domingo, 12 de junho de 2011

Slayer



A ideia de que vai “chover sangue” nesta quinta-feira (9) em São Paulo é uma metáfora que deixa muito roqueiro da cidade feliz. Para quem não conhece o grupo americano de thrash metal Slayer, entretanto, a frase, referência a um dos maiores clássicos do estilo, fica perdida e pode até assustar - desnecessariamente.
Para metaleiros, Slayer representa uma das maiores referências de som pesado de todos os tempos, com guitarras velozes, vocal rouco e agressivo, baixo e bateria em sincronia perfeita - tudo em alto volume e com muito barulho. São 30 anos de carreira, com mais de dez álbuns lançados e clássicos do thrash metal, que fazem da banda uma das “grandes 4” do estilo, junto a Metallica, Anthrax e Megadeth.
Para essas pessoas, talvez não haja muita novidade ao dizer que a banda volta a se apresentar em São Paulo nesta quinta-feira (9), com a turnê World Painted Blood - elas provavelmente já sabem, e vão ao show.
Para apresentar a banda que compôs “Raining Blood” aos não-iniciados na barulheira agressiva do metal, que deixa tantos fãs em êxtase, o G1 convidou três músicos eruditos para avaliar músicas que fazem parte do repertório que o Slayer apresenta na atual turnê.
A impressão deles ao ouvir ao som do grupo pela primeira vez é de que há muita “repetição” e “simplicidade”, uma música “primal”, com “caráter hipnótico” e tocada por “músicos muito competentes”.
O maestro Gil Jardim, a maestrina Claudia Feres e o violonista erudito Fabio Zanon deixaram claro que não costumam ouvir heavy metal e que não querem fazer juízo de valor do estilo de música de que outras pessoas gostam, nem disputar que estilo é melhor. A análise deles é propositalmente superficial, simples e distante, mostrando a impressão inicial de pessoas que conhecem música clássica ao escutar a banda pela primeira vez.
'Eles gostam de Mi bemol!' - Regente titular e diretora artística da orquestra municipal de Jundiaí, a paulistana Claudia Feres nunca tinha ouvido falar em Slayer até o convite do G1. Ela aceitou escutar duas músicas das mais famosas já gravadas pelo grupo: “Seasons in the abyss” e a já mencionada “Raining blood”, e não ficou muito convencida. “Meu mundo é bem distante desse do heavy metal. Não me atrai. Não me faz muito bem.”
Segundo ela, as músicas têm um perfil “muito repetitivo, monotônico". "Rítmica e melodicamente muito pobre”, disse. “A base das duas músicas é muito parecida. Parece que há um cuidado em encontrar essa sonoridade dura e árida, uma sonoridade pesada que traga sentimentos de dor e sofrimento. (Eles gostam de Mi bemol!)”, completou.
Grande batera' - Fabio Zanon contou que já tinha ouvido falar da banda, mas nunca tinha escutado nenhuma das suas músicas. Após ouvir "World painted blood" e "Angel of death", ele fez elogios à bateria do Slayer e à “cozinha”, como costuma-se chamar o casamento sonoro dela com o baixo.
“A bateria é muito interessante. O cara é criativo, pois as duas músicas são em compasso binário, muito repetitivo, e o cara consegue fazer coisas diferentes, mudar muito os formatos. Se não fosse a bateria, o som ia ficar muito primário”, disse. Segundo ele, toda a produção é muito interessante e profissional, mas a sonoridade é “primal, lembrando música ritual, primitiva, com caráter hipnótico”, disse. “Música em compasso binario sempre lembra marcha.”
Segundo Zanon, “World painted blood” usa uma espécie de modo cigano que “é interessante, foge um pouco à expectativa de harmonia padrão que eu esperava nesse gênero e realça o caráter lúgubre da música.”
O violonista erudito fez questão de ressaltar que não é conhecedor do estilo. “Um gênero desses tem de ser julgado dentro de sua própria esfera sócio-cultural. Não dá pra se julgar tomando como parâmetro Beethoven ou com Tom Jobim, é outro departamento”, disse. “Não é que eu não tenha respeito e não admita qualidades musicais, simplesmente não tenho o componente antropológico pra me identificar”, completou.
Excentricidade planejada - Para o diretor artístico da Orquestra de Câmara da Universidade de São Paulo e diretor artístico da Philarmonia Brasileira, o maestro Gil Jardim, o Slayer é um grupo muito profissional com ótimos músicos e que faz da personalidade radicalmente excêntrica um negócio competente e bem planejado.
“Poderia definir a música feita pelo Slayer, assim como grande parte do rock, como rudimentar se a compararmos com obras produzidas ao longo da história da música clássica ocidental, ou mesmo com a música popular brasileira ou pelo jazz americano”, disse, em texto enviado a pedido do G1.
“Suas músicas trazem letras elaboradas estritamente dentro da linha que caracteriza o grupo, com temas e expressões escolhidas em busca de ‘objetos de uma realidade pervertida, da obsessão além dos sonhos selvagens...’ Na verdade, jamais se perde de vista a busca por um “êxtase permanente”, seja qual for o tema: a morte, a guerra, o sexo, a droga.... E sob esse ponto de vista, o som que tende a ser sempre eletrizante em sua pulsação, em seus decibéis, é coerente esteticamente”, completou.
“Devemos ter claro que, para manter essa linha de ‘excentricidade infinitamente arrojada’ é necessário trabalhar com planejamento, com acuidade, com sagacidade. É um negócio. Esse é o produto da banda Slayer, construído, bem ensaiado (os músicos são muito bons) e, mais que vendido, comprado pela imensa multidão que os acompanham ‘enlouquecidamente’. Naturalmente, o mise en scène é particular, assim como em cada um dos outros estilos musicais”, disse, defendendo o gosto alheio e alegando ser inútil gerar uma disputa sobre qual estilo é “melhor” de que o outro.

Daniel Buarque Do G1, em São Paulo

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É curiosa a semelhança entre shows de metal e rituais religiosos. Principalmente quando as músicas tocadas têm nomes como "Ódio pelo mundo", "Chovendo sangue" e "Anjo da morte". No show de ontem à noite em São Paulo, a banda americana Slayer colocou no palco seus quase 30 anos de serviços prestados ao metal, e os súditos agradeceram com gritos de devoção, em um transe difícil de explicar para quem nunca usou camisas pretas e chacoalhou os cabelos ao som de uma guitarra distorcida.

Antes de entrar na casa de shows Via Funchal, o público enfrentou o frio de São Paulo em uma enorme fila. Os carros que passavam pela avenida tocavam musica pesada, alguns fãs extravasavam a excitação com gritos guturais de "Slayer!" e os ambulantes faziam sua festa particular vendendo cerveja e demais bebidas a preços tradicionalmente exorbitantes. A fila só diminuiu quando o começou o show de abertura da banda brasileira Korzus.

Os brasileiros esquentaram o clima para o a atração principal da noite. A banda toca um estilo de thrash muito parecido com o do Slayer, mais rápido e agressivo. Apresentaram músicas do novo disco, "Discipline of hate", e saíram do palco entoando com o público o mantra "Slayer!". Pouco tempo depois, subiram ao palco os integrantes de uma das maiores bandas de thrash metal do mundo.

A formação clássica teve uma importante ausência, o guitarrista Jeff Hanneman. No começo do ano, Hanneman sofreu uma mordida de aranha no braço que lhe causou uma doença chamada fasciite necrosante, conhecida nos Estados Unidos como "bactéria comedora de carne".
Antes de poder fazer uma bela canção com o nome de sua doença - afinal, o Slayer já tem um sucesso chamado "Máscara de pele morta" ("Dead skin mask") -, Hanneman está sendo substituído na turnê pelo talentoso Gary Holt, da banda Exodus, considerado um dos melhores guitarristas de metal do mundo. Além de Holt, estavam lá os idolatrados Dave Lombardo (bateria), Kerry King (guitarra) e Tom Araya (baixo e vocal).

O show começou com dois sucessos do último disco da banda, "World painted blood" (música título do álbum) e "Hate worldwide". A partir daí, quando a banda se preparava para emendar uma sequência de clássicos, o som teve uma falha no fim de "War ensemble" e só os músicos conseguiam se escutar pelo retorno. Com 30 anos de experiência, o líder Tom Araya percebeu o problema e trouxe a situação a seu favor. Pediu para que todos cantassem os versos finais da música e regeu os súditos. Depois do show, o Via Funchal colocou uma mensagem no telão responsabilizando a empresa de som da banda pelo problema.

A sintonia era tão grande que coube até uma brincadeira de Tom Araya em homenagem ao dia dos namorados, no próximo domingo. "Essa é uma música de amor", disse, antes de entoar os românticos versos "Como esperei para você vir/ Estive aqui sozinho/ (...) Esfolando a pele com a ponta de meus dedos/ (...) Membros cortados, ornamentos do meu ser", da música "Dead skin mask".

Em quase duas horas de show, o grande momento foi a sequência final do bis, com talvez os maiores clássicos do Slayer: "South of heaven", "Raining blood", "Black magic" e "Angel of death". Todos sobreviveram, felizes, e talvez alguma labareda infernal fosse útil para esquentar a volta para casa.

rafael pereira e andré sollitto

época

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As décadas se passam, mas o Slayer continua o mesmo. No show que fez nesta quinta-feira em São Paulo, o grupo mostrou porque ainda é referência no que há de mais rápido e pesado em matéria de rock: quase duas horas da mais pura agressão sonora, que nem os problemas no som do Via Funchal conseguiram atrapalhar.
O grupo abriu a noite com duas canções de seu mais recente álbum, "World Painted Blood", de 2009. Já no início deu para perceber que a apresentação seria memorável: a banda ainda não havia tocado nenhum de seus clássicos, mas o público já estava cantando junto. O vocalista Tom Araya, sorrindo, parecia surpreso com a recepção.


O clima esquentou na terceira música, "War Ensemble", faixa da obra-prima do Slayer, "Seasons in the Abyss", de 1990. Mas, na hora em que a plateia batia as cabeças com mais vontade, as caixas de som ficaram mudas. Quando Araya percebeu que não havia som, pediu para o público continuar cantando a música. Foi atendido, obviamente.
Depois desse involuntário momento acústico, o show foi interrompido até que o som fosse restabelecido. A plateia, enquanto isso, xingava a casa em coro. Cinco minutos depois, tudo foi resolvido e o Slayer voltou com força total.
Os clássicos foram se sucedendo: "Disciple" e tem refrão "god hates us all" gritado pelo público, a mais lenta (mas não por isso menos pesada) "Dead Skin Mask" (com Tom Araya recitando a letra antes de iniciar a música), a velocidade de "The Antichrist".
Os dois pontos altos foram sabiamente guardados para a segunda metade da apresentação. O primeiro foi "Mandatory Suicide", música em que o grande baterista Dave Lombardo deu um show à parte. "Seasons in the Abyss", com seu início lento que dá torna ainda mais potentes o peso e a velocidade que vêm depois, foi o segundo.
Após 19 músicas, a banda parou o ataque sonoro. Mas nem chegou a deixar o palco para voltar para o bis. Tocou então quatro de seus maiores sucessos: "South of Heaven", "Raining Blood", "Black Magic" e "Angel of Death".
Veja abaixo o repertório do show do Slayer no Via Funchal:
01. "World Painted Blood"
02. "Hate Worldwide"
03. "War Ensemble"
04. "Postmortem"
05. "Temptation"
06. "Dittohead"
07. "Stain of Mind"
08. "Disciple"
09. "Bloodline"
10. "Dead Skin Mask"
11. "Hallowed Point"
12. "The Antichrist"
13. "Americon"
14. "Payback"
15. "Mandatory Suicide"
16. "Chemical Warfare"
17. "Ghosts of War"
18. "Seasons in the Abyss"
19. "Snuff"
20. "South of Heaven"
21. "Raining Blood"
22. "Black Magic"
23. "Angel of Death"
 
 

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