu um status de banda cult, mesmo estando em
uma grande gravadora. Como você vê isso hoje em dia?
Sempre foi uma anomalia. Se nós, em algum dia tivéssemos um empresário esperto, o que nunca tivemos, nós reconheceríamos que essa banda tem, de longe, a melhor e mais indestrutível fórmula do mundo: a MÚSICA. Mas não. Nós temos que puxar o saco de tipinhos que se acham os maiorais da indústria musical e fingem ser punks ou alguma merda do tipo para que eles venham nos "representar", pois eles sabem que há dinheiro fácil para ser extraído de nossa fórmula indestrutível. NÓS deixamos isso acontecer. É NOSSA culpa. Mas não são apenas os mongóis donos de selos punk que são anti-verdade, ninguém nessa bosta de indústria parece acreditar no óbvio: a banda é cultuada por causa da MÚSICA, não pelas personalidades envolvidas, não por alguma bosta de estratégia de marketing - é a MÚSICA. A MÚSICA. Você não tem que entrar nos joguinhos deles. NÃO TEM. Fodam-se os joguinhos imbecis. Ninguém ganha. Aceitem. A MÚSICA, por outro lado... é vitória certa. Se você conseguir não deixar subir à cabeça, os fãs estarão sempre lá. Esses cretinos acham que os fãs são burros, apenas peões dentro do seu joguinho. Não funciona assim. Simplesmente NÃO funciona assim... não é a Bolsa de Valores.

23) Como você vê o mercado americano de hoje em dia para um músico independente? É mais difícil de viver de música atualmente fazendo algo criativo?
Sim, é claro. E isso vai separar os homens dos meninos, não é mesmo? Eu apóio totalmente.

24) Aquelas covers do Emperor feitas pelo Mr Bungle eram só de zoação?
Ou vocês gostavam de Emperor?
Eu gostava do primeiro EP do Emperor, que é o que tem as músicas que a gente tocava. Depois o "In the Nightside Eclipse" saiu, e também era muito bom. Desde então, perdi o interesse...

25) Como está a cabeça do Mcpatrick? Melhor?
Cada vez pior. Essa é a vida dele.

26) Ennio Morricone = trey spruance , Nino rota = mike patton ?Essa foi ainda pior do que Lennon/McCartney, cara.

27) Que bandas e/ou artistas você tem ouvido atualmente?
Asterisk e compilações de "bandas" javanesas e sumatras que saíram pela Sublime Frequencies neste mês... é muito bom. "Kosmos", é uma compilação de música espacial da Europa Oriental dos anos 60, e também comerciais de TV alemães feitos no final dos 60/começo dos 70 - essas compilações chamam-se "Popshopping" e saíam pela Crippled Dick. Eu descobri elas recentemente. São muito boas. Mais nada. Eu odeio a música atual, com exceção de coisas extremas como o Pig Destroyer.

28) Sobre o Secret Chiefs 3, quais são os planos pro futuro da banda? Tem um CD novo e uma turnê vindo aí? E quem são os membros da banda atualmente?
Novo CD no começo de Abril, chamado "Book of Horizons" ("O Livro dos Horizontes"). É o maior de todos. Tem toneladas de músicos: Kang, Heifetz e os cúmplices de sempre. Além de Shazad Ismaili e Ches Smith na percussão e na bateria, e alguns vocalistas malucos. Esse projeto tem me matado. Espero que valha todo o esforço que tenho feito por ele...

29) Quais são seus planos pro futuro, além do SC3?
Não há futuro, com exceção do SC3, talvez do Mr. Bungle. Há uma enorme expansão do SC3. Logo que vocês ouvirem o novo álbum, vão entender - está se expandindo em sete bandas diferentes. Bandas bem diferentes. É difícil explicar, mas vocês vão compreender quando escutarem. Ou não vão entender absolutamente nada. Mas de qualquer jeito vai ser uma pedrada.

30) Qual era a parte mais difícil no Mr Bungle: compor o álbum
(considerando a complexidade das músicas) ou sair em turnê (considerando a complexidade em tocar essas músicas ao vivo). E como funcionavam ambos os processos? E nós vamos ter a oportunidade de ver o Bungle tocando ao vivo novamente?
Gostei dessa pergunta – eu toquei no assunto por cima antes. Compor é a parte mais fácil e divertida, acredite ou não. Gravar é a parte mais difícil, e se preparar para tocar ao vivo também. Já que grande parte do trabalho de como fazer as coisas no estúdio e como reproduzí-las ao vivo é meu dever, eu poderia dizer que essa é a parte mais difícil, lógico. É um cara ou coroa. Ocupa anos e anos da minha vida, acredite.

31) O que exatamente aconteceu na turnê européia do Mr. Bungle em 2000
que fez com que você e o Mike Patton perdessem o interesse em tocar
juntos?

Boa pergunta. Não estou 100% certo. Eu sei que eu estava ficando irritado com a situação do nosso empresário. Não tenho a mínima idéia de com que o Mike estava irritado, e ainda não sei. A coisa toda parece um pouco ridícula.

32) No tributo Great Jewish Music ao Marc Bolan, você fez uma excelente
Cover de "Scenescof" junto com Phil Franklin na percussão. Você já pensou em fazer um álbum solo?

Eu acho que eu odeio essa coisa de "álbums solo". Se estivéssemos vivendo em um época onde um compositor pudesse ser um compositor, é isso que eu seria. Mas já que não estamos, não vou me degradar lançando álbuns solo. Eu simplesmente vou montar algumas bandas que serão extensões do meu processo de composição e aí verei se funciona. Até agora, tem funcionado.

33) Você disse uma vez em uma entrevista que haviam sobrado faixas tanto do Disco Volante quanto do California. Será que ainda vamos ouvir isso algum dia? E será que você pode falar algo sobre essas músicas?
Eu espero que vocês ouçam. Uma chamava-se "Coldsore", composição do Bär, e é muito boa - é uma espécie de cruza de "After School Special" com "Chemical Marriage", talvez com um quê de anos 80 - que alguns vão achar ofensivo. Outra canção que ficou de fora há um tempo atrás tinha o nome provisório de "spy" e é muito boa para ficar de lado também. Até o Danny escreveu partes para esta música. Nossa, eu espero que algum dia a gente lance elas de algum modo.

35) Alguma música do Mr.Bungle's foi gravada de forma improvisada? Cite exemplos.



Nenhuma!O fim de Dead Goon tem uma parte semi-improvisada, eu suponho. Partes de Platypus onde a música se "despedaça" são semi-improvisadas, eu creio. Acho que é isso.

36) Qual seu método de composição? Letras primeiro... ou você costuma
escolher um tema antes, ou começa com o instrumental...?

É sempre diferente. Eu acho que, para mim, a música tende a vir antes da letra, mas eu sei sobre o que a música vai ser desde o princípio. A letra meio que aparece pelo caminho. Merry Go Bye Bye foi escrita, letra e música, em 20 minutos. None of Them Knew They Were Robots foi escrita em mais de um mês, musicalmente, e a letra foi vindo esporadicamente - - - depois eu encaixei toda a letra na música num café, literalmente no DIA da gravação - depois de passar uma noite sem dormir gravando. Não tenho idéia de como essas coisas surgem, elas simplesmente aparecem.

37) Você tocou com o FNM por um curto período, como foi?Uma bosta.
Fonte: Collision