segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Hammer Film production

Sem essa de assistir filmes no computador em tela pequena e com imagem de baixa qualidade ou, suprema heresia, no celular ! O melhor lugar para se ver filmes AINDA é o cinema, apesar dos (muitos) pesares, especialmente a falta de educação do público em geral. Pois bem: fui ver ontem, NO CINEMA, “Deixe-me entrar”, a versão americana para um dos melhores filmes sobre vampiros dos últimos tempos, o sueco “Deixe ela entrar” (Låt den Rätte Komma In). Eu sei, é de uma imbecilidade sem tamanho essa idéia dos americanos de que eles têm que fazer versões próprias de filmes estrangeiros de sucesso, porque os retardados de lá não gostam de ler legendas (até aí, nenhuma novidade, já que os retardados de cá também estão criando uma demanda cada vez maior por filmes dublados nos multiplexes, o que é horrível). Mas de vez em quando eu abro uma excessão, por um motivo ou outro. Neste caso a principal motivação foi a presença de Chloe Moretz, de quem eu virei fã desde sua excelente atuação em “Kick Ass”, no papel principal, o da vampira adolescente. Além disso, o diretor é Matt Reeves, o mesmo de Cloverfield (Monstro), do qual eu gostei bastante, e as críticas que li foram bastante positivas.

Não me decepcionei. Poderia ter sido melhor se o diretor tivesse feito um esforcinho a mais para se diferenciar do original (é praticamente uma cópia Xerox), mas mesmo assim o resultado final foi satisfatório. Replica praticamente tudo, inclusive o cenário, apesar da versão ser ambientada, como não poderia deixar de ser, nos Estados Unidos, mais precisamente no Novo México. Nunca um inocente parque de diversões soterrado pela neve no playground de um condomínio de classe media baixa foi retratado de forma tão sombria – porque seu único frequentador, pelo menos à noite, é o solitário garoto Owen. Ele está, no entanto, prestes a encontrar companhia: Abby, uma garota igualmente estranha com cheiro esquisito, acaba de se mudar para a vizinhança e também quer freqüentar o parquinho em horários pouco convencionais. Os dois acabam desenvolvendo uma bela relação de amizade que logo evolui para um namoro, apesar da garota afirmar que ela não é, na verdade, uma garota. “O que você é, então?”, questiona Owen. “Não sou nada”, ela responde.

Ela é, na verdade, um ser atormentado por instintos primários, manifestos principalmente em uma sede de sangue difícil de controlar e num instinto predador aguçado, acompanhado de força e habilidades fora do comum. Sim, Abby é uma vampira, o que fica explícito em um diálogo do filme (não deveria). Seus ataques são impressionantes. Com movimentos um tanto quanto inverossímeis, é verdade, mas até aí nada demais, já que vampiros são, por si só, seres fantasiosos. As cenas de ação, aliás, são muito boas, especialmente a do acidente de carro, que não consta do original, e a da piscina, igualmente perfeita. São intercaladas por climas melancólicos e sombrios pontuados pela delicada e onipresente (até demais, chega a enjoar) trilha sonora, baseada no piano. Excelente, especialmente para quem não viu a versão original. No cinema, já era: passou praticamente despercebido pelas telas, infelizmente, e já saiu de cartaz em Aracaju.

Mas o que mais me surpreendeu foi a constatação de que se trata de um filme da Hammer, a legendária produtora inglesa de fitas de horror! Não sabia. Faz muito tempo que eles não produzem nada. A Hammer foi fundada em 1934, mas teve seu auge criativo e comercial entre os anos de 1955 e 1979 quando, em associação com a Warner Bros., que atuou na distribuição mundial de alguns de seus sucessos, apostou nos filmes de terror, especialmente o horror gótico povoado de personagens clássicos, como Drácula, Frankestein e o Lobisomem. Tudo começou com o sucesso da versão de Terence Fischer para a obra imortal de Mary Shelley em The Curse of Frankenstein, de 1956. Dois anos depois, o mesmo Fischer dirigiria o clássico “Dracula”, estrelado por Christopher Lee no papel do vampiro e por Peter Cushing como seu antagonista, o Dr. Van Helsing. Foi um sucesso estrondoso, o que gerou um sem número de continuações, algumas quase tão boas quanto o original, como The Brides of Dracula (1960), Dracula: Prince of Darkness (1966) e Scars of Dracula (1970). O filão comercial foi explorado até o fim com Dracula Has Risen from the Grave (1968), Taste the Blood of Dracula (1970), Dracula AD 1972 (1972), The Satanic Rites of Dracula (1973) e The Legend of the Seven Golden Vampires, quase todos estrelados por Christopher Lee, que não se sentia muito a vontade no papel. Ele não participou da sequencia direta do filme de 1958, “The Brides of Drácula”, e no primeiro, para que se tenha uma idéia, fez um príncipe das trevas praticamente mudo, sem quase nenhuma fala, porque se recusava a proferir os diálogos, a seu ver muito ruins.

Os filmes da Hammer eram “trash” e “camp”, mas também eram, inegavelmente, charmosos. Exploravam sem pudor os corpos de suas atrizes, sempre metidas em generosos decotes, e caprichavam nos cenários e na dramaticidade de algumas cenas. São inesquecíveis os castelos góticos em meio a florestas envolvidas em brumas e algumas cenas de morte do vampiro, como aquela em que ele é atingido por um raio ou outra na qual Van Helsing salta sobre as cortinas para deixar entrar a luz do dia, fatal para os mortos-vivos. Antológico. Lembro que quando eu era criança, ainda nos anos 70, pedia para que meus irmãos me acordassem no meio da noite para assistir às sessões que a televisão exibia, geralmente de madrugada. Ficava absolutamente fascinado.

A Hammer produziu ainda uma série sobre vampirismo feminino, repleta de apelo erótico e baseada na personagem Carmilla Karstein, de Sheridan Le Fanu: The Vampire Lovers (1970), Lust for a Vampire (1970) e Twins of Evil (1971). Com o monstro de Frankenstein produziram The Curse of Frankenstein (1957), The Revenge of Frankenstein (1958), The Evil of Frankenstein (1964), Frankenstein Created Woman (1967), Frankenstein Must Be Destroyed (1969), The Horror of Frankenstein (1970) e Frankenstein and the Monster from Hell (1973). Outros filmes importantes: The Mummy (1959), The Hound of the Baskervilles (1959), The Two Faces of Doctor Jekyll (1960), The Phantom of The Opera (1962) e The Devil Rides Out (1967).

Em meados dos anos 70 a produtora entrou em decadência, dedicando-se basicamente a séries para a televisão nos anos 80. Mante-ve-se em estado de hibernação durante as décadas de 90 e 2000, e está voltando agora à produção cinematográfica, justamente com o filme de Matt Reeves.

por Adelvan

Clique aqui para uma lista completa de todos os filmes da Hammer
AQUI, o site oficial da produtora
+ sobre “Deixe-me entrar”:

“De certa forma, nós estabelecemos o padrão para os filmes de vampiro”, comenta o presidente da "Hammer Films", Simon Oakes. “Lá no filme ‘Drácula’ do final dos anos 50, a Hammer transformou o vampiro, interpretado por Christopher Lee, em uma figura quieta e sensual. Acho que estabelecemos o tom para aquela abordagem na tradição do vampiro e isso perdurou durante muitas décadas”, aponta. “Cada uma das histórias que são tão populares no momento, usa a lenda do vampiro de uma maneira diferente”, acentua Matt Reeves, diretor de “Deixe-Me Entrar”, versão americana de “Deixe Ela Entrar”, filme sueco baseado no romance de John Ajvide Lindqvist. “Freqüentemente eles a usam para explorar a natureza sexual das pessoas. Mas esta história pega o mesmo modelo e o usa para explorar algo totalmente diferente”, explica o cineasta.

“É uma história que deveria estar disponível para um público realmente muito mais amplo. E nós o acompanhamos desde o princípio”, lembra Oakes, que através da Hammer entrou na disputa pelo material logo que o título despontou. “Mesmo que a concorrência tenha sido dura, desenvolvemos um relacionamento com os produtores e como resultado conseguimos garantir os direitos”, comemora o CEO. “Achei que seria extremamente empolgante o remake ser feito pela Hammer por causa de seu histórico de contribuições para este gênero”, diz Reeves. “Sabia que tinha que achar um meio de me ligar a esta iniciativa. Meu pessoal adorou tanto o projeto que também queria fazer parte dele e na verdade acabaram se associando à Hammer”, confessa o autor, lembrado por sua direção no elogiado longa-metragem de J. J. Abrams, “Cloverfield - Monstro”.

“Matt leu o livro e assistiu ao filme original, e estava muito positivo sobre achar uma maneira de fazer deles sua própria película. Ele tinha uma conexão apaixonada com a história e isso valia por tudo. Ele estava determinado em manter uma lealdade ao espírito da história de Lindqvist e ao mesmo tempo expandi-la de maneira a incluir sua própria visão”, pontua Oakes. “Fiquei realmente tocado. Lindqvist e Tomas Alfredson, o diretor do longa sueco, criaram uma metáfora poderosa para o tumulto que é a adolescência”, lembra Reeves, que ainda prossegue: “Com um filme de gênero, penso que o mais emocionante é poder incluir uma idéia maior por baixo da superfície. Acho que é isso que torna este conto diferente. Não é uma fantasia comum sobre vampiros, é algo com o que espero que as pessoas possam realmente se identificar”, empolga-se.


“Você poderia cometer o erro de achar que é somente um filme de vampiro, mas na realidade é um filme sobre a alienação e o preço que estamos dispostos a pagar para sermos amados”, aponta Vicki Dee Rock, co-produtora da fita. “É um comentário sobre a humanidade”, ela continua. “O que mais me chamou a atenção, logo na primeira leitura de ‘Deixe-Me Entrar’, foi o tom incrivelmente sombrio e sinistro que Matt queria ter”, especifica o diretor de fotografia Grieg Fraser. “Envolvida por toda esta escuridão, está uma linda história de amor. Nosso desafio era criar visuais que a complementassem. Durante as filmagens, tentamos intensamente não nos sentirmos como se estivéssemos iluminando e enquadrando um filme de gênero. Em vez disso, estávamos iluminando um drama de época, com crianças no centro da história”, difere.

“Na versão sueca, os protagonistas são maravilhosos e seu relacionamento é muito poderoso. Sabia que, se não encontrássemos jovens que fossem capazes do mesmo, não poderíamos fazer este filme. Esta é, de diversas maneiras, uma história bastante adulta. As complexidades emocionais do relacionamento são bastante maduras”, credita Reeves. Kodi Smit-McPhee (de “A Estrada”) acabou sendo escalado para o papel principal do menino socialmente excluído. “Ele é filho de mãe solteira. O coitado teve uma vida muito difícil. Ele é intimidado na escola e sua mãe se preocupa, porém ela bebe demais”, analisa o próprio ator-mirim. “Quando uma nova garota se muda para seu prédio, ele a acha meio estranha, mas precisa de alguém para conversar. E depois, assim que eles se tornam amigos, ele descobre que ela é uma vampira”, detalha Smit-McPhee.

Já para viver a tal menina vampira, os produtores foram buscar Chloë Grace Moretz. “Ela tem uma qualidade incrivelmente interessante. Chloë pode ser durona, como todos que assistiram ‘Kick-Ass’ já devem saber. Ela também tem uma tremenda vulnerabilidade. Esta mistura de ser bem humana, mas também tendo um inconquistável desejo de sobreviver realmente transparece”, elogia Reeves. “Penso que alguma parte dela sabe pelo que ele está passando. Ela não pode na verdade conversar com ninguém sobre si mesma ou sua vida, porque se descobrirem quem ela realmente é, eles irão se afastar. Ele é única pessoa com a qual ela se relaciona. E ele também precisa de alguém que o ame pelo que ele é”, sintetiza Moretz. “Sem estes dois jovens, não poderíamos ter feito este filme. Quero dizer, eles são realmente notáveis”, surpreende-se o diretor.

Fonte: Paramount Pictures

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