segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sobre o programa de rock

O programa de rock foi ao ar pela primeira vez no dia 30 de março de 2007, e disse a que veio já em sua primeira edição, com uma programação eclética e sem preconceitos, indo de clássicos do rock (a primeira faixa executada foi “All right now”, do Free) à musica extrema e experimental do underground brasileiro (Discarga Violenta, de Natal-RN). Foi fruto de uma mudança de postura na direção da radio publica do estado de Sergipe, motivada pela posse de um novo governo. Fomos convidados, eu e Fabinho, da banda snooze, a fazer um “programa de rock”, e foi o que fizemos (como devem ter notado, não foi muito difícil escolher o nome). O objetivo era (e é) bem simples: colocar o rock no ar, fugindo ao máximo do óbvio e dando espaço para a música autoral e independente de Sergipe, do Brasil e do mundo, mesmo sem ignorar possíveis hits ou clássicos que considerássemos indispensáveis. Com isso, dar um respiro nesse mar de mediocridade em que se transformou o radio brasileiro, tomado pelo que de pior possa existir em termos de pastiche musical.
É certo que nem tudo é lixo no dial sergipano – há ainda, além da Aperipê FM, alguns lampejos de diversidade em meio à selva mercadológica emburrecedora. Recentemente entrou em operação a Radio Universitária, mantida pela Universidade Federal de Sergipe, e a Liberdade FM, mesmo tendo sido comprada pelo “gênio do mal(gosto)” Gilton Andrade, o dono da “Calcinha Preta”, manteve sua linha de programação (baseada na MPB) relativamente intacta. A radio mantêm, inclusive, um programa de cerca de 3 horas de duração, às sextas, dedicado ao rock, o “Rota 99”. Há também o “105 Puro rock”, na Anchieta FM, radio comunitária do Conjunto Augusto Franco. O programa de rock veio para se somar a eles, com um diferencial: é bem mais eclético e dialoga melhor com a cena, já que o primeiro vai ao ar por uma radio comercial e por isso não pode ousar tanto quanto o nosso, e o segundo está um tanto quanto preso a uma linha quase que totalmente voltada para o metal. A lamentar o fato de que a freqüência que já pertenceu à melhor (ou menos ruim) “radio jovem” da cidade, a Atalaia FM, esteja hoje ocupada pela horripilante e assumidamente jabazeira Jovem Pam. Pela Atalaia FM foram ao ar, em tempos bem diferentes, os dois únicos programas especializados em rock de que tenho notícia no rádio aracajuano, o “Playground”, comandado por Patrick Tor4, Rafael Jr. e Bruno Aragão no comecinho dos anos 2000, e o “Rock Revolution”, na longínqua década de 80. Através do “Rock Revolution”, que era produzido por Antonio Passos e Roberto Aquino, também proprietários da pioneira Distúrbios sonoros, única loja especializada da época, eu, que era um adolescente espinhento começando a ouvir rock em Itabaiana (as ondas da Atalaia chegavam lá em alto e bom som) via Iron Maiden, AC/DC, Metallica e afins, fiquei conhecendo muita coisa que tinha ouvido falar apenas de nome, através da Revista Bizz, como Mutantes (ainda não redescobertos), Fellini, Voluntários da Pátria, Akira S., Casa das Máquinas, e bandas daqui mesmo de Aracaju, coisa que eu nem sonhava que existia, como o Alice e o Crove Horrorshow. Me influenciou muito – por muito tempo eu guardei as fitas k7 em que gravava o programa para ouvir de novo. Uma pena que este material tenha se perdido …
Eu mesmo já havia tido algumas experiências com radio antes do programa de rock. Nos anos 90 meu amigo (infelizmente já falecido) Ademir Pinto me convidou para ser um dos produtores de um programa que ele havia criado para a Itabaiana FM, da qual era operador. Chamava-se “Guilhotina” e era semanal, ia ao ar aos sábados por volta das 8:15 da noite e eu, que já morava em Aracaju, colaborava despencando de 15 em 15 dias de carro para a “capital do agreste” com o porta-malas do carro cheio de vinis, CDs e fitas k-7. Nos outros dias o próprio Ademir ou outros convidados de lá mesmo da cidade produziam. Foi divertido – não esqueço de uma edição em que tocamos só grindcore, em represália ao fato de que o programa poderia ser (e era) interrompido a qualquer momento para transmitir a inauguração de um poço artesiano num povoado qualquer com a presença do excelentíssimo Sr. Vice-governador de então, não por acaso também proprietário da rádio. Ou do dia em que tocamos o primeiro do Raimundos na íntegra, ainda antes da banda estourar, ou quando toquei a inacreditável “canção de amor” da também brasiliense “Os Cabeloduro”, provavelmente a música com a letra mais pornográfica já feita. Ademir queria mesmo ser demitido e nos dava carta branca, e a gente realmente “escaldou”, testou os limites, mas não adiantou nada, a única coisa que o dono da radio falou uma vez, segundo ele, foi que sentia falta de Raul Seixas, ou seja: mandou apenas um tradicional “toca Raul”.
Minha outra experiência foi com o “Frequencia Underground”, que ia ao ar pela Carcará FM, radio comunitária do Bairro América, já em Aracaju. Era produzido por mim e por Marcelo Gaspar, ex-guitarrista da Karne Krua. Durava 3 horas de relógio e nele nós também tínhamos liberdade total. Dessa época me vêm a memória nossas incursões ao “Drink no Inferno”, como foi batizada pelos caras do Jason a boate de streap tease que havia na coroa do meio e para a qual nos dirigíamos depois do programa (ambos solteiros e sem nada pra fazer num sábado á noite, dá nisso), e uma noite em que tivemos que trabalhar mascarados, com a camiseta amarrada ao rosto tapando o nariz, para tentar suportar o fedor causado pelo rastro de alguém que pisou em merda e entrou nos estúdios acarpetados.
Ao longo desses três anos de programa de rock, acompanhamos e ajudamos no crescimento da cena independente local, divulgando shows e eventos através da “Agenda rock” e de entrevistas (muitas delas seguidas de um pocket show executado ao vivo no estúdio) com bandas de fora do estado de passagem por aqui, como ENNE (MG), Silent Cry (MG), Velho de Câncer (RS), Uzômi (RJ), Gangrena Gasosa (RJ – na figura de seu fundador e vocalista Roanldo Chorão, que estava na cidade de férias), Lamashta (AL), Pelvs (RJ, representado pelo guitarrista Clínio Jr.) e Mahatma Gangue (RN). Também entrevistamos, sempre ao vivo, representantes de praticamente todos os setores envolvidos no cenário local, como produtores (os produtores do Rock Sertão, Estranho do “Eu sou do rock”, Dani e Ivo, Roberto Nunes do Cine Cult, Fabio Andrade da Terrozone, Edcarlos da Rock Vivo, Débora e Evandro do Game Anime Expo, Thiago Porto do Kaos Fest), artistas solo (Werden, Vicente “Coda”, Sabrina Porto), editores de fanzines (Adolfo Sá, Rafael Jr, Cícero “Mago”, Nininho, Fabio) e membros de bandas como Cessar Fogo, Plástico Lunar, The Baggios, Karne Krua, Máquina Blues, Urublues, Scarle Peace, Warlord, Sign of Hate, In The Shadows, Crove Horrorshow, Vá Pra Porra, Náutilus, Daysleepers, Elisa, Rockassetes, Perdeu a Língua, Inrisório, Glorybox, Mamutes, Os Trouxas, Tchandala, Rotten Horror, Baka Sentai, Oni, Aliquid, The Jezebels, One Last Sunset, Impact e The Renegades of punk, dentre outros. O programa tem também dois quadros fixos, o “Drop Loaded”, produzido pelo pessoal do Loaded E-Zine ( www.loaded-e-zine.net ), de São Paulo, que sempre traz o melhor do cenário independente nacional, e o “Bloco do ouvinte”, do qual qualquer um pode participar, bastando apenas nos enviar, via e-mail ( programaderock@hotmail.com ) ou programas de compartilhamento tipo rapidshare, megaupload, media fire ou 4loaded, um bloco que, caso aprovado, irá ao ar, com os devidos créditos (até agora nenhum foi recusado). Em 2008, fomos indicados ao Premio Dynamite na categoria “Melhor programa de radio”, e convidados pela direção da Fundação Aperipê para que fizéssemos uma versão para a TV. Um piloto foi produzido, mas nunca foi ao ar. Pode ser visto pelo Youtube. Fomos também os primeiros a fazer uma série de edições especiais totalmente dedicadas ao rock sergipano, hoje integradas ao projeto “Sergipanidade”, que vai ao ar uma vez por mês e no qual toda a rádio, por um dia inteiro, toca apenas música sergipana. Atualmente o programa é produzido e apresentado apenas por mim, Adelvan, e continuará indo ao ar toda sexta feira às 20:00, horário de Brasília, em Aracaju, pela freqüência 104,9 FM, podendo também ser ouvido ao vivo via internet através do site da Fundação Aperipê.
Acesse aqui o Blog “oficial” do programa de rock.
Obrigado pela audiência.
por Adelvan

O que rolou na última edição do programa de rock:

Fantômas – Cape Fear
Sonic Youth – What a waste
Iggy & The Stooges – Gimme danger
Nine Inch Nails – Hurt (quiet)
The Flaming Lips – Borderline
The Honkers – 12 Hours
The Honkers – 24 Hours from your heart
(Drop Loaded)
(Bloco produzido por Leonardo Bandeira):
Grave Digger – paid in blood
Halford – undisputed
Virgin Steele – pagan heart
The Fall – Choc-stock
That Patrol Emotion – Candy Loves Sattelite
New Model Army – Poison street
Violent Femmes – Blister in the sun
Portishead – silence
Spiritualized – soul on fire
Scarlett Johansson – Song for Jo
Sigur Ros – All Allright
VA/The Who – “Quadrophenia” soundtrack -
# The High Numbers – I´m the face
# The Ronettes – Be my baby
# The High Numbers – Zoot suit
# The Chiffons – He´s so fine
# The Who -
* The Real me
* Love Reign O’Er Me
* I Am the sea

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