As cruzadas à Palestina enfrentariam os muçulmanos locais
aos invasores cristãos, com a pequena população judaica da região
frequentemente lutando ao lado daqueles contra estes, como em 1099, em
Jerusalém, e em 1100, em
Haifa. No século XII, na época da Segunda Cruzada, os
muçulmanos se reunificam politicamente sob o comando do General Saladino, curdo
nascido em Cairo.
Saladino recupera Damasco (1174), Acre, Jafa, Beirute, e a
própria Jerusalém, em 1187. Na Terceira Cruzada, Ricardo Coração de Leão
derrotaria Saladino, forçando-o a negociar e celebrar o tratado de paz que
“abriu caminho a um período de calmaria militar e tolerância religiosa na
Palestina”2, permitindo aos cristãos visitar os lugares sagrados. A Quarta
Cruzada (1199) planejava tomar o Egito por mar, mas fez um desvio para a região
da atual Turquia, instalando o Império Latino de Constantinopla. A Palestina só
voltaria a ser afetada pela Cruzada de Federico II que, conhecedor da língua
árabe, foi capaz de “obter do sultão a entrega pacífica, embora condicionada,
de várias terras e das cidades de Belém, Nazaré e Jerusalém, onde o imperador
entrou e foi coroado em 1229”3. Já em 1244, Jerusalém voltaria ao poder dos
árabes, e o último reduto cristão na Palestina, São João de Acre, cairia em
1291. O controle de toda a área entre o Jordão e o Mar Mediterrâneo—os atuais
territórios de Israel e da Palestina Ocupada—permaneceria em mãos árabes até a
invasão turco-otomana, em 1517. Mesmo durante o período marcado pela sua
incorporação ao Império Turco-Otomano (de 1517 até 1917, com uma interrupção
egípcia durante a década de 1830), a Palestina manteria sua enorme maioria
árabe, organizada segundo laços sociais bem arraigados na região, que o império
turco não alteraria significativamente.
As sucessivas demonstrações de desmemória na política
ocidental para o Oriente Médio contrastam com o forte arraigo que certos
eventos históricos possuem na reminiscência das massas árabes. Em 1993, acusado
de estar celebrando com os israelenses, em Oslo, um tratado que não concedia
nada aos palestinos e o instalava na posição de cão de guarda de Israel, o
líder Yasser Arafat insistia, um pouco pateticamente (dadas as condições em que
negociava), que ele não celebraria qualquer paz, mas “a paz de Saladino”. O
leitor dos EUA não tinha a menor noção do que se referenciava ali, mas o povo
árabe não deixava de notar a ironia involuntária da impotente insistência de
Arafat na menção a Saladino. Antes de entrar no período histórico que
imediatamente influencia o curso dos acontecimentos que nos ocupam, portanto, é
boa ideia lembrar alguns fatos que se desprendem desse esquemático sumário de
alguns séculos de história palestina. Inicia-se no século VII uma intensa
arabização da região, que já era visível em séculos anteriores a Maomé, mas que
solidifica suas raízes com a chegada dos árabes a Jerusalém, em 638, e a
construção da mesquita Al-Aqsa. Durante os próximos 1.300 anos os árabes serão
a grande maioria em toda a região da Palestina. No período das Cruzadas, estima-se
que havia em torno de 1.000 famílias judias na região.4 Em 1914, já depois das
primeiras ondas migratórias estimuladas pelo sionismo, a Palestina (ainda,
naquele momento, sob domínio otomano) tinha uma população de 657.000 árabes
muçulmanos, 81.000 árabes cristãos e 59.000 judeus.5 De acordo com o censo da
Palestina de 1922, feito pelos britânicos, a população era 78% muçulmana, 9,6%
cristã (árabe, claro) e 11% judaica. No entanto, no jornalismo “ponderado”
sobre a região, mesmo depois de 60 anos de limpeza étnica e 43 anos de ocupação
ilegal, você verá desinformados funcionários da grande mídia dissertando, “mui
ponderadamente”, sobre os “direitos” dos dois povos sobre a Palestina.
O domínio otomano sobre a Palestina dura de 1517 a 1917, com uma interrupção
de 10 anos de administração egípcia na década de 1830. A submissão ao
império turco não altera de forma significativa o regime de posse baseado na
renda agrícola das terras, já visível no período do sultanato, anterior aos
otomanos. Esse sistema relativamente descentralizado de vilas e aldeias, com
arrecadação por senhores de terras e trabalho de cultivo por lavradores,
arraiga-se na região e ajuda a explicar o terror dos palestinos com—e sua
impotência para se defender contra—a violenta campanha de confisco de terras e
separação de raças que se inicia com o armamento dos sionistas, nas décadas que
antecedem a fundação do estado de Israel. Nas primeiras décadas do século XX, o
sionismo armado traria à região um modelo eminentemente europeu de organização
territorial e compreensão do espaço, caracterizado pela acumulação, posse e
construção de barrreiras fronteiriças. Munidos desse olhar que historicamente
relativiza os fatos, nos preparamos para explicar alguns “mistérios” que cercam
a história recente: como foi possível que metade de uma população árabe
palestina que já se media em bem mais de um milhão tenha sido expulsa tão
rapidamente por algumas dezenas de milhares de colonos sionistas? Como foi
possível que o nascente estado judeu tenha adquirido uma supremacia tão
incontestável no conflito com seus vizinhos árabes e com os palestinos? Para
repetir a pergunta que abre um artigo já clássico de Walid Khalidi: Por que os
palestinos foram embora?6Observando a realidade relativamente fluida de comunicação
entre as aldeias árabes, a intensa organização acumuladora de terras e de armas
entre os colonos sionistas e o papel das grandes potências–particularmente da
Grã-Bretanha—no processo, começamos a vislumbrar a explicação, que só se
completará, claro, com um estudo do que aconteceu em 1948. A compreensão dessa
diferença nos regimes de posse da terra, no entanto, é parte da explicação da
vitória sionista. Essa explicação, aliás, não tem a menor necessidade de
recorrer a estereótipos antissemitas do judeu mais esperto ou conspirador, nem
a estereótipos antissemitas do árabe mais atrasado ou indolente, nem a
falsificações da mitologia oficial israelense, que repetiram durante décadas
que os palestinos saíram voluntariamente ou obedecendo a misteriosas ordens
radiofônicas dos próprios árabes, mentiras já cabalmente corrigidas pela
própria historiografia israelense.
II – Da Declaração de Balfour (1917) à Palestina do Mandato
Britânico (1922-48)
Quando se estuda o processo histórico pelo qual se chegou à
atual, desastrada situação na Terra Santa, salta aos olhos a responsabilidade
das potências ocidentais que, ao longo do século XX (para nos atermos à
história mais recente), jogaram um jogo duplo, perigoso e marcado pela reversão
do que se havia dito antes. Pensando em seu próprio interesse e em completa
desconsideração pelo destino de milhões de civis inocentes, a Grã-Bretanha
literalmente toca fogo na região, ao fazer promessas contraditórias aos povos
árabes e ao movimento sionista. O reino de Sua Majestade não possui sequer a
desculpa de que se tratava de uma causa nobre. Era 1916 e 1917, e tratava-se da
consolidação de sua coalizão na Primeira Guerra Mundial. Ao contrário da
Segunda Guerra, defensável como reação legítima à agressão nazi-fascista, a
Primeira é um típico conflito napoleônico-clausewitziano moderno, um choque
entre impérios. A Turquia, aliada dos alemães, mantinha a Palestina árabe sob o
seu império otomano (como se viu acima, um jugo relativamente frouxo, onde a
vida palestina seguia com considerável autonomia, situação que nem de longe
tinha nada em comum com o horror das posteriores expulsão e ocupação
israelenses). Interessada em atrair os árabes, a Grã-Bretanha promete para
depois da guerra, em correspondência oficial entre Sir Henry Mac Mahon e o
xeque Hussein, de Meca, a criação de um estado independente nas províncias do
império turco em que se falava o árabe. A luta dos árabes contra a dominação
otomana acabaria sendo decisiva para a vitória de seus aliados britânicos
naquele front. Toda a evidência histórica demonstra que as lideranças árabes
esperavam que os britânicos cumprissem sua palavra e confirmassem o estado
árabe independente depois da guerra. Não foi o que aconteceu.
Ter prometido algo aos árabes não impediu que a Grã-Bretanha
celebrasse com a sua aliada França um tratado contraditório com a promessa
anterior. Os acordos de Sykes-Picot, de 1916, entre Grã-Bretanha e França, reservavam
aos franceses a Síria e o Líbano. Em 1917, as forças otomanas se rendem ao
general britânico Allenby em Jerusalém e em 1918 se confirma o fim do regime
otomano na Palestina. O Tratado de Versalhes, de 1919, selaria o arranjo de
Sykes-Picot entre França e Grã-Bretanha, deixando aos britânicos a área da
Jordânia (então chamada de Transjordânia), do Iraque e da Palestina. A Liga das
Nações, fundada depois da guerra, avalizaria esse arranjo, segundo o qual as
duas potências ocidentais se responsabilizariam por um “mandato” temporário
sobre essas regiões, até a sua independência formal. Em 22 de julho de 1922, a Liga das Nações
aprova o mandato britânico na Palestina, que deixaria como legado o progressivo
armamento dos colonizadores sionistas e a catástrofe palestina de 1948.
Ao mesmo tempo em que prometia independência aos árabes, o
império britânico fazia sua famosa promessa ao movimento sionista
internacional, a Declaração de Balfour (1917), patentemente contraditória com a
promessa feita aos árabes e com o próprio arranjo subjacente a Sykes-Picot e a
Versalhes. Enviada pelo secretário exterior britânico Arthur James Balfour ao
Barão Rotschild, para transmissão à Federação Sionista da Grã-Bretanha e da
Irlanda, a declaração mudaria a história do Oriente Médio: “O governo de Sua
Majestade vê favoravelmente o estabelecimento na Palestina de um lar nacional
para o povo judeu, e usará seus melhores esforços para facilitar a realização
desse objetivo, ficando claramente entendido que nada será feito que possa
prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não judias existentes
na Palestina, ou os direitos e status político desfrutados por judeus em
qualquer outro país”. Apesar de que a declaração mencionava a preservação de
todos os direitos da população nativa, é evidente que “Balfour não tinha nenhum
interesse em consultar os árabes da Palestina acerca de seu futuro”7. Em suas
memórias, Lloyd-George, primeiro-ministro em 1917, se refere à declaração como
uma recompensa a Chaim Weizmann, um dos líderes sionistas mais importantes
daquele momento (depois primeiro presidente de Israel) e químico que havia
desenvolvido um método de sintetizar a acetona na produção de pólvora. A
declaração também está inserida na tentativa de mobilizar as comunidades judaicas
da Rússia e dos EUA no apoio aos esforços de guerra britânicos, e termina sendo
um enorme estímulo ao movimento sionista. Depois da vitória aliada, o próprio
Chaim Weizmann participaria da Conferência de Paz de Paris, em 1919, clamando
por uma “Palestina tão judia como a Inglaterra é inglesa”8, num momento em que
os judeus representavam não mais que 10% da população da Palestina. No ano
seguinte, fundava-se na Palestina a Hagana, organização paramilitar judaica
depois responsável pelo extermínio ou limpeza étnica de centenas de aldeias
palestinas.
Só depois de três décadas (1880-1910) de migração, compra de
terras e armamento sionistas é que aparecem os primeiros registros de
preocupação entre as lideranças palestinas. Em 06 de maio de 1911, o palestino
e membro do parlamento otomano, Said al-Husayni, apontava que “os judeus
planejam criar um estado na área que incluirá a Palestina, a Síria e o
Iraque”9. Segundo o historiador israelense Ilan Pappe, já entre 1905 e 1910 há
alguma evidência de discussão, entre líderes palestinos, do fenômeno do
sionismo como movimento político que acumulava poder e terra. Mas só a partir
da queda do regime otomano na Palestina (1917) e o começo do período britânico
(ocupação em 1918, mandato da Liga das Nações em 1922), o movimento sionista se
lançaria paulatinamente a um plano de limpeza étnica dos árabes. Ali passa a
ser visível a preocupação sistemática e, por vezes, o pânico das lideranças
palestinas com as ondas migratórias, a acumulação de terras e a violência física
que se iniciava. Mas ao longo das duas últimas décadas do século XIX e das duas
primeiras do século XX, a imigração sionista não esteve entre as grandes
preocupações dos palestinos.
Na década de 1920, os palestinos representavam ainda uma
maioria de 80% a 90% na região. A tentativa inglesa de construir estruturas
paritárias que reconciliassem as promessas contraditórias feitas por eles ao
povo árabe e ao movimento sionista encontrou compreensível resistência entre os
palestinos, que “se recusaram, no começo, a aceitar a sugestão britânica de
paridade, especialmente uma paridade que os colocava na prática em
desvantagem—o que incentivou os líderes sionistas a endossarem-na”10. Começa a
se desenhar ali um paradigma que seria reconhecível até os dias de hoje: 1)
instala-se uma mediação ocidental que recomenda uma solução patentemente
favorável ao sionismo; 2) os árabes protestam, apontando, como no caso em
questão, que a paridade entre um povo que representa 90% da população e outro
que totaliza 10% contraria o mais elementar princípio da democracia; 3) a
liderança sionista, com intenso trabalho de relações públicas, manifesta concordância
tática com a solução apresentada, sabendo que a recusa árabe os coloca na
posição de, ao mesmo tempo, aceitar um plano e não se comprometer com ele; 4)
enfraquecidos politica e militarmente, os representantes árabes voltam atrás e
aceitam a solução originalmente apresentada pela potência ocidental; 5) ante a
concordância árabe com o plano, é a vez da liderança sionista dizer que a
solução lhe é inaceitável, o que lhe permite arrastar o impasse e, a partir de
sua posição de força, aboncanhar mais e mais, ao mesmo tempo em que adia outra
vez uma solução definitiva; a vitória não impede que a liderança sionista
prolongue o impasse, reinstalado por um aumento das suas exigências; 6) esse
prolongamento faz com que todo o ciclo se reinicie, com mais concessões árabes
e mais impasse, até o ponto a que chegamos hoje, em que a população palestina
já não tem o que oferecer, exceto alguma forma mágica de desaparição. Esse
filme se repete com macabra previsibilidade, ante o olhar conivente das
potências cúmplices (Grã-Bretanha e, depois, os EUA), desde 1928, vinte anos
antes da fundação do estado de Israel. É a data em que as lideranças
palestinas, “apreensivas com a crescente imigração judia ao país e com a
expansão de seus assentamentos colonizadores, concordam com a fórmula
[paritária] como uma base para as negociações”11. É a data em que os sionistas
já não a aceitam e os britânicos permanecem de braços cruzados. Esses mesmos
sete passos se repetirão em 1947-48, no episódio que os apologistas da ocupação
israelense descrevem como o momento em que as Nações Unidas ofereceram um plano
de partição “que os judeus aceitaram e os árabes recusaram”. Já veremos adiante
todo o contexto que essa frase omite.
Entre 1924 e 1928 chegam mais 67.000 judeus (metade dos
quais oriundos da Polônia), elevando a população judaica para 16% do total da
Palestina do Mandato. Naquele momento, os judeus são donos de 4% da terra na
Palestina. O censo de 1931 registra uma população de 1,03 milhão de almas,
16,9% judeus. A não implementação, por parte da Grã-Bretanha, da fórmula
paritária que ela própria havia proposto, leva à rebelião árabe de 1929, o
primeiro grande sinal de descontentamento com a política imposta no Mandato.
Imagine um povo que representa quase 85% da população se rebelando, em sua
própria terra, para ter a paridade que lhe havia sido proposta com os outros
15% que acabavam de chegar. Agora imagine que a autoridade administrativa
responsável pela proposta se beneficiara da colaboração desse povo, como aliado
seu, numa guerra mundial, e que a moeda de troca oferecida por essa colaboração
não era paridade nenhuma, mas um estado seu, autônomo, em suas terras. Com isso
você terá os elementos centrais para entender a primeira rebelião de
desobediência civil árabe na Palestina moderna. Os confrontos em torno ao Muro
das Lamentações em 1929 levam à morte de 133 judeus e 116 árabes, a maioria por
mãos inglesas.12 Em 1931, funda-se o Irgun, outra organização paramilitar judia
que se caracterizaria pelos ataques sangrentos aos árabes.
Ao se completar uma década e meia da queda do regime otomano
e uma década da implantação do Mandato Britânico na Palestina, vão se
configurando os elementos que produziriam a tragédia: 1) o fim da ameaça
otomana ao sionismo, que depois de 15 anos já não tem que temer qualquer
eventual expulsão sua da Palestina vinda do regime de Istambul; 2) o pesado
armamento de grupos paramilitares sionistas como a Hagana e o Irgun, que vão
acentuando a escolha por conquista e violência; 3) a perplexidade das lideranças
palestinas, arraigadas em séculos de organização social descentralizada e não
equipadas por sua experiência para se contrapor de forma efetiva à ofensiva
territorial e armamentista do sionismo; 4) a incapacidade de setores das elites
árabes de perceber a natureza do fenômeno sionista, vendo-o muito mais como uma
“tentativa irresponsável por parte da Europa de transferir ao país o seu povo
mais pobre e sem estado”13; e evidentemente 5) a subida ao poder do Partido
Nacional Socialista alemão, que em menos de uma década alçaria 19 séculos de
antissemitismo a níveis jamais vistos, com a intensa campanha de perseguições,
agressões bélicas e matanças que culmina, já numa Europa em guerra, com o
genocídio de 6 milhões de judeus.
Qual é, então, a Palestina que assiste à invasão hitlerista
da Polônia que dá início à Segunda Guerra Mundial em 1939? Robert Fisk acerta
ao descrevê-la como presa a uma “atmosfera de suspeita, paranóia e intenso
sofrimento”, tanto para árabes como para judeus, “os primeiros com medo de a
Grã-Bretanha acabar autorizando a fundação do estado israelense em suas terras,
e os segundos observando a aniquilação de sua raça na Europa”14. Não há dúvidas
de que, na medida em que vão ficando visíveis as dimensões do Holocausto judeu
na Europa, reforça-se a percepção sionista de que a implantação de seu estado
na Palestina é uma questão de sobrevivência. Mas antes mesmo do início da
Segunda Guerra Mundial, em 1938,
a voz de historiadores como George Antonius já se
levantava contra a eventual “resolução” do problema às custas dos árabes
palestinos:
O tratamento dado
aos judeus da Alemanha e outros países europeus é uma vergonha para seus autores
e para a civilização moderna; mas a posteridade não exonerará nenhum país que
não consiga enfrentar sua parte dos sacrifícios necessários para aliviar o
sofrimento e a angústia dos judeus. Impor a maior parte da carga à Palestina
árabe é uma miserável forma de esquivar-se das responsabilidades que deveriam
recair sobre todo o mundo civilizado. Também é moralmente vergonhoso. Nenhum
código moral pode justificar a perseguição de um povo em uma tentativa de pôr
fim à perseguição de outro. O remédio para a expulsão dos judeus da Alemanha
não deve ser buscado na expulsão dos árabes de sua pátria; e também não se
conseguirá o alívio da angústia dos judeus às custas da angústia de um povo
inocente e pacífico.15
Seria difícil formular o protesto em termos mais claros e
moralmente firmes que os de Antonius. Suas palavras datam de 1938 e são,
portanto, anteriores à guerra e aos horrores dos fornos crematórios nazistas;
precedem, em uma década inteira, a fundação do estado de Israel e a expulsão de
750.000 palestinos de suas terras. Mais de sete décadas depois de enunciadas,
elas ainda ecoam em sua atualidade e retidão ética.
III – A responsabilidade da diplomacia brasileira no Nakba:
Oswaldo Aranha
Antes de transferir a questão da Palestina às mãos das
Nações Unidas, em fevereiro de 1947, os ingleses apresentaram a proposta de um
estado binacional, rejeitada pelos sionistas. Na mitologia oficial israelense,
é frequente a referência à rejeição árabe do plano de partição apresentado pela
ONU em 1947, mas é muito menos comum qualquer menção à rejeição sionista do
plano inglês de um estado binacional. Já antes da transferência da questão à
ONU, a liderança sionista tinha bastante claro que a Grã-Bretanha saía da
Segunda Guerra Mundial como uma potência de segunda ordem, muito mais
interessada, portanto, em abandonar o imbróglio da Palestina que em ajudar a
resolvê-lo. Também já estava claro para os sionistas que só restavam os
britânicos entre eles e a execução do plano de limpeza étnica, e que a saída
britânica da região era iminente. O imperialismo ocidental mais uma vez largava
um desastre de sua criação nas mãos de uma população nativa não equipada para
resolvê-lo. Qualquer semelhança com o Iraque atual não é mera coincidência.
O Brasil também tem sua responsabilidade histórica no
arranjo que produz a catástrofe palestina. Foi Oswaldo Aranha, diplomata
brasileiro, quem presidiu as discussões que levariam à fundação do estado de
Israel. Até mesmo a hagiográfica biografia de Aranha escrita pelo
norte-americano Stanley Hilton dá alguma ideia do que foram as manobras do
diplomata brasileiro. Convocado pelo general Dutra em 1947, Aranha seria o
representante brasileiro no Conselho de Segurança da recém fundada Organização
das Nações Unidas. Depois, seria eleito presidente da sessão especial da
Assembleia Geral encarregada de discutir o problema da Palestina. Aranha
prometeria aos representantes árabes “plena liberdade de discussão” do tema,
logo depois que a Assembleia rejeitara uma proposta árabe para que se incluísse
na agenda a questão da independência da Palestina. Não foi o que aconteceu.
Ante a observação do Grã Mufti de Jerusalém, de que “os judeus queriam se
apoderar da Palestina para sua maior expansão na região”, Aranha retrucou que
“a opinião do Mufti não me interessa”16. A recomendação do comitê enviado à
Palestina foi favorável ao ponto de vista sionista, ou seja, a partilha, por
uma maioria de sete votos (num total de onze). Mas na Asssembleia Geral, vinte
países se abstiveram e a recomendação não teve os dois terços necessários.
Hilton relata que os últimos dias de novembro foram de crescente tensão, e que
apesar das declarações públicas de Aranha, de que não exerceria nenhuma
influência, sua atuação nos bastidores era fortemente alinhada com os
sionistas, fato reconhecido por Abba Eban, membro da equipe negociadora da
Agência Judaica na ONU17.
Quando a liderança sionista percebe que ainda não detinha a
maioria, inicia uma manobra pelo adiamento da votação. Aranha “inteirado da
situação, usou de sua autoridade para ajudar: quando terminaram alguns
discursos protelatórios encomendados, anunciou ‘com irreverência’ que, sendo
período de férias nos Estados Unidos, seria justo que a Assembleia o
respeitasse e suspendeu a sessão”18. Quando se reabriram os trabalhos, no dia
29 de novembro, eram os árabes que sentiam que haviam perdido terreno. Tentaram
adiar o voto. Aranha ignorou uma moção do Irã, que pedia um reexame da questão
palestina e um adiamento dos trabalhos para janeiro de 1948. Aranha, que tinha
“a mão mais rápida no martelo que já vi”, segundo a expressão de Abba Eban,
procedeu a conduzir a votação, que aprovou a partição da Palestina por 33 votos
a favor, 13 contra e 10 abstenções. Note-se aí, claro, a limitada
representatividade da ONU naquele momento anterior à descolonização na África e
Ásia. Os árabes, num padrão que se repetiria ao longo do anos, deixaram o
espaço livre para os sionistas ao se retirarem do recinto. Chaim Weizmann, que
seria o primeiro presidente de Israel, testemunhou a Aranha que “a sessão da
Assembleia não poderia ter terminado com esta decisão histórica [...] se não
fosse vosso esforço persistente e vossa devoção como presidente”19.
Em 29 de novembro de 1947, quando a ONU adotou a resolução
de partição da Palestina, os árabes representavam dois terços da população da
região. Eles eram aproximadamente 90% no início do Mandato Britânico, em 1922. A partição proposta
pelo Comitê Especial das Nações Unidas para a Palestina (UNSCOP, pela sigla em
inglês) concedia ao terço judeu nada menos que 56% do território, deixando aos
dois terços árabes somente 44% da terra. Por pressões do Vaticano e das nações
católicas, a resolução da partição reservava à cidade de Jerusalém (de
população de 200.000 pessoas, divididas mais ou menos igualmente entre árabes e
judeus) a condição de área internacionalmente governada. A divisão demográfica
dos dois putativos países era bizarra: no estado árabe, deveriam viver 818.000
palestinos, hospedando 10.000 judeus. No estado judeu, viveriam 438.000
palestinos entre 499.000 judeus. Esse estado detinha a esmagadora maioria das
terra férteis e, das 1.200 aldeias palestinas, aproximadamente 400 estavam
incluídas em seu interior, sob soberania sionista20. Elaborada pelo UNSCOP,
cujos membros não sabiam muito sobre a Palestina, a partição se transformaria
na Resolução 181 da ONU. Não é de se estranhar que a liderança palestina do
momento a rejeitasse. Com o boicote palestino ao UNSCOP, com certeza um erro
político grave, a liderança sionista, de ampla superioridade bélica, se viu
livre para dominar também o jogo diplomático.
A amarga ironia da história, quando a vemos do ponto de
vista árabe, é que, como já argumentou a própria historiografia israelense
(Simcha Flapan, por exemplo), se os palestinos tivessem aceitado a partição, a
liderança sionista com certeza a teria rejeitado21. Basta examinar as
comunicações entre Ben-Gurion e a hierarquia sionista para ver como a rejeição
árabe ao plano de partição permitiu ao sionismo aceitá-lo publicamente e ao
mesmo tempo trabalhar contra ele. Logo depois da adoção da Resolução 181, Ben-Gurion
afirmava ao círculo da liderança sionista que a rejeição árabe ao plano
significava que “não há fronteiras territoriais para o futuro estado judeu” e
que as fronteiras “serão determinadas pela força e não pela resolução de
partição” (p.37). Respondendo a um líder sionista e ministro do exterior (Moshe
Sharett) acerca das possibilidades de defender o seu território, Ben-Gurion
afirmava: “seremos capazes não só de nos defendermos, mas de infligir golpes
letais aos sírios em seu próprio país—e tomar a Palestina como um todo” (p.46).
Essas comunicações, disponíveis para consulta nos próprios arquivos
israelenses, demonstram claramente que a liderança sionista viu o plano de
partição como uma conquista tática, que colocava em definitivo sobre a mesa a legitimidade
de um estado judeu na Palestina e estabelecia um trampolim para conquistas
posteriores. Essas conquistas, é certo, foram facilitadas pelo perplexo boicote
palestino ao Comitê da ONU. Reitere-se, então, que as citações de Ben-Gurion
acima são parte de uma ampla documentação que prova que a liderança sionista
jogou um jogo duplo e não se comprometeu com a partição como fórmula
definitiva. Isso jamais é mencionado pelos apologistas da ocupação de Israel
que repetem a consigna de que “os judeus aceitaram a partição de 1947 e os
árabes a rejeitaram” como justificativa dos crimes cometidos por Israel em
2010, e bem além dos limites dessa partição.
Antes de descrever a expulsão dos palestinos de suas terras,
mais um elemento do xadrez político legado pelo Mandato Britânico deve ser
explicado: o acordo sionista-jordaniano que deixa os palestinos sem o apoio do
principal exército árabe na Guerra de 1948 e à mercê do superior poder bélico
sionista. Aliada dos ingleses na Primeira Guerra Mundial, a família real
Hashemita havia recebido os reinos da Jordânia e do Iraque como recompensa por
seus serviços. O que passou a ser conhecido como Transjordânia “era um pouco
mais que um principado desértico e árido ao leste do Rio Jordão, cheio de
tribos beduínas e aldeias circassianas” (p.43). As férteis terras da Palestina
situadas a oeste do Rio Jordão, no que hoje é conhecido como Cisjordânia (ou
seja, o grosso do território do que é, legalmente, a Palestina atual), passaram
a ser objeto da cobiça da família real Hashemita. Havia poucos judeus ali, e
entre 1946 e 1947 a
realeza jordaniana e a liderança sionista chegaram um acordo: os jordanianos
não interfeririam na guerra árabe-israelense que se avizinhava—promessa que os
jordanianos cumpriram—e a região da Cisjordânia seria anexada pelo reino dos
Hashemitas, sem interferência sionista—promessa que os israelenses quebraram em
1967, ao ocupar o território e mantê-lo sob seu controle, picotagem policial e
colonização armada até hoje. Também ali se instalaria um paradigma repetido
incontáveis vezes desde 1948. Acuados pelo poder superior dos sionistas, as
elites árabes vizinhas rifavam os palestinos, deixando-os entregues à própria
sorte num jogo no qual não tinham nenhuma chance. É mais um elemento da
tragédia do Oriente Médio.
Revisando os diários de Ben-Gurion e os arquivos israelenses
posteriores à partição, o historiador Ilan Pappe encontra certa surpresa e
júbilo entre a liderança sionista com o caráter limitado da reação palestina ao
recorte de suas terras. Seguindo-se à Resolução 181, os palestinos se limitam a
convocar uma greve geral de três dias, durante a qual a repressão inglesa foi
duríssima. As revoltas árabes que aconteceram entre 1936 e 1939 deram também à
organização paramilitar judia Hagana sua primeira experiência na execução das
táticas militares aprendidas com a Grã-Bretanha. A destruição da liderança
política palestina seria decisiva para o rumo posterior dos acontecimentos. O
quadro que precede a guerra de 1948 é de intenso armamento sionista, coincidindo
com um momento de particular fragilidade da liderança palestina, destroçada
pela repressão britânica à revolta de 1936-39. No jogo diplomático, começa a
pesar a consciência culpada da Europa, em choque com as dimensões gigantescas
do Holocausto judeu, recém perpetrado. Quebrar as promessas feitas aos árabes
era preço relativamente pequeno para expiar, às custas de outrem, a culpa
européia pelo judeocídio. No xadrez político da região, o acordo
sionista-jordaniano neutralizava o principal exército árabe. Em pânico com os
constantes ataques dos grupos paramilitares judeus (Hagana, Irgun e Stern), a
população autóctona, já em 1947, começa a perceber o poderio sionista como uma
força imbatível. Estava aberto o caminho para a limpeza étnica da Palestina.
IV – A preparação da expulsão
Toda sorte de distorções e mitos já foram circulados sobre o
que aconteceu na Palestina entre o final de 1947 e o começo de 1949. Na
mitologia oficial israelense, no senso comum, no jornalismo mais venal ou
preguiçoso, nas Wikipédias e até mesmo em livros embalados como se fossem de
pesquisa historiográfica séria, essas distorções foram sedimentando uma coleção
de narrativas que recorrem a falsificações não raro contraditórias entre si: 1)
que o povo palestino como tal não existia; 2) que ele existia mas que saiu
voluntariamente de suas terras em 1948; 3) que não saiu voluntariamente, mas
que tampouco foi vítima do sionismo, pois abandonou suas aldeias atendendo a
ordens radiofônicas dos próprios árabes; 4) no ramo da pseudo-historiografia
sem-vergonha, paga para mentir, já apareceram até livros sobre como os
palestinos não eram tão antigos assim na região, já que eles teriam chegado
também em imigração recente. Essas diferentes versões da mitologia oficial vão
se sucedendo ou se combinando, a gosto do freguês, formando uma geleia geral de
enganação empacotada. Acompanham-na algumas frases que, até corretas em si
mesmas, omitem um universo de contexto que lhes transforma o sentido, como é o
caso de “os sionistas aceitaram a partição proposta pela ONU, os árabes, não”,
analisado acima, e “a guerra de 1948 foi iniciada pelos palestinos”, mantra que
é essencial em todo mascaramento do processo.
Como se sabe agora, a liderança militar sionista ficou
surpresa com o caráter limitado dos protestos palestinos que se seguiram ao
decreto da partição, em novembro de 1947. Afinal de contas, seu território
havia sido rachado com uma comunidade minoritária de colonos, que receberam não
só um naco de 56% do território, desproporcional à sua representação na
população, mas um naco que continha pelo menos 400 aldeias palestinas, nas
quais 800.000 palestinos deviam seguir vivendo sob soberania imposta e recém chegada.
Ao longo dos dias que se seguem à partição, o comando sionista se reúne para
encontrar formas de ataque possíveis, ante a ausência de pretextos. Os arquivos
estudados por Ilan Pappe, das reuniões a liderança judaica na Palestina, dão
amplo testemunho do planejamento da limpeza étnica. Os fazendeiros dos
Kibbutzim transformavam suas cooperativas em postos militares, enquanto nas
aldeias palestinas a vida seguia seu curso, no qual a “normalidade era a regra
e a agitação a exceção”, segundo os informes do próprio Palti Sela, membro de
uma unidade de inteligência sionista. Ao longo do mês de dezembro de 1947,
anterior à guerra propriamente dita, as aldeias palestinas sofrem uma campanha
de terror e intimidação das organizações paramilitares judias que representam o
primeiro capítulo da limpeza étnica da Palestina.
A linguagem da ameaça foi prática comum naquele momento,
como mostra o exemplo citado por Ilan Pappe, de panfletos lançados às aldeias
sírias e libanesas na fronteira palestina: “Se a guerra for levada até você,
ela causará expulsão massiva de aldeões, com suas mulheres e crianças … haverá
matança sem piedade, sem compaixão” (p.56). Lembremos que nesse momento o
sionismo já possui um mapa completo das aldeias palestinas, incluindo-se
informação sobre água, possíveis defesas e indivíduos vinculados à resistência
árabe durante os protestos de 1936-39. Esse mapeamento seria chave na
destruição das centenas de aldeias palestinas e na expulsão de centenas de
milhares de habitantes autóctonos da região No mês de dezembro se disseminam as
ações que a Hagana chamava de “reconhecimento violento” (hassiyur ha-alim):
invadir uma aldeia à noite, instaurar toque de queda, atirar em qualquer um que
ouse sair de casa, permanecer durante algumas horas e ir embora. A aldeia de
Deir Ayyub foi uma das vítimas de dezembro de 1947. Com aproximadamente 500
habitantes, ela acabava de comemorar a abertura de uma escola. Foi invadida por
tropas judaicas que passaram a atirar indiscriminadamente nas casas. Deir Ayyub
ainda seria atacada três vezes antes de ser destruída em sua totalidade em
abril de 1948 (p.56). No nordeste da Galileia, na aldeia de Khisas, algumas
centenas de muçulmanos coexistiam pacificamente há tempos com uma centena de
cristãos. Até que no dia 18 de dezembro de 1947, tropas judaicas a invadiram e
passaram a explodir casas durante a noite, provocando a morte de quinze
aldeões, pelo menos cinco crianças. Ações como estas proliferaram ao longo de
dezembro de 1947, e não costumam ser mencionadas pelos que justificam as
atrocidades de Israel com o argumento de que “os palestinos iniciaram a guerra”
em janeiro de 1948.
As ações de expulsão da população anteriores à declaração
formal de guerra em janeiro de 1948 não se limitaram às aldeias pequenas. Na
cidade de Haifa, principal porto da Palestina, 75.000 palestinos “foram
submetidos a uma campanha de terror instigada conjuntamente pelo Irgun e pela
Hagana. Como haviam chegado em décadas recentes, os colonos judaicos
construíram suas casas no alto das montanhas. Viviam topograficamente acima dos
bairros árabes e podiam disparar e lançar morteiros contra elas. Começaram a
fazê-lo com frequência a partir do começo de dezembro. Usaram também outros
métodos de intimidação: as tropas judaicas rolavam barris cheios de explosivos,
e enormes bolas de aço, na direção das áreas residenciais árabes, lançavam óleo
misturado com combustível nas estradas, que aí incendiavam. Os residentes
palestinos, aterrorizados, corriam para fora de suas casas para tentar apagar o
fogo, e aí passavam a ser alvo de rajadas de metralhadora” (p.58). A descrição
documentada do que aconteceu em Haifa em dezembro de 1947 é importante porque a
cidade é, com frequência, mencionada como exemplo de que as lideranças judaicas
insistiram para que os palestinos ficassem e eles saíram “voluntariamente”.
V – Epílogo e promessa
Não está contada aqui, evidentemente, nada da história do
Nakba propriamente dito. Para se entender a monstruosidade a que foi submetida
o povo palestino, há que se conhecer os quatro planos de limpeza étnica da
Palestina elaborados pela liderança sionista desde antes da II Guerra Mundial.
O Plano A, também conhecido como “Plano Elimelech”, toma seu nome do líder do
comandante da Hagana que, em 1937, já
elaborara, a pedido de Ben-Gurion, um projeto de limpeza étnica a ser executado
no momento em que os ingleses abandonassem a Palestina. O Plano B foi escrito
em 1946 e ambos depois se fundiram no Plano C, que previa: a) assassinatos
seletivos da liderança política palestina; b) destruição da infraestrutura de
transporte palestina; c) sabotagem específica às fontes de sustento da
população nativa, como os moinhos; d) ataques escalonados às aldeias; e)
bombardeios de ônibus, cafés, locais de reunião. O fundamental desse plano é
mantido no projeto que é efetivamente executado, o Plano D (Dalet), anterior à
guerra de 1948, e que previa a sistemática expulsão do povo palestino de suas
terras.
O Plano Dalet já é consenso entre a liderança sionista em
Dezembro de 1947, antes da oficialização da guerra. Ao cabo do processo de
limpeza étnica, espantosamente curto e brutal, mais da metade da população
palestina nativa (pelo menos 750.000 pessoas) foi expulsa, 531 aldeias foram
destruídas e onze bairros urbanos foram esvaziados de sua população, um crime
contra a humanidade de enormes proporções, ainda hoje negado e envolvido em falsificação. Hoje,
os refugiados e seus descendentes vivem esparramados por, em números
aproximados, Jordânia (2 milhões), Líbano (430.000), Síria (480.000), além de
800.000 que são parte da população
palestina que mora sob ocupação militar israelense na Cisjordânia (2,3 milhões)
e outro 1,1 milhão que vive sob bloqueio (e frequente bombardeio) militar
israelense em Gaza.
Outros 1,2 milhão de palestinos vivem como cidadãos de
segunda classe em Israel. O
melhor guia do Nakba é o livro de Ilan Pappé, The Ethnic Cleansing of
Palestine, infelizmente ainda inédito em português. Pretendo
publicar num futuro próximo, aqui pela Editora Publisher, um breve livro que
contará um pouco dessa história. Se você
lê inglês e se interessa pelo acompanhamento diário do horror, sugiro o site
Electronic Intifada.
por Idelber Avelar
por Idelber Avelar
Tirei daqui
Referências fotográficas: aqui e aqui.
Referências bibliográficas: otoRe.N
Referências fotográficas: aqui e aqui.
Referências bibliográficas: otoRe.N
1 Aragão, Maria José. Israel x Palestina: Origens, História e Atualidade do Conflito (Rio de Janeiro: Revan, 2006), p. 23-4.
2 Aragão, p. 32.
3 Aragão, p. 33.
4 Heynick, Frank. Jews and medicine, An Epic Saga, KTAV Publishing House, Inc., 2002 p.103.
5 McCarthy, Justin. The Population of Palestine. (Nova York: Columbia UP, 1990), p. 37-8.
5 McCarthy, Justin. The Population of Palestine. (Nova York: Columbia UP, 1990), p. 37-8.
6 Khalidi, Walid. “Why did the Palestinians leave?” Journal of Palestine Studies 34.2 (2005): 42-54. Ver também Benny Morris, The Birth of the Palestinian Refugee Problem Revisited (Cambridge: Cambridge UP, 2004).
7 Fisk, Robert. A grande guerra pelo Oriente Médio. Trad. Sandra Dolinsky (São Paulo: Planeta, 2007), p. 432.
8 Pappé, Illan. The Ethnic Cleansing of Palestine (Oxford: OneWorld, 2006), p. 283.
9 Pappe, p. 11.
10 Pappe, p. 14.
11 Pappe, p.14.
12 Pappe, p. 283.
13 Pappe, p.12.
14 Fisk, p.511.
15 Antonius, George. Arab Awakening: The Story of the Arab National Movement (Londres: International Book Center, 1938), p. 387.
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